O PRIMEIRO AMOR
Todo
mundo já teve um primeiro amor. Mente quem falar que não. Quando falo em
primeiro amor quero dizer o amor da meninice, aquele período depois da infância
e antes da adolescência. É um período mágico em que só fazemos sonhar. Por
outro lado, também é um tempo extremamente sensível, sujeito a chuvas, trovões
e tempestades, bastando um fato qualquer para desencadear um drama danado.
Assim foi comigo e penso que é assim com todo mundo. Saímos da infância e logo experimentamos
sensações diferentes. Desdenhamos a infância e já sonhamos em ser mais velhos.
Bom,
comigo foi assim. Eu tinha dez ou onze anos e de repente fui assaltada por um
sentimento totalmente novo. Eu estava absolutamente apaixonada por um menino,
rapazinho mais velho, acho que teria uns quinze anos. Como começou isso? De
onde veio este sentimento? Não sei. Enquanto digito, levanto os olhos por um
momento e reflito sobre a complexidade e beleza das mudanças de nossas fases na
vida.
O
menino que eu amava, idolatrava e adorava era um menino que veio de longe e que
ficou no “internato” do ginásio de Pedralva. Como eu sempre falo de coisas
reais que aconteceram comigo, fica até perigoso, pois este menino perdido no
tempo pode até ler esta crônica onde estiver. Tudo bem. Sou uma contadora de
histórias. Assumo. Falo de mim que é a história que mais conheço. E como disse
Miguel de Cervantes em “O colóquio dos cachorros”: “É melhor gastar o tempo
contando a nossa própria vida do que procurar saber das vidas alheias.”
Enfim, o menino me deu o maior
desprezo de minha vida. Sofri, comi o pão que o diabo amassou, mas eu o amava
loucamente, perdidamente. Acho que quanto mais ele me desprezava mais eu o
amava. Ele chegou até mandar um recado pra mim: você pode desistir que não
gosto de você, eu até poderia namorar sua irmã que é mais velha, você não. Logo
depois, mudamos para Itajubá. Metade do rio de lágrimas que chorei foi por
ficar longe dele, metade foi por não ter mais aquelas montanhas maravilhosas
que cercam Pedralva. Até hoje amo aquelas montanhas, mas não amo mais aquele
menino bobo que não sabe nem nunca saberá o que perdeu.
É
muito difícil que o primeiro amor dê certo. Não, não vai dar. Pode acontecer
como em um caso que conheço, em que cada um partiu para sua própria vida e mais
tarde, já maduros, reencontraram-se. É uma história linda! Mas não foi um amor
platônico, ambos namoraram na adolescência, e gostavam um do outro, mas por
qualquer motivo, não deu certo. Tiveram que esperar muitos e muitos anos para
serem felizes. Valeu a pena. Um amor platônico não vai dar certo, tanto é que
se chama platônico.
O
primeiro amor é um terno amor e ao mesmo tempo, avassalador. É terno porque não
existe nada mais terno do que uma menina apaixonada ou um menino apaixonado.
Uma amiga me confidenciou que queria que a mãe colocasse o nome de seu secreto
amor no irmãozinho que havia nascido. Achei lindo! Fiquei emocionada! Que
grande e terno amor.
Uma
coisa é fato: o primeiro amor, tal qual o primeiro sutiã ninguém esquece. Para
dizer a verdade, do sutiã não me lembro, embora eu tivesse loucura para usar
sutiã. Era meu sonho, um sutiã e um saltinho. Confesso que vivi!