segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

A HUMILDADE DE JESUS

 Folheando meus livros a esmo como quem não procura nada e encontra tudo, nessa tarefa deliciosa, encontrei algo precioso que quero compartilhar com quem me lê. Bom, geralmente, quase sempre grifo as passagens que gosto e exulto quando muitos anos mais tarde, eu tenho a oportunidade de novamente me deliciar com o que leio. Isso agora aconteceu com o livro “Não apresse o rio (ele corre sozinho) de Barry Stevens. Esta autora foi uma psicoterapeuta que brilhou nos anos 70, com a terapia Gestalt.

Mas não é sobre esta terapia que quero falar. Em uma passagem do livro, a escritora se refere a um colega de trabalho como sendo uma pessoa humilde. Diz ela: “... ele tem uma humildade tão maravilhosa. É essa ‘humildade’ da qual Jesus falou, da qual tantos de nós se ressentem porque até mesmo no dicionário ela significa ser piamente dócil e submisso, submeter-se a injúrias, e assim por diante. Nós nos ressentimos do nosso significado da palavra, e com razão. Mas volte e aproxime-se de Jesus, e da tradução da Bíblia para o inglês, e a palavra significa simplesmente ‘gentil e suave’”.

Pronto, “gentil e suave”. Gosto muito dessa tradução porque descreve exatamente como é uma pessoa humilde. Jesus era a verdadeira humildade e quer nos ensinar como ser humilde como Ele: em Mateus 11,28-30, Ele diz: “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso. Ser humilde não significa ser fraco e submisso, mas bondoso e amável, mostrando força, serenidade e autocontrole.

A autora explica melhor porque seu colega era humilde: na comunidade em que estavam, cada um cuidava de seu próprio desjejum. A exceção no início foi o Fritz. Ela preparou o café da manhã para si e para ele algumas vezes, depois não mais. E ela disse a ele que nas duas primeiras vezes ela fez de boa vontade, mas na manhã seguinte ela não se sentiu bem fazendo este, digamos, favor a ele. Ele expressou sua compreensão e aceitação, sem uma única palavra. Mais tarde, naquele dia, ele disse com suavidade e gentileza: vou aprender a preparar meu próprio desjejum. Suave, gentil e neutro, sem bancar o mártir. E ela o ajudou, explicando como fazia para si própria. O interessante é que o lugar onde estavam era dele, ele o havia comprado e assumido o risco.    

Meus amigos que me conhecem sabem que humilde não sou. Pode acontecer de a minha reação aparentar humildade porque nada respondo ou respondo: “tudo bem”. Não vale. Esta reação é apenas exterior, interiormente fiquei muito triste, porém não quis partir para o confronto. Preferível não ser humilde, dando a cara à tapa, o que também já fiz. Fui autêntica, mas não me aliviou, o que me fez crer que a saída é ser humilde de verdade, por dentro e por fora. Penso que só assim, “encontraremos descanso”, como disse Jesus.

Como ser humilde? Procure um terapeuta.

Qual terapeuta? Eu recomendo Jesus.

Sendo boa aluna, como sempre fui, tenho esperança de aprender. Seria meu melhor presente de Natal de toda a minha vida. Santa Teresa dizia que o desapego e a humildade são as Soberanas Virtudes.

“A humildade é o exercício principal da oração – de tudo”.

“Pela humildade traremos Jesus preso por um fio de cabelo às nossas almas. Crede, quem maior a tiver, mais O possuirá”. (Sta. Teresa de Ávila

AUTOBIOGRAFIA


Por fora sou como pareço

Por dentro nem eu me conheço

Falo sozinha, mania que eu tinha

Desde menina

Falo sozinha, falo comigo

Se falta um amigo,

Se me pegam falando

Me finjo cantando

E de canto em canto

Sozinha em meu canto

Rompo num pranto

No entanto

Sou feliz por dentro

E por fora como agora

Embora eu não me conheça

Embora tudo me entristeça

Do cair da noite ao romper da aurora.

domingo, 17 de outubro de 2021

POETA TARDIA

 POETA TARDIA

Misa Ferreira

 

Sou a poeta tardia

Com TOC e mania

Com asas e sonhos

Medos e ânsias

Segredos e ais

Viajo nas brumas do tempo

Na calada da noite

Num eterno vagar

Deem-me apenas palavras

E alguém para amar

Que já faço versos

Mais belos que o mar.   

UMA LEMBRANÇA ESPECIAL


 Há lembranças que nunca se vão, permanecem intactas desde a infância, seguem pela vida afora e desde que o momento exija e sejam convocadas, elas se apresentam novinhas como se tudo tivesse acontecido naquele momento. Por que umas lembranças e não outras? Vai depender do que ou do quanto significaram para nós, geralmente muito.

Recebi a notícia do falecimento de uma pessoa e fui inundada por várias lembranças. Fiquei pensativa e ensimesmada. Voltei ao passado. As lembranças foram surgindo uma a uma e brincando de mãos dadas ao meu redor.

Foi assim: em determinada época de minha vida, coisa de mais de cinquenta anos, eu passava uns dias na casa de uns tios. Conversávamos, as primas e eu, quando a mãe delas entrou no quarto onde estávamos. Ela falou sobre algo com uma das meninas, conversaram e de repente ela veio e abraçou a filha, apertou a menina nos braços como se fosse um bebê e as duas permaneceram abraçadas de um jeito carinhoso e terno. Minha prima chegou a fechar os olhos enquanto a mãe acariciava seus cabelos, e falava palavras amorosas. A mocinha, dengosa, parecia estar flutuando naquele abraço. Eu me quedei muda, paralisada, maravilhada e atraída por aquela cena tão bonita. Experimentei uma mistura de sentimentos enquanto, embevecida, assistia àquela cena de carinho. Era uma extrema comunhão de amor, um momento tão delicado e eu, na minha famigerada sensibilidade fui tocada e feita prisioneira. Enquanto aquilo durasse eu permaneceria como fiel e emocionada testemunha de um momento de amor entre mãe e filha.

Em minha família não havia essa demonstração escancarada de amor. É claro que havia amor, demonstrações não. Minha mãe tinha o cuidado de não paparicar para que não ficássemos “estragados”. Com seu extremo rigor para essas questões, ela chegou a dizer com todo orgulho para uma nora: eu nunca elogio filhos. Evidentemente que minha avó também não elogiava filhos, nem minha bisavó e daí para trás. A verdade é que muitas gerações devem ter crescido sem nunca experimentar uma comunhão de amor tão gostosa como aquela que eu presenciara e que me marcaria para sempre. Este rigor não era só de minha mãe, não. Conheci muitas famílias que também vivenciaram isso. Era a cultura da época, costumes de lugares pequenos. Que pena! Tudo bem! Ninguém ficou traumatizado por causa disso. Depois que a gente cresce e amadurece, a gente entende. Tivemos a chance de quebrar a corrente, de abraçar e beijar com todo o nosso direito e desejo.  E não há coisa mais bonita do mundo do que a gente mudar as regras do jogo, dulcificar as durezas, aparar as arestas e asperezas, abolir as penas e agradecer aos pais que fizeram tudo como puderam.       

No momento em que assisti àquela terna cena de amor, eu não devo ter entendido o porquê do meu encantamento, e nem estava preocupada em entender, mas em viver aquela emoção, isso sim. Instintivamente, eu sabia que era algo precioso porque meu coração pulsava. Era como ter descoberto um tesouro de incalculável valor. Sabia que um dia eu viria a falar disso, só que não sabia como. Chegou o momento.

Com a partida daquela mãe carinhosa, eu pude resgatar esta lembrança especial.

Para você que partiu, minha querida, saiba que você me emocionou muito naquele dia de nossas vidas. Obrigada! Que Deus acolha você em Seu Amor!

 Como a vida é bendita!

   

 

 

 

 

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

PÉS DE ANJO

 

Calos, joanetes, esporões

Gritando a plenos pulmões!

Meus pés pisando em ovos

Meus pés pisando em brasa

Eu, descalça na Faixa de Gaza

 

E na plenitude de meu platinado

Sinto saudades dos meus pezinhos,

Na aurora da minha vida

Eu, feliz e atrevida

Julgava que os pés não envelheciam

Ledo engano, doce ilusão

Só o azul de meus olhos que não

Constato triste e amuadinha

Que meus pés de anjo de outrora

São velhos pés de galinha agora.

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

O CAOS INEVITÁVEL

 

Fui arrancar os matinhos dos vasos e percebi uma planta nova que havia nascido ao lado de outra. Chamei meu marido e ele me lembrou que era o “gengibre” que minha prima havia nos presenteado e que eu mesma trouxera. A planta tinha uma espécie de um verde muito bonito. Eu aproveitei para mostrar a ele a Madressilva que está sem suporte para crescer e decidiu se enrolar na planta do outro vaso ganhando alturas.

Ele me disse: é assim mesmo, deixa que ela se enrole onde quiser, você nunca entrou em uma floresta? Floresta mesmo, não um horto florestal, floresta densa. Eu, nunca né. Morreria de medo. E ele prosseguiu: É o caos no bom sentido. As plantas crescem desordenadamente, árvores, arbustos, samambaias, trepadeiras, até cobras de todas as cores. Aí chega o homem e quer pôr ordem no caos da natureza. Quer que os pinheiros fiquem enfileirados, todos obedecendo a mesma distância uns dos outros. Isso não existe. O caos é necessário para trazer harmonia. Achei lindo! Oh puxa-saco!

Aí transpus para nossa vida, a vida de cada um. Dentro e fora de nós também é assim. Ninguém consegue viver ordenadamente durante muito tempo. Nossos pensamentos muitas vezes são caóticos. Minha casa é o caos total, vivo planejando segunda limpo isso, terça aquilo, de repente, por um motivo ou outro, o planejamento fura. Faço um cavalo de batalha por causa disso. Que bobagem! Alguns dias depois, tudo está limpinho. O caos existe e temos que conviver com ele. Importa viver bem.

Tudo parece correr bem até que as tempestades irrompam e interrompam nossos planos. As tempestades de preocupações, de aborrecimentos, de doenças, de tristezas, de perdas, enfim, as tempestades que fogem do nosso controle de navegação. E ficamos à deriva. Depois de algum tempo ou muito tempo, tudo se acalma e prosseguimos. Na vida sempre teremos tribulações e quando o caos irrompe, é difícil, muito difícil. Até sabemos que vai passar, mas até que passe, respiramos pesadamente, lutamos para compreender o que não podemos compreender, somos inundados de pensamentos tenebrosos, somos só trevas.

Mas, passado o caos, quem tem olhos percebe que era preciso que tal calamidade acontecesse para gerar um bem que jamais pensamos que fosse possível. Acredite, tudo fica iluminado e quanto mais intenso o caos, maior será a luz. Já dizia Nietzche, “É preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante.”

Enquanto há vida, há esperança. E quando a morte vem? Há esperança também. A esperança final, a esperança mais bonita, mais forte e mais iluminada. Quem já viu lampejo dessa luz anseia pela morte!

 

 

 

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

MÃOS ENTRELAÇADAS

 


Assisti a um seriado que para dizer a verdade, não gostei. Porém, como de qualquer coisa, mesmo até de um mal se pode tirar um bem, teve uma cena que me tocou, que me fez refletir. Foi assim: uma mulher angustiada está na beirinha de um precipício. Ela olha como que atraída pelo vazio do abismo. Uma pessoa responsável pelo grupo vem e toca cuidadosamente a mulher que reage com agressividade.

Aí a pessoa diz assim: não vou tocar você, quero apenas ficar de mãos dadas. E a pessoa entrelaça sua mão na mão da mulher. E continua dizendo: mãos dadas e entrelaçadas é mágico, é cuidado, presença, segurança. Ficar de mãos dadas é um ato poderoso, mais forte do que o ato sexual, envolve um mundo de emoções, uma cumplicidade entre dois seres. A mulher se acalma e sai daquele penhasco perigoso. Para salvar alguém às vezes basta um pequeno gesto, feito de compaixão e cuidado.

Bem, imediatamente eu me transportei para o relato de minha amiga que me contou certa vez de sua tia velhinha que, no entardecer da vida se comportava como uma frágil menina, fato que eu, que a conheci bem, sabia que ela era uma menina desde sempre. Sua acompanhante dormia na cama ao lado e a tia acordou assustada, com muito medo. A acompanhante tentou acalmá-la, mas ela continuava apavorada. E aí ela pediu à acompanhante se podia de ficar de mãos dadas com ela. A moça assentiu, ficaram de mãos dadas até que a senhora adormeceu. Lágrimas inundaram meus olhos. 

Como uma cereja traz outra cereja, lembrei de minha mãe que a vida toda não era mulher de carinho. Só os bebezinhos tinham a honra de ocupar seu colo e serem merecedores de muitos carinhos e das mais variadas gracinhas que só as mães e avós sabem fazer com perfeição, usando aquela linguagem própria: “cadê minininho da vó? Cadê meu tisoio?“Cadê meu colação? Cadê? Cadê? Cadê?”. Então, assim que os bebês completavam mais ou menos três meses de idade, cessavam aquelas explosões de carinho. Penso que quando as criancinhas começavam a mostrar ares de independência e vida própria, minha mãe ficava brava. Por que? Ora porque ela sempre foi aquela que detinha o controle, oh mulher forte! Claro que ela achava graça nas crianças e as amava com loucura, apenas queria uma submissão total dos pequenos.

Enfim, depois que minha mãe ficou demente, eu descobri que ela passou a gostar de ficar de mãos entrelaçadas comigo, e eu ia lá duas vezes por dia para me apossar da minha cota de carinho e ternura, deficiente de longa data, digamos assim. Ah eu me esbaldava com aquele carinho de todo dia. E ela gostava, como uma menina. E eu outra.

Mãos entrelaçadas dizem muito, é afeto genuíno que escorre do coração. Não é à toa que quando vamos sair e meu marido põe a mão em meus ombros, eu digo pra ele: prefiro andar de mãos dadas. 

      

terça-feira, 14 de setembro de 2021

POEMA QUE CAI DO CÉU

POEMA QUE CAI DO CÉU

Misa Ferreira

 

Um cansaço

Um bocejo

Um desejo que aperta o peito

 

Cismada

Deixo a louça

Deixo a casa

Deixo tudo

E parto em busca de não sei o quê

Meus olhos suplicantes

Como que por instinto

Procuram o alto

De mil em mil anos

Cai um Poema do Céu

Estendo as mãos

E o recebo com sagrado fervor

Pode ser um Poema de amor

Ou de dor

É preciso dar nome ao Poema:

Poema que cai do Céu. 

DESIGUALDADE


Pisando no mesmo terreno da crônica “Coisas de homens e coisas de mulheres”, sem querer puxar, mas puxando a sardinha para as mulheres, volto à carga. Talvez porque eu seja mulher e orgulhosa de ser mulher, ou talvez simplesmente porque é possível enxergar que realizar tarefas caseiras não é só coisa de mulher.

Quando éramos adolescentes, minha mãe distribuía com desigualdade as tarefas da casa. Pobre mãe, sem querer criticar o que ela fazia, mas infelizmente criticando. Era assim: para nós duas mais velhas, ficavam a arrumação da casa para minha irmã e a arrumação da cozinha para mim. É verdade que meus três irmãos que vieram depois de mim ainda eram crianças, três meninos, porém não tão crianças que não pudessem ajudar.

Eu voltava da escola com sono e faminta. Depois de almoçar a comida simples e deliciosa da mamãe eu via aquela cozinha imensa cheia de trecos sujos para serem limpos. Fazia a tarefa, obediente e bonitinha que eu era. Minha irmã arrumava a casa direitinho também, não sem reclamar com os irmãos que dormiam no mesmo quarto que mais parecia um recinto atingido por tsunami. Camas a serem feitas, todos os sapatos dos três debaixo das camas, uma zona total.  

Minha irmã ficava brava e brigava com os meninos e lá vinha a mamãe para ralhar com ela e aproveitava e ralhava comigo também que não tinha feito nada. Dizia ela assim: Não cobrem isso deles. Seus irmãos são homens, não é tarefa de homem. Se não quiserem fazer, deixem que eu faço.

Mas mãe ... e ela fazia ouvidos moucos.

Não compreendíamos bem porque ela “cocorava” (expressão que ela usava muito!) os meninos. Só mais tarde sacamos que ela ficava apreensiva de que eles não se tornassem homens plenos se guardassem seus sapatos e principalmente, se arrumassem suas camas. Embora minha mãe fosse além de seu tempo em muitas questões, nesta especificamente, ela era preconceituosa. Contudo, há que entender que ela era produto da cultura de sua época.

Em seu livro “Para educar crianças feministas”, a fabulosa escritora Chimamanda Ngozi Adiche enfatiza que embora muito tenha sido feito, temos ainda um longo caminho a percorrer na questão da igualdade de gênero. Uma sociedade mais justa começa na família, em casa, iniciando-se pela justa distribuição de tarefas entre pais, mães e filhos.

Na época, sentíamos que algo estava errado, algo estava injusto. Os meninos “cocorados” pela mamãe tiveram mais tarde que aprender a duras penas a limpeza e organização do lar.

Discurpa mãe! Foi mal!

Saudades da minha mãe!  

 

sábado, 4 de setembro de 2021

A MAGIA DA LUA

 

Ontem eu assisti a um documentário sobre Elvis Presley. Evidentemente que contam a vida de Elvis desde quando nasceu, e surpresa, eu soube que ele teve um irmão gêmeo que não resistiu e morreu logo após ter nascido. Mas eu não vou falar da vida do Elvis, não vou falar que fiquei pensando se o irmão sobrevivesse, será que também cantaria como Elvis? Nem pretendo falar que fiquei pensando que, embora o Elvis não tivesse conhecido o irmão, saber que teve um irmão gêmeo deve ter impactado sua vida. O que vou falar mesmo é de lua e lua cheia.

Por que falei do Elvis se vou falar é de lua cheia? Apenas por causa de um detalhe ainda de Elvis: sua mãe, encantada com a possibilidade de o filho se tornar cantor e fazer sucesso, dizia a Elvis que se ele cantasse em noite de lua cheia, seu irmão poderia escutá-lo. Não sei, pode ser.

Sou absurdamente apaixonada por lua cheia. Não é a primeira vez que perambulo    pela casa no escuro da noite e de repente, passando pela sala sou atraída para a janela! Uma claridade estonteante vem do céu, mostrando uma lua tão grande como nunca vi, tão redonda, tão magnífica! Saio correndo em busca do celular e tiro umas dez fotos. Linda, linda! Linda! A lua cheia me atrai, me fascina!

Bem, sempre ouvi dizer que a lua tem influência sobre o comportamento humano. Com certeza sei que tem sobre os oceanos, sei que a lua é a responsável pelo movimento das marés. Mas para fazer crescer os cabelos, adiantar partos? Fazer surtar as pessoas? Olha, não é à toa que o termo “lunático” remete à loucura, ao desvario. Segundo o poeta Raimundo Corrêa, a lua é o astro dos loucos. E tem mais, não é de hoje que meu marido me conta que lá no Sul onde ele morou quando jovem, havia uma moça que era problemática, todos sabiam. Entretanto, ela agia normalmente, saía para fazer compras, cumprimentava as pessoas e tal. Só que em noite de lua cheia, ela saía desembestada pela praia, chorando e gritando, surtando mesmo. E a lua imensa lá em cima para atestar que tem seus poderes sim. 

A ciência não consegue explicar muita coisa e o que nos resta é a cultura e sabedoria popular. O que sei é que sou fascinada pela beleza da lua cheia, sou atraída por ela, nem pisco até que desapareça. A lua não é só dos loucos, é dos poetas também que sonham com as ideias fabulosas de Deus como a de colocar duas bolas pendentes no espaço girando e girando sem fim! Nunca me acostumo com as maravilhas deste universo, das cores das flores, das borboletas, e a lua imensa, logo ali? Fala a verdade!

Eu escrevi um conto para crianças em que a personagem ouviu de algumas tias que, se alguém tem um desejo, mas um desejo muito grande mesmo, e se for noite de lua cheia, ela deve fechar os olhos e fazer o pedido à lua que ela atenderá. Certamente devo ter lido isso em algum lugar, não sei, não me lembro. Penso que eu não teria essa ideia assim de graça, ou talvez isso tenha vindo do meu encantamento, do meu enlouquecimento, embasbacada diante de tanta beleza. A lua me enfeitiça, é pura mágica.     

 

“Nada em meu corpo aprisionado se move,

apenas meu coração disparado se comove.

Minha alma se desprende e transcende o que sente e entende.

 Eu me ausento de mim.

E num frenesi insano e sem fim, ganho asas rumo à lua.

Não sou mais eu, apenas uma escrava sua.”  (Misa Ferreira)

 

 

ATOS FALHOS

 

Nunca mais me esqueci de quando eu fazia especialização em Literatura, e a professora de Literatura e Psicanálise estava explicando o que seria ato falho e deu seu exemplo. Ela quando era jovem, em tempos idos, havia sido convidada pela família de seu namorado ou noivo, acho que noivo, para ir à praia com eles. Ela tratou de comprar um maiô bonito e decente e foi que foi. Lá o namorado também estava em traje de banho e se divertiram muito. Quando voltou para casa, a mãe e as irmãs, super curiosas, bombardearam a moça com mil perguntas. E aí perguntaram, maliciosamente, como estava o noivo em seu “calção”, ao que ela respondeu sem titubear: ele é muito pintudo! Na verdade, ela pretendia dizer “pintoso”, adjetivo de antigamente, seria “boa pinta”, mas saiu pintudo, um curioso trocadilho pelo qual teve que aguentar a vida inteira a caçoada da família.

Saiu “pintudo” e não pintoso porque ela, de fato, não tirou os olhos do traje de banho do belo rapaz, para não dizer outra coisa, ou dizendo de outra maneira, o “pintudo” era o que estava em sua mente inconsciente, pois em sã consciência ela jamais diria o termo. Isso foi um ato falho, ou seja, algo que não pode ser dito por determinada razão, acaba sendo dito de outra forma.    

Um exemplo clássico de ato falho é chamar o parceiro pelo nome do ex, coisa embaraçosa,  muito comum, mas que pode acarretar sérias consequências. Muitas vezes, não é nada de sério, não é que você ainda esteja apaixonado pelo ex, não necessariamente, se você conviveu um bom tempo com outra pessoa, é natural que seu inconsciente ainda abrigue e vá abrigar traços e laços afetivos. Certa vez, nos primeiros anos de nosso casamento, meu marido teve um pesadelo e gritou o nome de sua primeira mulher, já falecida. Achei natural, um ato mecânico, afinal ele viveu muito mais anos com ela do que comigo.   

Nossa vida é carregada de atos falhos, às vezes gostaríamos de dizer determinada coisa que não dizemos, e em certo momento, o inconsciente nos trai e acabamos por dizer. Enfim, não sofrer por isso, quem nunca cometeu um ato falho que atire a primeira pedra.

Ato falho pode ser resumido da seguinte maneira: cuidado com aquilo que está na sua cabeça porque a tendência é falar justamente isso. Aqui o inconsciente é que manda, não está no nosso controle. Como o ato falho é um ato involuntário, às vezes conseguimos pisar no freio, às vezes não. Paciência, tomara que nossos foras não sejam graves. Larga mão.   

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

O PRIMEIRO AMOR

 O PRIMEIRO AMOR

 

Todo mundo já teve um primeiro amor. Mente quem falar que não. Quando falo em primeiro amor quero dizer o amor da meninice, aquele período depois da infância e antes da adolescência. É um período mágico em que só fazemos sonhar. Por outro lado, também é um tempo extremamente sensível, sujeito a chuvas, trovões e tempestades, bastando um fato qualquer para desencadear um drama danado. Assim foi comigo e penso que é assim com todo mundo. Saímos da infância e logo experimentamos sensações diferentes. Desdenhamos a infância e já sonhamos em ser mais velhos.

Bom, comigo foi assim. Eu tinha dez ou onze anos e de repente fui assaltada por um sentimento totalmente novo. Eu estava absolutamente apaixonada por um menino, rapazinho mais velho, acho que teria uns quinze anos. Como começou isso? De onde veio este sentimento? Não sei. Enquanto digito, levanto os olhos por um momento e reflito sobre a complexidade e beleza das mudanças de nossas fases na vida.

O menino que eu amava, idolatrava e adorava era um menino que veio de longe e que ficou no “internato” do ginásio de Pedralva. Como eu sempre falo de coisas reais que aconteceram comigo, fica até perigoso, pois este menino perdido no tempo pode até ler esta crônica onde estiver. Tudo bem. Sou uma contadora de histórias. Assumo. Falo de mim que é a história que mais conheço. E como disse Miguel de Cervantes em “O colóquio dos cachorros”: “É melhor gastar o tempo contando a nossa própria vida do que procurar saber das vidas alheias.”

            Enfim, o menino me deu o maior desprezo de minha vida. Sofri, comi o pão que o diabo amassou, mas eu o amava loucamente, perdidamente. Acho que quanto mais ele me desprezava mais eu o amava. Ele chegou até mandar um recado pra mim: você pode desistir que não gosto de você, eu até poderia namorar sua irmã que é mais velha, você não. Logo depois, mudamos para Itajubá. Metade do rio de lágrimas que chorei foi por ficar longe dele, metade foi por não ter mais aquelas montanhas maravilhosas que cercam Pedralva. Até hoje amo aquelas montanhas, mas não amo mais aquele menino bobo que não sabe nem nunca saberá o que perdeu.

É muito difícil que o primeiro amor dê certo. Não, não vai dar. Pode acontecer como em um caso que conheço, em que cada um partiu para sua própria vida e mais tarde, já maduros, reencontraram-se. É uma história linda! Mas não foi um amor platônico, ambos namoraram na adolescência, e gostavam um do outro, mas por qualquer motivo, não deu certo. Tiveram que esperar muitos e muitos anos para serem felizes. Valeu a pena. Um amor platônico não vai dar certo, tanto é que se chama platônico.

O primeiro amor é um terno amor e ao mesmo tempo, avassalador. É terno porque não existe nada mais terno do que uma menina apaixonada ou um menino apaixonado. Uma amiga me confidenciou que queria que a mãe colocasse o nome de seu secreto amor no irmãozinho que havia nascido. Achei lindo! Fiquei emocionada! Que grande e terno amor.

Uma coisa é fato: o primeiro amor, tal qual o primeiro sutiã ninguém esquece. Para dizer a verdade, do sutiã não me lembro, embora eu tivesse loucura para usar sutiã. Era meu sonho, um sutiã e um saltinho. Confesso que vivi!

INVERNO PRA LÁ DE FRIO

 INVERNO PRA LÁ DE FRIO

 

Confesso que este inverno foi, digo foi porque acho que o pior já passou, para mim um dos mais cruéis de que tenho lembrança, aqui em Itajubá. Já provei outros piores, mas um especialmente ficou marcado.

Eu, Sandra, Musa e Fernando fizemos uma viagem maravilhosa: Buenos Aires, Bariloche, Lagos Andinos, Puerto Montt, Santiago, Vinha Del Mar, Valparaíso. Isso foi início de 80, tempo pra caramba, quarenta anos mais ou menos. Era minha primeira viagem de avião. Tudo começou com um imenso atraso em São Paulo. O voo deveria ter saído no meio tarde e acabou que saiu às 11 da noite. Em Buenos Aires chegamos a dormir umas duas horas e logo o guia veio nos acordar para a viagem à Bariloche. Curtiríamos Buenos Aires só daí a uma semana.

Bom, vamos lá. Um frio em Bariloche que já sentimos de cara. Tudo bem, eu tinha algumas peças para o frio, na verdade, eu não tinha o que servisse porque não eram roupas suficientemente quentes para o frio que faz lá. Mal nos acomodamos no hotel, o guia veio nos chamar para um passeio no Cerro Catedral. Tudo bem, bora lá gente. Com um pouco de sono, lá fui. Um espetáculo deslumbrante, uma montanha de neve. Nunca tinha visto neve. E falaram por lá que naquele ano, naquele período não tinha neve, que estava fraco, pra mim não.

Eu nunca passei tanto frio em minha vida. Eu estava com uma blusinha de nada, fininha, fininha no meio daquele gelo. O pessoal lá mega agasalhado, e nós podíamos ter sido avisadas para nosso maior conforto. Eu tiritava de frio e não tinha pra onde correr. Devia haver uma cafeteria, um restaurante logo mais abaixo. Mas gente, era minha primeira viagem, eu não ia sair de perto do povo. E o medo de me perder? E o mico? E a timidez? E a bobice? Fazendo de conta que não sentia o frio. Com risco de morrer de frio e fazendo cara de calor. Sei que quando entramos no ônibus para vir para a cidade, eu tive uma sensação maravilhosa, aquela quentura que saía do aquecedor e desejei que aquele calor não passasse nunca mais. Logo tomamos um café, um banho quente gostoso e fomos jantar.

No final da noite houve um “carnaval”, todo mundo dançando, sambando no salão do hotel. Eu com os olhos que se recusavam a ficar abertos, afinal, já estávamos quase 24 horas sem dormir, aquele frio desgraçado e depois banhos quentes, quartos quentes, comida quente, ah, o sono pegou impiedoso. Eu me lembrei que os antigos diziam que criancinha pequena chora quando tem sono porque sentir sono dói, e demorar pra dormir é um desconforto. Pobrezinhos dos bebês! Pobrezinha de mim! O sono fazia tudo doer em mim. Quando entrei no quarto, comecei a chorar que nem um bebê, vesti meu pijama, bati na cama e pensei: se alguém vier acordar a gente, eu não vou, vou ficar o dia inteiro nesta cama deliciosa. Depois daquele turbilhão de emoções físicas e psíquicas, eu merecia.

E dormi até às 10h da manhã. Sem mentira nenhuma, como dizia minha mãe, acho que foi a única vez na vida que acordei essa hora. Bom, acordei e achei a Sandra e a Musa super acordadas, batendo o maior papo. A Musa disse: uai Misa, e o banho que você é sempre a primeira a tomar? Já sei. Você acordou de madrugada, foi tomar banho e voltou pra cama, sem contar pra ninguém. Pegavam no meu pé.

O restante da viagem foi tudo bem. Depois de uma semana em Bariloche, ficamos em Buenos Aires e seguimos para o Chile. Em Puerto Montt saímos para passear por nossa conta e cansados do frio da rua e com fome entramos em um bar/restaurante onde acabamos por escolher pizza. Veio como acompanhamento da pizza um jarro de vinho. Naquela época nenhum de nós bebia. Mas quando a gente está fora, tudo pode acontecer, vale tudo, assim encaramos o vinho. Claro que saímos trocando as pernas. O vinho desceu esquentando e a pizza deliciosa matou nossa fome. Tudo passa. Minha vida é metade ternura, metade saudades.

Sempre tive vontade de voltar a Bariloche. Se ou quando a Pandemia acabar de verdade, eu vou. Por enquanto, só ficaram as saudades congeladas no meu coração! 

INSTINTOS E SENTIMENTOS

 INSTINTOS E SENTIMENTOS


Eu sempre soube que os animais são criaturas, diferentes de nós, humanos, que fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Sempre soube que nós possuímos alma e eles não. Sempre soube que o Céu existe para quem o merecer, antes de mais nada, isso para nós, humanos. Os animais não irão para o Céu. Será que não? Não gente. Eu adoraria que fossem. Adoraria encontrar lá no Céu com a Joia, a última perdigueira de meu pai e da qual me lembro muito bem, com muitas saudades. Aliás, adoraria que os dois estivessem juntos, a Joia e o papai.

Bem, ontem ouvi de uma pessoa algo que me deixou encucada. Disse ela que os animais são só instinto, que eles não têm sentimentos. Eu até aceito que os cães e os gatinhos e as aves e os elefantes e as borboletas não vão para Céu, mas não aceito que os animais não tenham sentimentos. Têm sim. Dá para ver quando é instinto e quando é sentimento. É fácil, é só entrar no universo do Youtube e procurar os vídeos de animais. Todo mundo sabe como os animais sentem.

Assisti a um vídeo mostrando uma cachorrinha que estava em depressão. A pobrezinha teve vários cãezinhos. Foram tirando dela, um a um. Só restou o último. Ela se apegou a ele com desespero. Mãe e filho eram um só. Pois bem, tiraram o filho dela. Ela não comia, não bebia, não vivia. Levaram a cachorrinha para a veterinária. Põe soro, cumula de amor e carinho, e nada. Não me lembro como foi, mas o fato é que souberam para onde havia ido o último cãozinho. Trouxeram lá o bichinho. E a câmera mostra a cachorrinha que era a própria imagem da tristeza, com o focinho sobre as duas patinhas, com um ar de quem queria morrer mesmo. Quando a veterinária trouxe o cãozinho e o colocou diante da mãe, gente do Céu! Ela se pôs em pé com suas quatro patas e pulava pra cá e pulava pra lá. Mordiscava o bichinho, gania de alegria. Cadê a tristeza? Se fosse só instinto, ela não faria isso. E não me digam que qualquer cãozinho serviria, podia até ser, pois acontece de cães adotarem gatos e vice-versa. O que eu quero dizer é que ela estava na clínica rodeada deles e sua tristeza era notória. Bem, mãe e filho foram felizes para sempre.

E aquele vídeo que mostra o leão imenso, um gigante de bicho que quando reconheceu seu tratador desde pequeno em uma reserva, veio à toda a velocidade e pulou no colo do rapaz que mal podia se equilibrar, mas foram para o chão os dois, e o leão mordiscava e fazia carinho, gente que lindo! O leão estava solto já na floresta e reconheceu seu amigo depois de muitos anos. Instinto? Pois sim.

E mais o caso da mãe gorila que fica desesperada, louca, tentando salvar seu filhote que estava preso apenas por um galho quase despencando num abismo. Os outros gorilas também tentavam ajudar de tudo quanto é jeito. Eles conseguem puxar o filhote. E ver mãe e filho abraçados, a mãe chorando de alegria é lindo! Todo mundo merece!

E os golfinhos que se recusam a comer após a morte do companheiro? E os gansos que procuram pelo companheiro perdido até ficarem desorientados e morrerem?

Instinto? Não, pelo amor de Deus! É sentimento.   

Só de ver minha irmã com seus gatinhos e do que eles são capazes por amor! Só São Francisco para explicar. 

Temos muito que aprender com os animais, com os bichos. Seríamos melhores, muito melhores. Agora, se eles vão para o Céu, acho que não, mas que têm sentimentos, isso têm, sim senhor! 

Termino aqui com uma frase da Rachel de Queiroz que diz tudo: “E quem sabe se não há por aí muita alma fechada que, começando a se interessar pelos cachorros, acabará se apaixonando pelos homens”?        

sexta-feira, 9 de julho de 2021

COISAS DE HOMEM E DE MULHER OU COISAS DE MULHER E DE HOMEM

 

 

Somos diferentes, evidente que sim. “Homens são de Marte e mulheres são de Vênus”. E agora me vem à mente um curso de noivos que uma amiga e seu noivo foram fazer, isso lá pelos anos setenta. Um dos palestrantes falava sobre sexo, coisa que o noivo já sabia, conhecia e praticava com quem podia, certamente. A noiva, ou as noivas daquela época quase que em sua grandíssima maioria eram virgens. Assim era, assim foi. O fato é que o palestrante fez a seguinte comparação: o homem é como o fogão a gás, esquenta rapidinho, mas a mulher já é um fogão à lenha. Não. Não concordo, acho que isso foi inculcado na mente feminina, afinal, o mundo sempre foi manipulado pelos homens. Sim, vivemos num mundo criado pelos homens. Perdão homens! Não é sua culpa, leitor que está lendo, isso vem de milênios, já faz parte do inconsciente coletivo masculino.  

Eu não sou feminista, e sempre fui mega feminina, a tal ponto que de pequenina já fazia pose para fotos, coisa que minha mãe nunca me ensinou, tão recatada que era. O que quero mesmo dizer é que há coisas que são para homens, mais fortes fisicamente do que nós mulheres, não resta a mínima dúvida. Não creio que as mulheres trabalhariam como estivadoras ou coisa do tipo, é uma questão de corpo, de resistência, de coluna, tanto é que nunca vi um jogo de futebol ou basquete, que seja, que homens e mulheres jogassem juntos, a não ser um vôlei displicente na praia. Biologicamente, somos diferentes.

Agora, mentalmente, isso não. Jamais houve mulheres grandes filósofas na Idade Média ou Moderna, até hoje. Por que? Ora, a capacidade mental não é diferente! A que custo tantas mulheres grandes filósofas tiveram que enterrar no peito suas aspirações e talentos só porque o mundo masculino assim o determinava! As mulheres são filósofas por natureza. Eu me lembro quando as mulheres lavavam roupas no rio no norte de Minas e em todo o lugar. Agora acho que já não se vê isso. Olha, elas cantavam, dançavam e falavam sobre a vida, sobre a morte, sobre o destino. Eram e são verdadeiras filósofas sem nunca terem estudado para isso. Então, simplesmente, os homens decidiram que filosofia era coisa para homem e não para a mulher. Fecharam o cerco e ai da mulher que tentasse furar. Era discriminada até pelas outras mulheres. Hipátia, a grande matemática de Alexandria que o diga, pois foi combatida e perdeu a vida por ensinar filosofia.

Bem, felizmente estamos em outra época. A mulher que quiser ser filósofa, que o seja, não vai ser morta por isso, mas duvido que não sofra preconceitos. A mulher escritora até a década de cinquenta também tinha que ouvir vez ou outra: “ela é tão boa escritora que até parece um homem escrevendo.” Isso li de Rachel de Queiroz.   

O bonito da mulher é que ela pode ser filósofa, engenheira, motorista, etc e etc e abrigar um bebê no útero, e depois cantar para ele dormir. Vi um episódio de uma série futurista de uma Terra devastada e deserta em que para perpetuar a espécie de humanos, pura ficção gente, alienígenas enviaram um casal para a tarefa. A “mulher alienígena” teve quatro filhos ao mesmo tempo, acho que é isso, mas o que me chamou a atenção foi que o último bebê nasceu morto. O homem já queria levá-lo para descartar ou sei lá o que, mas ela, com os olhos de lágrimas, pediu para ficar com ele nos braços por um tempo. E ficou ninando e cantando baixinho quando de repente o bebê chorou e veio à vida! As mulheres são uma coisa linda! A elas foi presenteado o dom de aplacar os terrores noturnos de seus filhos e muitos outros dons.

Ah gente, hoje não é Dia Internacional da Mulher, é dia de toda mulher e todo homem, mas que “nós, mulheres, somos desdobráveis”, como dizia Adélia Prado, somos sim. Tenho o maior orgulho de ser mulher e não sou fogão a lenha não