quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

SE EU NÃO FOSSE GENTE

 

 

Se eu não fosse gente

Seria uma gatinha de olhos azuis

Chamada Mel

Teria de meu:

- Uma bolinha de papel

- Um motorzinho dentro do peito

Ronronando no coração

Sinal de satisfação

- Uma caixinha de papelão

- Um barbantinho velhinho

Quanta riqueza!

Eu seria feliz

Como sempre quis.

 

REFLEXÕES

 

Vivo de abismo em abismo

Ora penso, ora cismo

Ora paro, ora piro

Sempre à procura

Da peça final

Da rima fatal

Da cura inútil

Do riso fútil

Vivo de abismo em abismo

Ora paro ora cismo

A vida por um fio

Na alma um calafrio

Ainda assim

Bem no fundo de mim

Vagueiam delírios, lampejos

E desejos de milagres sem fim.

 

 

ENTRE A MANHÃ E A TARDE

 

Bom dia Deus e

Anjos Seus

Bom dia Céu

Bom dia Sol

Do dia o farol

Bom dia pássaros

Alegres e saltitantes

Bom dia flores

Meus amores,

Sim, estou feliz

Como de férias em Paris

Porém sei que a tarde

Traz tempestades hostis

Porque assim é a vida

Amarga e colorida

E entre a manhã e a tarde

O tempo se muda

Assim Deus quis

E Ele sempre ajuda

A Ele o louvor

Por toda a vida.

  

O MILAGRE DO OVO


Uma galinha choca quietinha no balaio

Eu vigio a galinha de soslaio

E ela vigia com olhinhos morteiros

Meus gestos sorrateiros

 

De repente ela pula e sai cacarejando

A galinha surta e sai cantando

Sua alegria é notável

Cócóricocó! É adorável!

E num segundo

Ela abre as asas sobre o mundo

A galinha está feliz

Ela quer que o mundo saiba

Que o milagre do ovo aconteceu

A galinha é mais feliz do que eu!   

A HUMANIDADE DE JESUS

 

 

Duas passagens na Bíblia me encantam. Uma delas é quando Jesus é chamado por Maria e Marta para vir em socorro de Lázaro, que estava seriamente doente. “Senhor, aquele que tu amas está enfermo”. Jesus amava Marta, Maria e o irmão delas, Lázaro. Mas Jesus demorou dois dias no mesmo lugar antes de seguir para Betânia. Quando lá chegou, Lázaro jazia há quatro dias no sepulcro. Marta foi ao encontro de Jesus e disse-lhe: “Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido”. Maria também se lançou aos pés de Jesus, e disse-lhe chorando muito: “Se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido”. Ao vê-la chorar assim, como também todos os judeus que a acompanhavam, Jesus ficou intensamente comovido em espírito, e sob o impulso de profunda emoção. Jesus pôs-se a chorar. Jesus chorou. Pronto, é aqui que me comovo e choro com Ele. Jesus era verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem. Mas vê-lo agir assim humanamente, como todos nós, é sublime.

Quando vamos a um velório, também ficamos tocados, também ficamos tristes e choramos. Não posso presenciar um choro que também choro. Essa separação, essa tristeza pela perda de alguém é dolorosa, é demasiadamente humana.

Quantas vezes já choramos nesta vida e quantas vezes ainda haveremos de chorar? Só Deus sabe. E agora me vem a lembrança de minha irmã me confidenciando que não pode ver o nome de nossa mãe em qualquer documento ou texto que sente uma imensa vontade de chorar. Também quando minha irmã tomou posse no serviço lá no norte de Minas, com apenas vinte anos de idade: estava ela com duas colegas almoçando no restaurante da pensão quando viu o papai entrando no restaurante. Ela sabia que ele iria lá, mas não o dia e a hora e quando o viu, foi ao seu encontro já debulhando em lágrimas e ele também. Benditas lágrimas de afeição, de amor. Minha mãe diria: ora, que bobagem! Mas ela também se emocionava muito às escondidas, é claro! Como acho divina esta fábrica de lágrimas, este vale de lágrimas que se forma numa secreta fonte subterrânea, um mar de águas salgadas que acorrem quando chamadas. Quem poderá impedir que essas lágrimas saltem dos olhos? Quantas vezes já mordemos os lábios, tentando disfarçar, mas elas ignoram nosso esforço e escorrem por nossas faces, copiosas! Coisas de Deus que em tudo pensou.

Outra passagem que me toca muito é quando Jesus, já no Horto Getsêmani, diz: “Minha alma sente uma tristeza mortal”. Ali, puramente homem, no meio de um abandono extremo e de uma solidão incompreensível, expressões que decorei das “Orações de Santa Brígida”, ele externou o seu sentimento de tristeza mortal. Quantas vezes nós já nos sentimos assim e haveremos de sentir? Com a alma totalmente devastada! Não houve nem haverá ser humano que não tenha sentido uma tristeza mortal.

Santa Tereza de Ávila dizia que quando o sono fugia, ela tinha o cuidado de se imaginar no Horto das Oliveiras fazendo companhia a Jesus, afinal ali, Ele estava sozinho em sua dor, pois os discípulos dormiam. E ela dizia: como Ele não tinha mais ninguém a lhe fazer companhia, talvez aceitasse de bom grado a companhia desta pecadora e pessoa tão ruim que sou. Imagine! E ela nos convida a empregar esta mesma prática para nos aproximarmos de Jesus.

A humanidade de Jesus me comove muito. Muito, muito.

 

           

MULHERES DE DEUS


Sempre me impressionei com mães que passaram pela tragédia de perder seus filhos tão cedo e tiveram uma espantosa atitude de aceitação, afinal, a morte de um filho será sempre uma dor absurda e absolutamente insana. Conheço algumas mães que sofreram essa perda e admiro imensamente cada uma delas. Havia em seu silêncio uma dignidade e uma força que me fizeram lembrar de Nossa Senhora aos pés da Cruz de Jesus. 

Uma dessas mães perdeu seu filho há poucos anos. Sofreu todas as etapas daquele calvário, chorou todas as lágrimas, e enfrentou tudo com humildade. Se havia perguntas em seu coração, guardou-as ali mesmo e tocou a vida. Mesmo com uma espada atravessada em seu coração, ela continuou cuidando da casa, do marido tão devastado quanto ela, continuou trabalhando na igreja, continuou fazendo adoração ao Santíssimo e louvando a Deus.

E aconteceu que na véspera de completar três anos de morte do filho, ela teve um sonho muito significativo: o rapaz estava feliz no Céu, parecia ocupado com algumas funções, especialmente acendendo muitas velas num lugar muito bonito, talvez em um altar. Ficou patente para ela a felicidade do filho, já liberto das dores da terra. Bem, ela acordou pensativa e feliz, agradecendo a Deus pelo sonho. E foi à missa naquela noite. No início da celebração o Padre pediu a ela e seu marido que acendessem as velas do altar, e lá estava ela fazendo exatamente igual ao filho no sonho. Emocionada, não pôde conter as lágrimas, pois as lágrimas não foram feitas para serem contidas. Vale dizer que o Padre nada sabia sobre o aniversário de morte do rapaz, tampouco sabia do sonho dessa mulher.

Este relato me pegou de jeito, entrou no meu coração com uma suavidade que não tenho palavras para descrever. Fui invadida por um sentimento de amor, de admiração por Deus que permitiu que uma trilha divina se abrisse para que mãe e filho se encontrassem espiritualmente “acendendo velas” no altar do Senhor no Céu e na Terra. Como as coisas de Deus são finas! 

Se eu chamasse Santa Teresa de Ávila para me explicar essa coincidência santa e feliz, ela certamente me diria que “Sua Majestade” fez uma gentileza à mulher, um gesto de carinho e de amor. Também diria que Deus sempre nos dará por outros caminhos o que nos tira por este, pois que Sua Majestade de tudo sabe, e são mui ocultos Seus segredos. Uma coisa é muito certa: Deus nunca vai nos deixar de mãos vazias.     

Deus é soberano! Assim me disse outra amiga, num momento de dor profunda ao enterrar sua filha. Ela nunca me pareceu tão serena, mesmo imersa num abismo de dores.

Que Deus nos dê humildade e aceitação diante de situações que não entendemos. Que Nossa Senhora sempre nos ensine a guardar tudo em nossos corações. Amém. 

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

ESPERANÇA

 

Essa que em mim se embrutece

Quando o caldo entorna

E o mal acontece

É essa que também se enternece

Vendo um bebê que adormece

 

Essa que em mim chora

Quando tudo parece perdido

É a mesma que sorri sem demora

A crer que

De hora em hora Deus melhora

 

Essa que em mim se entristece

Vendo o mundo se desmanchar

Sofrendo e sentindo o chão faltar 

É a mesma que tudo agradece

E louva a Deus em uma prece

 

Essa que em mim sente medo

Angústia e insegurança

É a mesma que nunca se cansa

Que luta, que sofre, que ora, 

Que teima em ter esperança.

 

 

 

 

 

MUNDO INVERTIDO

 

Tantos amores vivi

Tantos amores perdi

Tantas dores sofri

Com o passar dos anos, entendi

Que neste mundo tão invertido

Tão partido e repartido

Nada de fato se perde

Tudo se transforma

E o amor que era perdido

Sempre volta de outra forma

Contudo, há que conformar

Pois viemos cá para amar

E não há como amar sem perder

Nem há como viver sem doer!

IMPRESSIONE


Recebi uma mensagem com um texto adorável de Bruno Pitanga, fazendo um jogo com as palavras de tal forma que ao trocar, retirar ou acrescentar um prefixo que atribui um sentido contrário à palavra, encontramos um alento para viver melhor. Assim, ele diz: “não se preocupe, se ocupe”, “não se incomode, acomode”, “não maltrate, trate bem”, “não conspire, inspire”, “não pressione, impressione, impressione pela humildade, impressione pela simplicidade, impressione pela elegância”.

Esta última do “impressione” deveras me impressionou muito, me pegou de jeito. Refleti comigo, que legal! não é? A gente desistir de pressionar os outros ou a gente mesmo. Às vezes sofro por causa disso. Que bobagem!

Bem, mas eis que no mesmo dia que li esta mensagem, ouvi uma homilia do Padre Bráulio D’Alessandro, que gosto muito de seguir. E ele falou uma coisa que veio ao encontro desta mensagem. Disse ele que certa vez, São Francisco de Assis saiu com os frades para evangelizar. Passaram por vários lugares, estiveram com muitas pessoas e voltaram para Porciúncula, quando um dos frades perguntou ao santo:

-Pai Francisco, o que aconteceu? Nós saímos para evangelizar e nenhum de nós falou. O que houve? E Pai Francisco respondeu:

-Não meu filho, nós saímos para evangelizar e evangelizamos sim. Saímos e pregamos o Evangelho a todos.   

-Mas nós não falamos uma palavra!

- Não é preciso falar nem uma palavra. A nossa vida fala por nós, com nossas atitudes, com nosso coração reto e sincero, com nosso modo de ser, nosso olhar, nosso sorriso, nossa vida interior. Temos que viver de tal forma que possamos irradiar uma luz que vai atrair e impressionar as pessoas. Madre Teresa de Calcutá impressionava os reis, os políticos, os donos do mundo que se curvaram para ela, para aquela mulher pequena que era cheia de esperança e levava essa esperança para os outros. Ela não pressionava ninguém, apenas impressionava! Assim pregou o Padre Bráulio!

Sempre penso que os pais devem sim aconselhar os filhos, porém o que mais os filhos irão guardar em seus corações serão os exemplos que os pais deixarem para eles. As atitudes e comportamentos que são nobres e corretos permanecerão para sempre.

No filme antiquíssimo de 1944, “As chaves do reino”, com o famoso Gregory Peck, o padre e o chinês ateu se tornaram amigos. Cada um tinha sua crença, seu pensamento, seu modo de ver o mundo. Nenhum dos dois forçou a barra, nenhum dos dois tentou “pressionar” o outro. Um aprendeu com o outro. Ambos eram humildes.

A humildade é o começo, o meio e o fim.

Impressionemos.