Nesses
tempos de isolamento, pensamos muito, sentimos muito. Tudo nos dói: a lembrança
dos que morreram solitariamente em sofrimento, a preocupação com os nossos e
conosco, a preocupação com os trabalhadores que não podem parar, os
profissionais de saúde, acima de tudo. Sentimos falta da família, dos amigos,
do convívio. Aqui no prédio encontro com uma ou outra pessoa mascarada e com
luvas. Tal como eu. Falamos pouco, não convém abusar. De repente aquilo a que
estávamos tão acostumadas, a falar, a sorrir livremente, já não é possível. São
outros tempos. Mas os olhos falam E sorriem também. E tudo vai passar. É o que
dizem.
Fui
ao supermercado hoje. Como todo mundo, eu me senti num filme, ou num sonho, mais
precisamente num pesadelo. Custava acreditar que era, que é real. As pessoas
não falavam, o silêncio é a marca desta pandemia. Todo vírus assusta. Mas este agora
assusta mais. No meio daquele desfile de mascarados em silêncio, eu me lembrei
de uma bobagem de um filme em que monstros voadores atacavam com ferocidade a
Terra. Tudo parou, a Bolsa, a Economia, o fornecimento de energia, enfim,
exatamente como naqueles filmes de “Walking Dead”. Neste filme a que me refiro,
as aves não atacavam se houvesse silêncio. Elas se norteavam pelo ruído. Então
no filme todo é aquele cuidado, aquele silêncio. As pessoas iam e vinham, cochichavam,
traziam água, acendiam o fogo, comiam, mas em silêncio. Também me lembrei do
silêncio dos monges que em procissão caminham orando em seu coração.
Este
vírus, mais do que os outros, traz a marca da solidão, é “a mais solitária das
doenças”, palavras de Luigi Greco, em entrevista para a CRUSOÉ. Luigi Greco é um
infectologista italiano, já aposentado, que foi recrutado para suprir a
carência de médicos em Salerno. Ele classifica o Covid-19 como “a mais solitária
das doenças”. A pessoa que fica doente fica sozinha, isolada, não pode ver
ninguém da família. Este isolamento do paciente é um abandono sem remédio, não
há alternativa. Nosso isolamento na Quarentena não é nada.
Minha
homenagem e admiração aos 66 médicos italianos que morreram na batalha contra o
vírus, também aos enfermeiros, a todos que não se esconderam, que lutaram
bravamente. Minha admiração à médica que cedeu seu celular para que os
pacientes já morrendo se despedissem de suas famílias.
Sem
palavras gente, sem palavras! Mesmo com as palavras aqui silenciosamente
escritas, meus olhos transbordam, as lágrimas falam por mim.