Ontem
ao voltar para casa, passei diante de uma obra que está sendo iniciada do lado
do meu prédio. Sondei para ver em que ponto está já que as dolorosas
ensurdecedoras estacas já foram colocadas. Foi quando vi um cartaz com os
dizeres: “Não estamos contratando”. Supus que evidentemente muitos operários,
pedreiros, ajudantes de pedreiros, às vezes até outros que não dominam a
profissão têm batido por lá à procura de um emprego e nada encontrando. Não
obstante estarmos sempre vendo carrões caríssimos lotando nossas ruas
estreitas, mansões que sobem todos os dias nos bairros chiques, a pobreza
grassa aqui mesmo em nossa cidade. Se quisermos conhecê-la é só dar uma volta
pelos bairros distantes e pobres. Ou mesmo no centro da cidade.
Aquela
placa “Não estamos contratando” martelou minha cabeça mais do que o barulho das
estacas que se prolongaram por quase um mês. O tal aviso sugere que muitas
pessoas devam ter passado por lá. Fiquei pensando em cada pessoa que foi até lá
procurar um emprego, pelo amor de Deus. Imaginei a decepção, a volta pra casa
sem nada nas mãos. Outro dia mesmo vi um moço vestido pobremente em frente a
uma dessas agências de emprego. Ele olhava atentamente para os anúncios, vaga
disso, vaga daquilo. Seus sapatos eram velhos, pareciam maiores do que os pés.
Eu, que vinha alegre e despreocupada da vida, imersa em meus desejos e sonhos,
em meu próprio conforto, senti um nó no estômago.
Não
estamos nesta vida por acaso. Estamos aqui para a troca, para a paz, para a
bondade, li isso numa mensagem dessas de whatsapp, estamos aqui para
facilitarmos a existência uns dos outros. Isso mesmo. Há coisas que não podemos
mudar, não podemos transformar o mundo, apenas um pouquinho de nossa casa, da
nossa família, da nossa calçada. Minha avó nunca teve uma casa, sempre morou em
casas alugadas. Contudo, nunca saiu de nenhuma delas sem ter transformado o
quintal em um lindo jardim. Não importava que a casa não fosse sua. Na verdade,
não somos donos de nada. Mas somos ricos para dar amor. Proust dizia que amor é
o que se dá, não o que se recebe.