Outro
dia vi no Face uma dessas postagens prontas que falava aos pais para não se
preocuparem tanto com o futuro acadêmico de seus filhos, mas sim em
ensinar-lhes a honestidade, a compaixão, a delicadeza do acolhimento. Depois,
lendo o poema “Sobre a vida dar certo” de minha amiga Debora Laurito Friend,
refleti sobre essas questões.
Quando
vejo um bebezinho desses de dias apenas, dormindo placidamente e já sorrindo,
ou mamando sofregamente no peito da mãe, eu me pego pensando: ai meu Deus! Que
mundo espera este ser? Ou o que esta criaturinha vai ter que encarar nesta vida
tão competitiva? Pois é. O bebê não sabe, mas desde bem cedo ele vai enfrentar
a fila, a luta, a lida, o ringue, vai aprender a duras penas que passados
pouquíssimos anos de sua doce vidinha, já irá para a escola, aquele lugar aonde
vai se socializar, ou dizendo de outra maneira, vai descobrir em qual das
turminhas ele se encaixará melhor, ou menos pior. Vai gostar mais de alguns,
menos de muitos. Bem-vindo cara! Esta é a sua vida. Bem-vindo ao inferno que
são os outros, ops, bem-vindo ao universo capitalista competitivo. Agora não é
nada, espera só e você vai ver mais tarde!
E logo ele vai descobrir que precisa
dar certo na vida porque todos esperam que ele dê certo na vida. Vai ter que
tirar 100, vai ter que passar nos primeiros lugares em qualquer ENEM por aí,
mas vai ganhar aquela faixa que os pais botam na frente da casa: Parabéns
fulano, 1º lugar em tal Universidade, em outra e naquela outra. Isso pode
parecer uma coisa boa, contudo esta faixa talvez se torne mais um complicador
para suas esperadas futuras vitórias, talvez só sirva para os vizinhos saberem
que seus filhos não são tão bons como aquele jovem. Ele vai ter que batalhar
aquele emprego sonhado por muitos, vai ter que fazer bonito, vai ter que ganhar
dinheiro, muito dinheiro, vai ter carrão importado. Depois vai ter seus
próprios filhos e vai ensiná-los como vencer na vida, enfim, como dar certo na
vida!
Mas
nem sempre damos certo na vida. Às vezes as coisas fogem do nosso controle. Fazemos
tudo que está no manual e dá errado. Não adianta seguir uma regra porque as
regras são tão quebradas desde que o mundo é mundo. Minha mãe costumava dizer
que nunca quis que os filhos tirassem nota máxima, que ser mediano já estava de
bom tamanho, dizia até que sentia medo de filho prodígio. Nunca fomos alunos
excepcionais, nem pessoas bem sucedidas da forma como a sociedade ou o mercado
exigem, afinal, dar certo na vida segundo os padrões atuais pode ser um
martírio.
Afinal, o que é de fato dar certo na
vida? Talvez as coisas devessem mesmo dar mais errado pra a gente ser feliz!
Pra gente poder contrariar o sistema, contrariar os ditames tidos como certos.
Conheci gente que não estudou e foi e é feliz e bem sucedido. Conheci quem
brilhou nas escolas e depois empacou. Meu marido me contou que viu o depoimento
de uma mulher que trabalhava numa empresa poderosíssima, mas tomava
medicamentos o dia todo, aí um dia largou tudo, foi pra roça, pra roça mesmo.
Aprendeu a plantar, a colher, e hoje não toma nadica de nada.
Dar certo na vida? Talvez o certo na
vida seja o errado, como disse minha amiga Debora em seu poema “Sobre a vida
dar certo” – “Em algum dia, tudo finalmente dê errado, e sejamos felizes”. Eu
poderia hoje ganhar mais do que ganho, bem mais, se eu não tivesse saído
daquele emprego, mas aí também eu não teria feito as outras coisas que fiz, não
teria conhecido tantas outras pessoas fabulosas, não teria me deliciado com
tantos saberes e sabores degustados nos livros incríveis que eu devorei, não
teria aprendido a escrever sobre o que eu sinto e o que eu penso. Passaria a
vida toda sem saber que eu era capaz de fazer um poema. Já pensou?
E novamente me pego refletindo: Que
se dane o certo na vida! Por que não colocamos faixas pregadas na frente de
nossas casas, tipo: “filho, eu te amo! Sinto o maior orgulho em ser sua mãe,
seu pai, sua tia! Você é um tesouro para mim”. Sem necessariamente que ele
tenha tirado a nota máxima, conseguido entrar em primeiríssimo lugar na
universidade sonhada, ganhado aquela bolsa de estudos na Finlândia, Canadá ou qualquer
outro lugar elegante. Fazer uma faixa assim, simplesmente: e u t e a
m o p o r q u e t e
a m o !