Hoje, sexta feita, dia 3 de maio de
2019. Um dia do futuro. Saí cedo de casa já com minha agenda na cabeça. Bem,
primeiro vou ao banco, transferências, pagamentos inadiáveis, sacar alguma grana.
Depois academia, saco! Odeio! Se alguém inventar algo que apresente resultados
ótimos apenas em cinco minutos me fale que vou atrás. No banco ainda vazio pelo
horário já achei uma máquina desocupada, que ótimo. Vamos, introduzo o cartão e
lá vem uma mensagem: erro na identificação do cartão. Começo de novo: erro na
identificação do cartão. Massageio o cartão na roupa para ver se resolve.
Beleza! Primeiro vou de transferência para outro banco, vou cumprindo todos os
passos, acabo. Vamos à fase da digital: erro na biometria, tento de novo, erro
na biometria. A máquina volta ao ponto inicial, tudo de novo, erro na
identificação do cartão, erro na biometria. Mudo de máquina duas vezes. Faço
tudo vagarosamente, gentilmente até que enfim consigo. Mas neste meio tempo,
penso, não vou à academia hoje não. É muito estresse, levantar mais cedo,
banco, supermercado, academia, e olhe que já sou aposentada. Mas já faltei dois
dias na bendita academia que já comecei e parei trezentas vezes. Vou sim. Fui.
Supermercado e enfim, casa. Preciso fazer o que gosto, o que me dá prazer.
Digito estas mal traçadas linhas por puro prazer. Registro o meu estranhamento com
este mundo em que vivo, neste tempo louco de tantas mensagens digitais. Ontem
mesmo falávamos, eu e Debora, sobre os escritores de antigamente em suas vidas
tranquilas. Que mundo é este, eu me pergunto, com tantas motos barulhentas, com
facebook, twitter, instagram e o diabo a quatro. Não dou conta.
O mundo passou tanto tempo com tão pouca
tecnologia, tanto tempo sem barulhos infernais, para mudar tão de repente. Digo
de repente porque faz mais ou menos quarenta anos que eu fui a trabalhar no BB,
e ainda existiam fichas gráficas, vocês sabem o que é isso? Quando o cliente
vinha ao caixa para verificar seu saldo, procurávamos a ficha com seu nome em
ordem alfabética. Juro! Eu fiz isso. Tá bom, eu envelheci, mas quarenta anos
significam pouquíssimo tempo para mudanças tão drásticas. O mundo mudou em
quarenta anos o que não mudou em quatrocentos anos. Foram séculos de passadas
lentas para voos inacreditáveis e eu peguei esta mudança de cheio aqui em minha
vidinha. Eu já era quase mocinha quando a pílula anticoncepcional foi
inventada. Mas não vamos falar de invenções sofisticadas. Falemos das mais
simples como a maionese industrializada e um desses SBPs matadores de baratas.
Minha mãe ficou encantada! Em Pedralva, final dos anos 60, ela, a princípio,
meio cética, espirrou um pouco do veneno debaixo da escada que conduzia ao
segundo andar. No dia seguinte ela contou mais de trinta ou cinquenta baratas
mortas. Antes essas baratas eram mortas em verdadeiras batalhas medievais
travadas corpo a corpo.
Então,
voltando à tecnologia, a adaptação das pessoas de minha geração a novos meios
de informação, de contato, de conceitos, foi muito sofrida. No tapa tivemos que
aprender a viver com um pé no pacato mundo de nossos pais e o outro neste
estranho mundo em que vivemos. Às vezes isto me cansa e às vezes me encanta por
eu ser uma das protagonistas nesta transição maluca. Confesso que vivi!