sábado, 8 de junho de 2019

UMA MULHER COM ASAS E ÂNSIAS

 
Convidada pela Cuiddy Home Care para uma palestra no Auditório da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, fiz ontem meu relato de experiência como filha de uma mulher excepcional que foi acometida pela demência. Hoje faz nove anos que minha mãe morreu.
Registro aqui alguns trechos:
Minha mãe foi uma mulher excepcional, de rara genialidade, uma mulher extraordinária (usando seu adjetivo preferido), uma canhota das boas, enfim, uma dessas mulheres que nascem com asas e ânsias. Chegado o entardecer da vida, ela se sentiu tolhida pelas dificuldades, pela caminhada espinhosa e foi vencida por uma doença muito triste.  
A inexatidão da vida faz a demência fugir à regra como toda qualquer doença. Fazemos tudo direitinho, comemos alimentos que são bons para o cérebro, fazemos exercícios mentais, exercícios físicos, mas nada nos garante que escaparemos incólumes às doenças. Ainda assim cumprimos o que conhecemos para ter uma velhice sadia e alegre porque assim é que tem que ser. A demência sempre avisa, mas não temos olhos nem ouvidos para perceber. Alguns comportamentos estranhos podem parecer apenas simples manias. Há sempre um gatilho que dispara a demência. Pode ser uma cirurgia na idade avançada, um trauma, uma perda. Com a minha mãe, foi a enchente de 2.000. E três anos depois, com a morte de meu pai, a demência chegou como senhora absoluta.
A demência nunca poderá ser algo de bom, nenhuma enfermidade é. Porém, particularmente, esta fase da vida de minha mãe proporcionou a mim e a ela própria a possibilidade de resgatar a ternura que quase nunca existiu entre nós anteriormente. O livro “Demência: o resgate da ternura” foi meu primeiro livro. Depois dele vieram mais quatro livros e tenho mais três na fila. Também os poemas vieram, um a um, o que para mim foi uma surpresa e tanto! Penso que a ternura que minha mãe e eu compartilhamos, fez vir à tona todas as minhas potencialidades até então não vivenciadas. Também não posso deixar de considerar o papel do sofrimento e aprendizado durante o período de sua doença. Tudo é precioso. Deus transforma o mal em bem.
Meus agradecimentos à Cuiddy pela oportunidade de falar. Tenho sempre muito a dizer.  
Para você, Mãe, que hoje voa nas alturas celestiais, quero dizer que tenho usado minhas asas e que tal como as suas, elas estão crescendo mais e mais. Afinal, quem nasce com asas tem que alçar voo.  

PARECE PORQUE É


Nem sempre, gente, nem sempre. Deveria ser. Esta frase “parece porque é” de Edgar Allan Poe ilustra um dos capítulos do meu trabalho de conclusão do curso de Letras. Aliás, não querendo ser narcisista, mas sendo porque sou, é um dos trabalhos mais procurados para pesquisa na “Academia Edu”, um site eletrônico para acadêmicos usado para compartilhar artigos. Muitas pessoas do Brasil e do mundo inteiro procuram pelo meu trabalho: “Edgar Alan Poe, o estranho que escreveu sua vida em contos de terror”.
Mas voltando ao início ou ao título deste artigo, o fato é que nem sempre o que parece é. Isso me faz lembrar um comentário de minha irmã sobre o filme “Beleza americana”, de 1999. Brilhantemente ela me disse: o que este filme fantástico mostra é que: o que é não parece e o que parece não é. Cada personagem fazia jus a este comentário de minha irmã. A garota que se mostrava atirada e sedutora, na verdade era virgem e tinha medo de sexo. Sua amiga, calada e tímida, se mostrava nua para o vizinho que a admirava pelo binóculo. O rapaz vizinho que era usuário de drogas era um sujeito inteligente, sensível e bom. Seu pai, que era um machista aposentado do exército, na verdade era homossexual. Um filme dramático que mostra o avesso das coisas. 
No mundo real, na vida real é muito difícil viver autenticamente, mas nem tanto não é? Ser alguém e parecer o oposto do que se é? Não, não é possível. Bem, as pessoas são por dentro e não por fora, sempre soubemos disso. É comum a gente ficar encantada com tal e tal pessoa porque é educada e fina e às vezes é só por fora. Boas maneiras e etiqueta nunca garantiram bom caráter. Uma pessoa bem verdadeira pode me machucar, mas eu prefiro a verdade a ser adulada por corruptos e falsos. Não me iludo, sei que a luta diária para ter beleza interior ou virtudes é uma árdua luta sem fim. Levaremos a vida toda caindo sete vezes ao dia. É só levantar e começar tudo de novo como uma criança.  
Deveríamos ser e parecer o que somos. Enfim, concordo com a frase do Poe. Se pareço feliz é porque sou feliz. Se pareço triste é porque é algo me deixou triste. Se pareço insegura é porque sou insegura. Alguém achou que não?
Enfim, vamos melhorando ...