Enquanto
todos rezavam o terço na sala rodeando o corpo da tia Teresa, meus olhos
bateram num porta chaves onde estava gravada na madeira a seguinte frase: Aqui
moram os melhores pais do mundo! Fiquei comovida, sorri pensando na vida célere
e na morte que nos separa dos que amamos. Evidente que não sabemos como se
passam exatamente as coisas lá do outro lado, sei que espiritualmente é tudo diferente
do que imagino, mas por certo será infinitamente melhor e perfeito. Caminho na
fé, mas em minha míope visão neste plano humano e por conta de minha veia de
escritora, ainda gosto de imaginar o Céu como um lugar de grandes encontros.
Lembrei-me
do carinho da tia Teresa que quando nos via chegar, logo chamava alguém para
que nos servissem café com bolachas, aquelas bolachas maravilhosas que ela
fazia. Então imaginei.
O
caso se passou mais ou menos assim: lá no Céu onde tudo é felicidade completa, para
cada nova pessoa que chega é feita uma grande festa. Todos acorrem para acolher
o mais novo habitante do reino celeste. Naquele dia Nossa Senhora atravessou a
principal alameda celestial com certa ruga de preocupação. Acompanhada dos
anjos, Sua Rainha entrou no Departamento de Pedidos e conversou com Santa
Teresinha do Menino Jesus e Santa Catarina de Labouré que naquela semana eram
as encarregadas das graças e bênçãos pedidas pelas pessoas que ainda vivem no
mundo das criaturas, presas a tantas tribulações. E disse:
-
Queridas, bom dia! Muito trabalho?
-
Bastante, querida Mãe, mas tudo sob controle, respondeu Santa Teresinha. Eu
prometi a todos que ninguém me invocaria em vão. E alguém novo chegou?
-
Não, mas vai chegar. Conversei com a Santíssima Trindade e deliberamos trazer a
Teresa do Iado. Vocês sabem que venho tentando sem sucesso aquela receita de
bolacha, aquela bolacha que ela sabe fazer tão bem. Muitas parentas e
conhecidas que já chegaram me passaram a receita. Todas sabem fazer, mas como a
Teresa ninguém.
Uma mulher que faz uma bolacha tão
divina é pessoa rara e especial. É nas pequenas coisas que se percebe a
grandeza da alma. Desde amassar a farinha até retirar as bolachas do forno, a
Teresa demonstrava o carinho pelas pessoas, sustentando os estômagos gulosos
dos filhos e sobrinhos, e sem perceber, iluminando suas almas. Ela não tinha
vaidade alguma ou qualquer ambição que não fosse a de servir. Não pensava em
viagens, a não ser ir à Aparecida do Norte uma vez por ano. Já cumpriu sua missão,
foi esposa devotada e mãe amorosa. Teve oito filhos, oito! Imagine! Isso é que
é crescer e multiplicar, como Deus Pai
aconselhou.
Então meninas, essas famílias
numerosas e bolachas maravilhosas já não se encontram mais. Pois que venha cá a
Teresa que o Iado a espera ansiosa. Casal apaixonado não pode ficar separado. Ontem
mesmo vi o Iado com o Tote e os outros irmãos. Só falta a Teresa.
Ah, ia me esquecendo, a Bolachinha
de Nata e o Suspiro que desmancha na boca eu até já acertei o ponto exato, a
Teinha me ajudou. Mas as bolachas? Não vejo a hora de amassar farinha ao lado
da Teresa.
Já
vou indo para preparar a festa de sua chegada ao Céu. Já no Portão Principal,
quero o Coral dos Anjos entoando os mais lindos cânticos celestiais. E todos
com roupa de missa de domingo de festa! Vocês duas na ala de todos os Santos.
Ela vai chegar tão feliz!