Tenho quatro primas que são
quatro irmãs inseparáveis. Cada uma mora em uma cidade, mas sempre que possível
elas se encontram, ora em casa de uma ou de outra. Quando elas têm um fim de
semana inteiro para estarem juntas, é uma festa. Falam de tudo, riem muito. São
espirituosas, alegres e engraçadas. Suas filhas e sobrinhas adoram estar
presentes para ouvir as prosas.
Na minha família somos três
irmãs e uma mora bem longe e quando vem, também é uma festa. Nossas conversas
vão de lembranças, de receitas, de cães e gatinhos, de tudo. Falamos muito das
coisas de Deus, dos santos e piedades. É tão bom!
Certa vez uma amiga me contou
que sua mãe quando encontrava as irmãs e eram muitas, a alegria era tão grande
que elas ao longo da vida desenvolveram uma linguagem própria, coisa de
linguística mesmo, de assustar os estudiosos da matéria. Falavam e só elas entendiam
aquela linguagem de amor e alegria!
As famílias eram numerosas nos
tempos antigos e assim, as irmãs também eram muitas, mas eu sempre me lembro de
Nossa Senhora que sendo filha única visitou Santa Isabel, sua prima, e como
devem ter conversado naqueles meses!
Outro dia, li no Medium,
plataforma americana onde também posto crônicas, li um artigo que me emocionou.
A autora conta que faz parte de três gerações de mulheres que se reuniam, avós,
mães e filhas, ao redor de um bordado imenso que rodeava uma grande mesa. Ali
todas juntas, elas falavam de tudo como nós aqui. Cada uma trazia seu material
e a colcha bordada era chamada de “Crazy Quilt” (Colcha louca). Elas
conversavam, riam e às vezes choravam. A tradição acabou com a morte da última
avó na década de 80. Ela comenta sobre a sabedoria que ganhou das nove mulheres
que mantinham vivas a colcha e a amizade.
Reflito também sobre as
lavadeiras de antigamente que lavavam as roupas no rio, levavam aquelas tábuas
tanquinho. Como riam, como falavam, como cantavam, às vezes também choravam.
Tudo com o ruído da água que passava. A vida era difícil como ainda é, só que
essas mulheres, quando se reuniam, eram felizes.
Percebo que as mulheres são
mais unidas, mais cúmplices, mais fraternas, é da nossa natureza, somos assim, sensíveis,
acolhedoras. Sentimos coisas milenares, inomináveis. Podemos carregar dores
inconsoláveis em silêncio, choramos sempre, mas também podemos tagarelar um dia
e uma noite inteira, rir até cansar. Trazemos sabedoria e fortaleza dentro de
nós desde que nascemos. Sabemos consolar umas às outras. Somos seres especiais,
somos a alma da família, a alma da casa. Mia Couto que o diga:
- Tenho saudades de minha casa, lá na
Itália.
- Também eu gostava de ter um lugarzinho
meu, onde pudesse chegar e me aconchegar.
- Não tem Ana?
- Não tenho? Não temos, todas nós, as
mulheres.
- Como não?
- Vocês, homens, vêm para casa. Nós somos
a casa.
(Extracto de um diálogo entre o italiano e
Deusqueira – O último voo do flamingo, Mia Couto)
Nunca
vou me esquecer de uma amiga que fez o seguinte comentário: “Se as mulheres
governassem o mundo, não haveria guerra” (Elika Takimoto)