sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

AMOR Nº 10

 

 

Não sei quantas crônicas e poemas já escrevi e dei o nome de Amor. Não consigo encontrar título melhor ou palavra melhor para falar de Amor. Bem, vamos lá. Estava aqui hoje pensando no que escrever quando me lembrei de minha mãe que contava sobre minha tia. Lá pelos idos de quarenta minha tia foi pedida em casamento por um comerciante, filho de libanês. Meus avós se assustaram, afinal, ele não era filho da terra, era um “estrangeiro” desconhecido, talvez com outros costumes bem diferentes dos pacatos sul mineiros. E o susto foi maior ainda quando o tal pretendente irrompeu pela sala do casarão com várias peças de tecidos nos ombros que desdobrou sobre a mesa. Minha mãe contava, divertida com a situação: quando a Dona Mulata viu aquele homenzarrão com aquelas peças todas sobre o ombro, ela pensou: Nossa Senhora, guardai-nos! E o homenzarrão era um homem com alma de menino, bom que sócêvendo, como minha mãe dizia!

Conheci meu marido num site de relacionamento há quase vinte anos. Não tenho vergonha de contar que foi pela internet. Bem que eu fiquei esperando o príncipe encantado chegar num carrão bonito com cara de príncipe e modos de príncipe e bater à minha porta. Como o tempo foi passando e nada do príncipe aparecer, percebi que teria que sair à luta ou à caça. Para sobreviver temos que nos adaptar aos tempos modernos, isso é fato. Mãos à obra!

Então, chegou a hora de trocar fotos. Eu vasculhei todas minhas fotos para escolher a mais bonita e mandei. E ele mandou a sua. Ah meu Deus! Quando eu vi aquele homem com chapéu de cangaceiro e um facão na cintura, na beira de um lago, pensei: tô fora! E só não desisti mesmo porque minha irmã e minha grande amiga pegaram pesado comigo. Minha irmã olhou bem para a foto e falou: Misa, o sorriso dele é lindo! É verdade que eu não havia reparado porque procurava, em vão, a cara de príncipe e modos de príncipe. E minha amiga me disse: Misa, deixa de ser enjoada, é um homem simpático, com um sorriso lindo. Põe a foto do Príncipe Charles ao lado da dele: compara, nunca, nunca que o Príncipe Charles tem este sorriso porque este sorriso só tem quem é de bem com a vida. Capitulei. Já não havia mesmo muito tempo para ficar esperando o príncipe.

Pois é, quem diria que aquele homem seria o meu príncipe! Quem diria que eu escreveria uma crônica com o título “O Príncipe” em que, emocionada, eu enumero as qualidades do verdadeiro príncipe:

“Nunca chegou até mim sem estar acompanhado de uma gentileza inigualável, daquelas que só príncipes encantados são credenciados para ter. Também faz comida cantando, me abraça apertado para dar bom dia, e acha graça quando corro de baratas. Ele me conhece, me consola, me conforta e me convence.”

E depois, com o tempo, descobri que ele, além de príncipe, é da Linhagem de Davi! E aquele sorriso perdura, é de um homem de bem com a vida! A Sandra tinha razão.

            Só para arrematar, eu dou um conselho às desavisadas: cuidado com os falsos príncipes! Têm cara de príncipe, modos de príncipe, mas não são príncipes!

 

    

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

NA CASA DE MINHA AVÓ

 

 

Na casa de minha avó

Todos os filhos se encontravam aos domingos

Todos se ajeitavam numa sala

Que hoje eu juro que não poderiam caber

Não fisicamente

Eles eram dez!

Vez ou outra faltava um ou dois

Hoje faltam todos

Todos se foram

Ficaram as lembranças

Os sussurros

As sombras

As saudades

Que povoam a sala e toda a casa

Em todo o tempo

A casa existe e resiste ao passado que insiste

A viver no presente.

 

LIMPEZA PESADA

 


     Fazia dias, para dizer a verdade, semanas, que eu dizia pra mim mesma: Olha o estado da máquina de lavar, cria coragem e limpa a máquina, não é tão penoso assim. Não, não é, eu sei que não é tão penoso assim, mas vou adiando. Às vezes acho mais fácil arrumar uma cozinha com milhares de coisas sujas por todo o lado do que lavar uma meia dúzia de gatos pingados do café da manhã. Bem, hoje fui à máquina. Tudo bem, estava até cantando enquanto limpava, quando vi a sujeira que estava atrás da máquina. Só limpar não dava, é claro. O negócio era jogar água. Acabei lavando a máquina o chão e as paredes.

Abandonei o computador e minhas ideias para crônicas por hoje. O momento de limpeza urgia, ainda mais depois que vi o esfregão Mop que implorava para ser lavado. Aliás, sou muito grata ao esfregão Mop, confesso que minha vida de escritora melhorou muito, minha vida de casada também, cem por cento depois que adquiri este inestimável companheiro para dividir as tarefas comigo, sem precisar mergulhar na água suja.

Olha, a coisa não ficou só na área não, já subi com tudo e lavei o outro banheiro. Perdido por um, perdido por mil. Quando desci, vi o pó em cima da mesa de vidro. Chega, de verdade, este pó vai ficar aí, até amanhã ou depois, quem sabe. Crônica hoje, não, hoje vou para a televisão, para um seriado ou um filme qualquer. Vou ler também. E principalmente vou rezar, tenho que aprender a repartir as horas e não deixar a oração por fazer.   

Os homens têm uma visão bem diferente sobre a limpeza da casa. Meu marido limpa sim, pega no pesado, a parte de cima é dele. Só que depois eu tenho que fazer uns ajustes, um acabamento, sabe como é? Puro perfeccionismo meu. Ele faz a comida e eu limpo tudo. Mas às vezes minha cervical dói, então ele diz: vai deitar, eu vou dormir e depois arrumo tudinho. Limpa sim, em quinze minutos. Depois eu dou um jeitinho melhor, mas não foi uma nem duas vezes que vi folha de repolho grudada no prato já lavado e no escorredor. Não falo nada, não reclamo porque eu sou um amor!

Nunca tive vida de rainha ou de princesa. Aposto que a Lady Di nunca lavou nem enxugou uma xícara, nem espanou, nem varreu, nem nada. Já, eu, bem novinha, tinha as tarefas que minha mãe determinava. Minha irmã ficava com a arrumação da casa e eu da cozinha. Ai que preguiça, vindo do colégio, queria botar as pernas pro alto e ler. Mas eu arrumava direitinho. Já meus três irmãos, que bom que nenhum deles vai ler esta crônica, nada faziam. Minha mãe dizia que eram homens, e só as mulheres deveriam fazer este tipo de serviço. Nossa irmãzinha caçula ainda era bem pequena, era dispensada. Hoje em dia, coitadinha, também trabalha muito.

Por hoje é só gente, tá ruim, mas tá bom. Aquela crônica que eu queria escrever,  aquela que tive uma grande inspiração, vou ter que deixar para a próxima semana. Minha vida é como eu conto no meu poema “Espetáculo da Vida”:

“De dia escrevo, lavo a louça, varro o chão.

À noite eu sonho

E nesta vida paralela eu componho

Os versos que ainda moram no meu coração.”  

 

 

 

 

LEMBRANÇA

 

 

Uma torta de banana com cobertura de suspiro

É cuidadosamente tirada do forno por minha mãe.

Nós, três ou quatro ainda,

Sentadinhos comportadamente,

Batemos palmas de alegria

Quem falou que a vida não valeu a pena?

Tudo passa

Tudo passou

Mas a torta de banana ficou.

O GRANDE AMOR

 

 

Todo mundo quer um grande amor

Desejo insano, ledo engano

O grande amor só é grande

Porque nunca foi

Quando o grande amor chega a ser

Já não será mais.

Não seja essa pessoa

De boa!

Queira amor de passarinho

Amor pequenininho

Que cresça devagarinho

Até que um dia

Seja amor furacão

Forte e terno

Dentro do coração.

BALANÇO E SENSIBILIDADE DE NERUDA

 

E vamos caminhando para os estertores deste ano tão atípico na vida de toda gente do Brasil e do mundo. Eu aqui tentando fazer um balanço do ano que vai expirar. Foi difícil, triste, com tantas perdas e danos. O que mudou? Ah, muita coisa. Nossos costumes mudaram. Por exemplo, antes da Pandemia, para sair de casa, eu passava um indefectível batonzinho e escolhia uns brincos que combinassem com o vestido. Agora, eu procuro a máscara que combine com a roupa. Nunca lidei tanto com álcool. E passo no sapato, na sola, dos lados, em cima, nos pacotes e caixas que chegam da rua. Continuo tão preocupada como estava nos idos de Março. Rio para não chorar.
Perguntei para meu marido que lição aprendemos para 2021. Ele me respondeu: aprendemos a nos cumprimentar como os japoneses e coreanos, e, embora já soubéssemos que é o certo, aprendemos que ao chegar da rua, os sapatos devem ficar do lado de fora. Já é alguma coisa.
O que não mudou este ano: meu eterno medo de baratas.
Mas, gente, eu gostaria de falar de coisas boas, pelo menos, bonitas e sensíveis, então, aqui vai uma coisa linda que li e copiei de uma crônica de Rubem Braga que copiou de Pablo Neruda contando de sua infância:
“As goteiras são o piano de minha infância. Meu pai sempre falava em comprar um piano que, além de permitir que minhas tias tocassem minha adorada valsa ‘Sobre as ondas’, daria à nossa família esse título inexprimivelmente distinto que vem da frase: ‘Eles têm piano’. Meu pai, nos momentos que o deixava livre sua vida de mobilidade perpétua, porque era chefe de trem, chegava até medir as portas por onde deveria passar aquele piano que não chegou nunca.
Mas o grande piano das goteiras durava todo o inverno. Logo às primeiras chuvas revelavam-se novas goteiras, de voz doce, que acompanhavam as antigas. Minha mãe espalhava bacias, vasos, jarras, latas. Cada uma dava um som diferente: a cada um desses vasilhames chegava do céu tempestuoso uma diferente mensagem, e eu distinguia o som claro de uma bacia de ferro esmaltado de lavatório do som opaco e amargo de um balde amolgado. Esta é quase toda a música, o piano de minha infância, e suas notas, digamos, suas goteiras, me acompanharam aonde me tocou viver, caindo sobre o meu coração e a minha poesia.” (Pablo Neruda)
Ri aqui porque me lembrei que minha mãe contava que minha tia contava que alguém contou que a mãe de uma família lá pelos anos de 50 costumava todos os dias chamar o filho para entrar gritando para toda a vizinhança ouvir: “Oh menino, entra porque está na hora da aula de piano.” E era e é chique mesmo.
Desejo a vocês todos um novo ano de beleza e sensibilidade porque precisamos de beleza e de sensibilidade, e obviamente, de muita saúde.

ANJOS NA TERRA

 


 

Quando o cansaço impera, quando as horas sem dormir se acumulam, quando o desânimo ataca e simplesmente queremos abandonar tudo e ir para bem longe para não sofrer mais, a única coisa que alivia é deixar as lágrimas escorrerem a bel prazer para a alma ficar mais leve. E o tempo passa e parece que nada acontece. Rezar? Não temos cabeça, nem coração e eu bem sei hoje que quando estamos assim, devemos procurar pessoas que imponham suas mãos abençoadas sobre nós e peçam a Deus que nos ajude. Não conseguimos nem articular palavra. E o duro é o silêncio de Deus. É que Ele conhece nosso limite e atenderá sim a oração feita com amor e humildade. Mas ainda não é o momento. Tudo é aprendizado. Não é a chegada, é a caminhada que nos faz crescer.

Sim, eu sofri tudo isso há muitos anos atrás. Minha mãe passou de uma séria depressão para uma demência. Tínhamos em casa uma pessoa de extrema compaixão e excelente ajudante para as tarefas domésticas. Ela foi o primeiro anjo que Deus já havia providenciado bem antes, Ele que sabe de todas as coisas e, portanto, sabia que passaríamos por provações. Somos impacientes, queremos que tudo se resolva na hora. Não é assim. Temos que respirar fundo e seguir batalhando. Chegará o momento.

Eu me lembro na época de pensar assim: deve haver alguma pessoa que entenda como lidar com tudo isso e esta pessoa ficará sabendo da minha angústia e ela vai bater à minha porta e dizer: Misa, deixa tudo comigo. Vai pra sua casa, toma um banho gostoso, deita na sua cama e descansa. A gente quer delegar, é humano. No momento simplesmente não há ninguém para delegar e nós não podemos abandonar o barco.

Aos poucos fomos encontrando cuidadoras, uma aqui, outra ali, mas nada é perfeito. Tivemos muitas decepções, erramos mais do que acertamos. Finalmente chegou outro anjo e seu nome era Sandra. Serei eternamente grata à Sandra pelos cuidados e carinho que dispensou à minha mãe. Como a mamãe gostava da Sandra! Que valor tem esta pessoa!

Algum tempo depois, a própria Sandra sugeriu que contratássemos sua irmã. Foi o terceiro anjo e seu nome era Meire, a moça que está com minha mãe na foto. Eu, particularmente, só pude dormir melhor quando sabia com certeza que minha mãe estava feliz com ela, sempre carinhosa, alegre e dispensadora dos maiores cuidados. Era reconfortante assistir ao sorriso estampado no rosto de minha mãe quando chegava quem ela gostava tanto, apesar de não ter a menor ideia de quem seria essa moça que chegava e ia embora. Nem mesmo seu nome ela sabia e quando queria chamá-la saíam os mais variados nomes possíveis.

Nunca vou me esquecer de quando essa preciosa colaboradora estava em seu último dia de férias e minha mãe, que até então não tinha percebido nem mencionado sua ausência, numa clara lucidez no meio de uma cruel demência, ela disse: “A Maria me deixou...” ao que eu me apressei em lhe dizer que não, que exatamente no dia seguinte ela voltaria, mas a essa altura sua mente já vagava por outras paragens, já havia se esquecido do comentário e da presença de sua Maria.

É imperioso que o idoso dependente goste de quem o cuida. A vida para o paciente se tornou cruel, ele praticamente já perdeu tudo, seus parentes, sua saúde e muito importante, sua autonomia. Ele depende inteiramente dessas pessoas. Se o paciente não sorrir feliz quando o cuidador chega, é preciso repensar. Procure outro, troque, até que haja empatia.

E tudo passa. Tudo passa, até que sobrevenham outras tempestades. Temos que nos lembrar de que esta vida não é nossa morada, é nosso barquinho (Sta Teresinha) e este barquinho é frágil no meio de tantas ondas bravias.      

Cuidar de uma pessoa idosa e demente é trabalho do coração, é dom. Minha eterna gratidão à Ana, Sandra e Meire que estiveram comigo em meus piores momentos de angústia, há tantos anos! Essas mulheres foram três anjos que desceram à terra e passaram pela minha vida e principalmente, pela vida de minha mãe, tornando seus últimos anos mais doces, mais delicados, mais felizes.    

 

CHUVA DE NATAL

 


Cá estou em minha salinha do computador ou meu escritorinho, como eu costumo chamar, minha toca. Acabei de fechar a janela porque a chuva intermitente engrossou e ameaça molhar meu computador. Se fosse no tempo antigo, algum escritor diria, “a chuva ameaça molhar meus papeis”. Há poucos dias meu marido ainda me dizia, não chove mais como antes. Pois a chuva escutou e veio. É quase verão, e mesmo mais fresquinho, sei que esta temperatura agradável logo vai esquentar, assim, vou abrir a janela, deixando este ar de chuva natalina entrar em minha salinha e minha alma.

Embora eu goste muito da chuva, como Rubem Braga, eu digo que a chuva me traz uma pontinha de tristeza. Acho bonita, bendita, sei que mais do que nunca a chuva é necessária, porém ela sempre chega com um quê de melancolia para me saudar. Hoje, especificamente, talvez seja porque o Natal se aproxima e como muitas outras pessoas eu também sinto um aperto dentro do peito. Penso que isso aconteça com pessoas mais velhas porque os velhos vivem mais de lembranças do que de sonhos. E esta chuvinha me lembrou um Natal antigo.

Não sei por que razão neste Natal de que falo, as coisas haviam melhorado financeiramente para meus pais. Pode ter sido por um premiozinho de loteria que meu pai tivesse ganhado. Eu me lembro perfeitamente de que ele sempre jogava na loteria e não é que por mais de uma vez ele ganhou alguma coisa? Nada que resolvesse os grandes problemas, mas sempre trazia um alívio, uma alegria, um prazer, como a cesta de Natal que já ficava garantida.

Então, minha mãe, toda animada, me chamou para “irmos às compras”, chique né? E debaixo de uma chuva fina, dessas típicas de Natal, percorremos várias lojas, esbarrando em pessoas também ávidas por comprar, e compramos presentes para todos nós e para os tios e primos. Nos demos ao luxo de presentear e para mim é verdadeira aquela máxima de que é mais gostoso presentear do que ser presenteado, é sim.  Voltamos para casa carregadas de embrulhos, cansadas e molhadas de chuva, mas com os pacotes intactos que procuramos proteger a todo custo. Estávamos excitadas e alegres, dessas alegrias que o dinheiro pode temporariamente proporcionar.

Eu me lembro de que me encarreguei de colocar os nomes em cada pacote para que os presentes chegassem às mãos correspondentes. Deixamos tudo empilhado num quartinho dos fundos e de quando em quando eu ia lá para conferir e admirar nossas compras. Eu sempre soube a razão do Natal, é claro, eu já nasci com saudades de Deus, mas nunca consegui me libertar do desejo de ir às compras, sou feita de desejos fúteis e inúteis, sou a imperfeição das imperfeições e Deus me ama assim mesmo. Bendito seja Ele!

Mas eu falava da chuva, e voltando a ela, eu aqui, olhando a cortina que agora desce bem fininha, banhando a cidade, vou me lembrando de outros Natais chuvosos. Penso nas chuvas que já caíram sobre a Terra desde o início da humanidade. A chuva é um presente, é abençoada, afinal quando Deus criou nosso Paraíso terrestre, entre suas ideias e invenções maravilhosas, estava a água que vem do Céu para regar. E também agora com muito carinho me lembro de minha mãe que depois de ter presenteado a nós e a tantos outros, recebe agora o justo presente, o Natal real e verdadeiro. Junto com a toda a Corte Celeste, ela deve estar ajudando Nossa Senhora a preparar a Ceia na casa do Pai. Que luxo!

                    

 

ZÉ MARIA

 

Hoje é o dia dele! - Zé Maria, o menino míope que apertava os olhos para poder ler tudo o que havia sobre o universo. Em casa, não precisávamos de enciclopédia, era só perguntar para ele quando havia alguma dúvida sobre um rio que passava no interior do sertão da Bahia ou da Suíça. Era o menino que importunava as professoras do Curso Primário porque já sabia tudo o que elas iam ensinar. Era o garoto que amava os Beatles e que cantava alto e de olhos fechados todas as suas músicas deitado no chão da sala. É o irmão querido que nos dá bom dia diariamente no whatsap ... buenos dias mi queridas hermanas ... good morning dear sisters ... o irmão carinhoso, gentil e sempre presente. Obrigada Zé pelo seu carinho, sua presença em nossa vida! Que Deus abençoe sempre você, e que seu espírito generoso continue colorindo nossos dias! Amo muito você!

PÁSSARO FERIDO

 

 

Passou por aquele local quem deveria passar. Neste mundo de Deus não há coincidências, os anjos continuam por aqui e há também pessoas de carne e osso como eu e você, que até podem ajudar outras pessoas, criaturas e criaturinhas de Deus. Mas há pessoas especiais, dotadas de uma alma muito mais sensível, muito mais profunda, pessoas realmente capazes de captar a dor de um coração ferido.    

“Coitadinha da pombinha, estava bem retinha no chão, as perninhas brilhantes no corpinho tão ferido. Estava morrendo completamente abandonada. Eu passei, a visão era insuportável, mas voltei. Voltei para conversar com ela. Eu a segurei no colo para dizer: vai para seu descanso em paz, criaturinha de Deus. Ela fez um breve movimento, amoleceu o corpinho e começou a pingar gotas de sangue vivo pelo seu biquinho. Morreu nas minhas mãos, guardei-a num cantinho para ninguém pisar nela.

Chorei muito! Coitadinha! Tão frágil e linda. Aproveitei o barulho dos carros para chorar alto, para dar vazão à dor que me consumia por dentro, para aplacar a tristeza que senti. Desculpe-me o desabafo, escrevi porque não conseguiria falar. Boa noite, minha linda amiga!”

Essas palavras não são de uma pessoa comum. Não. São de uma pessoa que se importa com os seres humanos e com os animaizinhos, com as aves do Céu. Ao voltar para casa, de noite, viu uma pombinha ser atropelada. Parou e foi pegá-la para que morresse em suas mãos.

Hoje estou triste, e esta história  verdadeiramente real e triste me abalou. Ultimamente tudo me abala, um cachorrinho que uiva a noite inteira e que eu não sei se está faminto ou preso numa corda pequena demais, as perdas que temos que lidar, o relato do Saramago sobre como ele, ainda criança, aprendeu a ver a dureza do mundo que às vezes se mostra como uma “coisa suja, enrugada e informe”. O que me salva no momento é a música “Wedding day”, linda ...

Fátima, minha amiga, você é um anjo que Deus escolheu para cuidar de suas criaturas. Se não puder cuidar delas com alimentos, terá sempre seu colo para acolhê-los em seus últimos momentos. Você é aquela mãe que todos os filhos sempre sonharam ter. Você é uma mulher de Deus que a todos aconselha com sabedoria. Mulher de compaixão e amor. Te amo muito!