quarta-feira, 18 de agosto de 2021

O PRIMEIRO AMOR

 O PRIMEIRO AMOR

 

Todo mundo já teve um primeiro amor. Mente quem falar que não. Quando falo em primeiro amor quero dizer o amor da meninice, aquele período depois da infância e antes da adolescência. É um período mágico em que só fazemos sonhar. Por outro lado, também é um tempo extremamente sensível, sujeito a chuvas, trovões e tempestades, bastando um fato qualquer para desencadear um drama danado. Assim foi comigo e penso que é assim com todo mundo. Saímos da infância e logo experimentamos sensações diferentes. Desdenhamos a infância e já sonhamos em ser mais velhos.

Bom, comigo foi assim. Eu tinha dez ou onze anos e de repente fui assaltada por um sentimento totalmente novo. Eu estava absolutamente apaixonada por um menino, rapazinho mais velho, acho que teria uns quinze anos. Como começou isso? De onde veio este sentimento? Não sei. Enquanto digito, levanto os olhos por um momento e reflito sobre a complexidade e beleza das mudanças de nossas fases na vida.

O menino que eu amava, idolatrava e adorava era um menino que veio de longe e que ficou no “internato” do ginásio de Pedralva. Como eu sempre falo de coisas reais que aconteceram comigo, fica até perigoso, pois este menino perdido no tempo pode até ler esta crônica onde estiver. Tudo bem. Sou uma contadora de histórias. Assumo. Falo de mim que é a história que mais conheço. E como disse Miguel de Cervantes em “O colóquio dos cachorros”: “É melhor gastar o tempo contando a nossa própria vida do que procurar saber das vidas alheias.”

            Enfim, o menino me deu o maior desprezo de minha vida. Sofri, comi o pão que o diabo amassou, mas eu o amava loucamente, perdidamente. Acho que quanto mais ele me desprezava mais eu o amava. Ele chegou até mandar um recado pra mim: você pode desistir que não gosto de você, eu até poderia namorar sua irmã que é mais velha, você não. Logo depois, mudamos para Itajubá. Metade do rio de lágrimas que chorei foi por ficar longe dele, metade foi por não ter mais aquelas montanhas maravilhosas que cercam Pedralva. Até hoje amo aquelas montanhas, mas não amo mais aquele menino bobo que não sabe nem nunca saberá o que perdeu.

É muito difícil que o primeiro amor dê certo. Não, não vai dar. Pode acontecer como em um caso que conheço, em que cada um partiu para sua própria vida e mais tarde, já maduros, reencontraram-se. É uma história linda! Mas não foi um amor platônico, ambos namoraram na adolescência, e gostavam um do outro, mas por qualquer motivo, não deu certo. Tiveram que esperar muitos e muitos anos para serem felizes. Valeu a pena. Um amor platônico não vai dar certo, tanto é que se chama platônico.

O primeiro amor é um terno amor e ao mesmo tempo, avassalador. É terno porque não existe nada mais terno do que uma menina apaixonada ou um menino apaixonado. Uma amiga me confidenciou que queria que a mãe colocasse o nome de seu secreto amor no irmãozinho que havia nascido. Achei lindo! Fiquei emocionada! Que grande e terno amor.

Uma coisa é fato: o primeiro amor, tal qual o primeiro sutiã ninguém esquece. Para dizer a verdade, do sutiã não me lembro, embora eu tivesse loucura para usar sutiã. Era meu sonho, um sutiã e um saltinho. Confesso que vivi!

INVERNO PRA LÁ DE FRIO

 INVERNO PRA LÁ DE FRIO

 

Confesso que este inverno foi, digo foi porque acho que o pior já passou, para mim um dos mais cruéis de que tenho lembrança, aqui em Itajubá. Já provei outros piores, mas um especialmente ficou marcado.

Eu, Sandra, Musa e Fernando fizemos uma viagem maravilhosa: Buenos Aires, Bariloche, Lagos Andinos, Puerto Montt, Santiago, Vinha Del Mar, Valparaíso. Isso foi início de 80, tempo pra caramba, quarenta anos mais ou menos. Era minha primeira viagem de avião. Tudo começou com um imenso atraso em São Paulo. O voo deveria ter saído no meio tarde e acabou que saiu às 11 da noite. Em Buenos Aires chegamos a dormir umas duas horas e logo o guia veio nos acordar para a viagem à Bariloche. Curtiríamos Buenos Aires só daí a uma semana.

Bom, vamos lá. Um frio em Bariloche que já sentimos de cara. Tudo bem, eu tinha algumas peças para o frio, na verdade, eu não tinha o que servisse porque não eram roupas suficientemente quentes para o frio que faz lá. Mal nos acomodamos no hotel, o guia veio nos chamar para um passeio no Cerro Catedral. Tudo bem, bora lá gente. Com um pouco de sono, lá fui. Um espetáculo deslumbrante, uma montanha de neve. Nunca tinha visto neve. E falaram por lá que naquele ano, naquele período não tinha neve, que estava fraco, pra mim não.

Eu nunca passei tanto frio em minha vida. Eu estava com uma blusinha de nada, fininha, fininha no meio daquele gelo. O pessoal lá mega agasalhado, e nós podíamos ter sido avisadas para nosso maior conforto. Eu tiritava de frio e não tinha pra onde correr. Devia haver uma cafeteria, um restaurante logo mais abaixo. Mas gente, era minha primeira viagem, eu não ia sair de perto do povo. E o medo de me perder? E o mico? E a timidez? E a bobice? Fazendo de conta que não sentia o frio. Com risco de morrer de frio e fazendo cara de calor. Sei que quando entramos no ônibus para vir para a cidade, eu tive uma sensação maravilhosa, aquela quentura que saía do aquecedor e desejei que aquele calor não passasse nunca mais. Logo tomamos um café, um banho quente gostoso e fomos jantar.

No final da noite houve um “carnaval”, todo mundo dançando, sambando no salão do hotel. Eu com os olhos que se recusavam a ficar abertos, afinal, já estávamos quase 24 horas sem dormir, aquele frio desgraçado e depois banhos quentes, quartos quentes, comida quente, ah, o sono pegou impiedoso. Eu me lembrei que os antigos diziam que criancinha pequena chora quando tem sono porque sentir sono dói, e demorar pra dormir é um desconforto. Pobrezinhos dos bebês! Pobrezinha de mim! O sono fazia tudo doer em mim. Quando entrei no quarto, comecei a chorar que nem um bebê, vesti meu pijama, bati na cama e pensei: se alguém vier acordar a gente, eu não vou, vou ficar o dia inteiro nesta cama deliciosa. Depois daquele turbilhão de emoções físicas e psíquicas, eu merecia.

E dormi até às 10h da manhã. Sem mentira nenhuma, como dizia minha mãe, acho que foi a única vez na vida que acordei essa hora. Bom, acordei e achei a Sandra e a Musa super acordadas, batendo o maior papo. A Musa disse: uai Misa, e o banho que você é sempre a primeira a tomar? Já sei. Você acordou de madrugada, foi tomar banho e voltou pra cama, sem contar pra ninguém. Pegavam no meu pé.

O restante da viagem foi tudo bem. Depois de uma semana em Bariloche, ficamos em Buenos Aires e seguimos para o Chile. Em Puerto Montt saímos para passear por nossa conta e cansados do frio da rua e com fome entramos em um bar/restaurante onde acabamos por escolher pizza. Veio como acompanhamento da pizza um jarro de vinho. Naquela época nenhum de nós bebia. Mas quando a gente está fora, tudo pode acontecer, vale tudo, assim encaramos o vinho. Claro que saímos trocando as pernas. O vinho desceu esquentando e a pizza deliciosa matou nossa fome. Tudo passa. Minha vida é metade ternura, metade saudades.

Sempre tive vontade de voltar a Bariloche. Se ou quando a Pandemia acabar de verdade, eu vou. Por enquanto, só ficaram as saudades congeladas no meu coração! 

INSTINTOS E SENTIMENTOS

 INSTINTOS E SENTIMENTOS


Eu sempre soube que os animais são criaturas, diferentes de nós, humanos, que fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Sempre soube que nós possuímos alma e eles não. Sempre soube que o Céu existe para quem o merecer, antes de mais nada, isso para nós, humanos. Os animais não irão para o Céu. Será que não? Não gente. Eu adoraria que fossem. Adoraria encontrar lá no Céu com a Joia, a última perdigueira de meu pai e da qual me lembro muito bem, com muitas saudades. Aliás, adoraria que os dois estivessem juntos, a Joia e o papai.

Bem, ontem ouvi de uma pessoa algo que me deixou encucada. Disse ela que os animais são só instinto, que eles não têm sentimentos. Eu até aceito que os cães e os gatinhos e as aves e os elefantes e as borboletas não vão para Céu, mas não aceito que os animais não tenham sentimentos. Têm sim. Dá para ver quando é instinto e quando é sentimento. É fácil, é só entrar no universo do Youtube e procurar os vídeos de animais. Todo mundo sabe como os animais sentem.

Assisti a um vídeo mostrando uma cachorrinha que estava em depressão. A pobrezinha teve vários cãezinhos. Foram tirando dela, um a um. Só restou o último. Ela se apegou a ele com desespero. Mãe e filho eram um só. Pois bem, tiraram o filho dela. Ela não comia, não bebia, não vivia. Levaram a cachorrinha para a veterinária. Põe soro, cumula de amor e carinho, e nada. Não me lembro como foi, mas o fato é que souberam para onde havia ido o último cãozinho. Trouxeram lá o bichinho. E a câmera mostra a cachorrinha que era a própria imagem da tristeza, com o focinho sobre as duas patinhas, com um ar de quem queria morrer mesmo. Quando a veterinária trouxe o cãozinho e o colocou diante da mãe, gente do Céu! Ela se pôs em pé com suas quatro patas e pulava pra cá e pulava pra lá. Mordiscava o bichinho, gania de alegria. Cadê a tristeza? Se fosse só instinto, ela não faria isso. E não me digam que qualquer cãozinho serviria, podia até ser, pois acontece de cães adotarem gatos e vice-versa. O que eu quero dizer é que ela estava na clínica rodeada deles e sua tristeza era notória. Bem, mãe e filho foram felizes para sempre.

E aquele vídeo que mostra o leão imenso, um gigante de bicho que quando reconheceu seu tratador desde pequeno em uma reserva, veio à toda a velocidade e pulou no colo do rapaz que mal podia se equilibrar, mas foram para o chão os dois, e o leão mordiscava e fazia carinho, gente que lindo! O leão estava solto já na floresta e reconheceu seu amigo depois de muitos anos. Instinto? Pois sim.

E mais o caso da mãe gorila que fica desesperada, louca, tentando salvar seu filhote que estava preso apenas por um galho quase despencando num abismo. Os outros gorilas também tentavam ajudar de tudo quanto é jeito. Eles conseguem puxar o filhote. E ver mãe e filho abraçados, a mãe chorando de alegria é lindo! Todo mundo merece!

E os golfinhos que se recusam a comer após a morte do companheiro? E os gansos que procuram pelo companheiro perdido até ficarem desorientados e morrerem?

Instinto? Não, pelo amor de Deus! É sentimento.   

Só de ver minha irmã com seus gatinhos e do que eles são capazes por amor! Só São Francisco para explicar. 

Temos muito que aprender com os animais, com os bichos. Seríamos melhores, muito melhores. Agora, se eles vão para o Céu, acho que não, mas que têm sentimentos, isso têm, sim senhor! 

Termino aqui com uma frase da Rachel de Queiroz que diz tudo: “E quem sabe se não há por aí muita alma fechada que, começando a se interessar pelos cachorros, acabará se apaixonando pelos homens”?