Fui arrancar os matinhos dos vasos e percebi uma planta nova que havia nascido ao lado de outra. Chamei meu marido e ele me lembrou que era o “gengibre” que minha prima havia nos presenteado e que eu mesma trouxera. A planta tinha uma espécie de um verde muito bonito. Eu aproveitei para mostrar a ele a Madressilva que está sem suporte para crescer e decidiu se enrolar na planta do outro vaso ganhando alturas.
Ele me
disse: é assim mesmo, deixa que ela se enrole onde quiser, você nunca entrou em
uma floresta? Floresta mesmo, não um horto florestal, floresta densa. Eu, nunca
né. Morreria de medo. E ele prosseguiu: É o caos no bom sentido. As plantas
crescem desordenadamente, árvores, arbustos, samambaias, trepadeiras, até
cobras de todas as cores. Aí chega o homem e quer pôr ordem no caos da
natureza. Quer que os pinheiros fiquem enfileirados, todos obedecendo a mesma
distância uns dos outros. Isso não existe. O caos é necessário para trazer
harmonia. Achei lindo! Oh puxa-saco!
Aí
transpus para nossa vida, a vida de cada um. Dentro e fora de nós também é
assim. Ninguém consegue viver ordenadamente durante muito tempo. Nossos
pensamentos muitas vezes são caóticos. Minha casa é o caos total, vivo
planejando segunda limpo isso, terça aquilo, de repente, por um motivo ou
outro, o planejamento fura. Faço um cavalo de batalha por causa disso. Que
bobagem! Alguns dias depois, tudo está limpinho. O caos existe e temos que
conviver com ele. Importa viver bem.
Tudo
parece correr bem até que as tempestades irrompam e interrompam nossos planos.
As tempestades de preocupações, de aborrecimentos, de doenças, de tristezas, de
perdas, enfim, as tempestades que fogem do nosso controle de navegação. E
ficamos à deriva. Depois de algum tempo ou muito tempo, tudo se acalma e prosseguimos.
Na vida sempre teremos tribulações e quando o caos irrompe, é difícil, muito
difícil. Até sabemos que vai passar, mas até que passe, respiramos pesadamente,
lutamos para compreender o que não podemos compreender, somos inundados de
pensamentos tenebrosos, somos só trevas.
Mas,
passado o caos, quem tem olhos percebe que era preciso que tal calamidade
acontecesse para gerar um bem que jamais pensamos que fosse possível. Acredite,
tudo fica iluminado e quanto mais intenso o caos, maior será a luz. Já dizia
Nietzche, “É preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela
cintilante.”
Enquanto
há vida, há esperança. E quando a morte vem? Há esperança também. A esperança
final, a esperança mais bonita, mais forte e mais iluminada. Quem já viu lampejo
dessa luz anseia pela morte!