Se há um ano atrás alguém me dissesse que eu iria à Secretaria Paroquial da Soledade entrar numa fila para pegar uma senha pra missa de domingo, eu diria: tá loka, miga? E também diria que isso seria um “nonsense”, surreal! Fico feliz que minha mãe não viveu pra ver essas coisas. De repente tudo mudou mesmo, a vida mudou, o mundo mudou, os hábitos mudaram. Nunca mais saí pra um café fora de casa, acho que ninguém, né?
Agora que as igrejas podem abrir e
receber os fiéis ainda que timidamente, impossível não me emocionar com o sino
batendo e chamando a gente pra missa. Vou, mesmo sendo “de risco”, pela idade.
Saudades da Missa presencial. Fui confessar com hora agendada. Horário
restringido, compactado, em tempos de pandemia. Uma confissão de menos de vinte
minutos, menos que uma sessão de psicanálise lacaniana. Quando a gente começa a
se animar pra falar, já está na hora de terminar. Tudo bem. Valeu.
Voltemos à senha. Saí de casa antes
das sete da manhã e lá fui. Mesmo já tão quente lembrei-me de que na porta da
igreja o vento bate furioso por esta hora, então catei uma blusa leve, mas
esqueci do pescoço, da cabeça. E eu não posso com vento no rosto, acorda a
rinite, sinusite e eu fico péssima. A dor de cabeça começou, ameacei entrar em
pânico porque eu sei como fico em crise. Voltar pra casa, nem morta, já estava
lá mesmo. O jeito foi virar para trás e começar um papo com a moça que, já precavida,
trazia um lenço enrolado na cabeça. Foi ótimo o papo porque me distraí e logo
demos conta da senha. Só que a dor de cabeça não foi embora, mas já estou
medicada e guardada. Valeu a uma hora que passei na fila.
Já entrei em muitas filas, peguei
muitas senhas, mas esta santa fila foi de gloriosa, como diria minha mãe. Glória
a Deus!
No caminho da igreja, observei casas
antigas, antes tão festivas, conversas e risos no portão, e agora fechadas há
muito tempo. Refleti sobre a efemeridade da vida. Só a alma permanecerá. E como
dizia Santo Agostinho: “Tenho que achar tempo, tenho que repartir as horas,
para ocupar-me com a salvação de minha alma.”
Na volta, já perto de casa, tive que
esperar a manobra de um caminhão imenso com estacas para um novo prédio. Quando
me mudei para cá só havia meu prédio e mais outro, agora moro na Manhatan da
Varginha. Olho para todos os lados e vejo prédios e mais prédios, fora o
barulho do bate-estaca o dia todo.
A vida é mudança! E a gente tem que abraçar
as mudanças e seguir com o coração alegre porque Deus se agrada e nós ficamos
mais leves, ainda que entristecidas por tantas coisas!