O quartel general das blattodeas
vem, com grande preocupação, alertar aos seus membros do perigo iminente que
nossa grande comunidade está à mercê. A despeito de sermos conhecidos como uma
raça inextinguível pelas piores catástrofes naturais e até pela destruição do
planeta Terra, pela primeira vez o Conselho Ortóptero confessa que se sente
vulnerável e acha por bem comunicar a todos que nosso futuro já dá sinais
claros de esgotamento e consequente desaparecimento. Acreditamos sinceramente
que há tempo para reverter este sinistro quadro de nossa sobrevivência, mas
para tanto, fizemos um relato claro dos cuidados que cada membro da comunidade
deve tomar.
Amigas, não devemos temer as
catástrofes, elas nunca serão nosso pior inimigo. Todos já sabem disso. Nosso
pior inimigo é o homem, mais precisamente as mulheres, e mais precisamente uma
mulher. Esta espécime humana em particular tem se revelado uma poderosa inimiga
com comportamentos totalmente desvairados e totalmente inusitados e
desconhecidos até então. Suspeitamos que tal comportamento possa contagiar
mentalmente as outras de sua espécie, numa forma de histeria coletiva ou de
massificação antibaratística. A História mostra que as piores armas não são a
intimidação física, mas o aliciamento
mental e moral. O comportamento neurótico feminino é o que devemos temer.
Há pouco tempo, uma de nossas mais
queridas companheiras foi acuada e assassinada brutalmente com requintes de
crueldade pelo marido da dita mulher desvairada. Ela própria só gritava
loucamente como se gritos matassem, mas o marido, como é devotadamente
apaixonado por ela, partiu em perseguição à nossa amiga, tão enfurecido como se
fosse matar um dragão. Pois bem, no dia 05/02, a despeito de todos os informes
para que nenhuma barata se metesse na casa daquela mulher ensandecida, a barata
cujo nome optamos por tornar incógnito a pedido dela (da barata), estava se
refestelando no escuro da noite se alimentando de restos de patê de berinjela
que caíram no chão. Tudo parecia calmo e seguro até que a tal mulher subiu a
acendeu as luzes. A barata incógnita correu rapidamente e se encolheu toda
debaixo de um banco. Consciente de que os próximos minutos seriam os últimos de
sua vida, entregou sua alma a Deus e revestiu-se de dignidade diante da morte
inevitável.
Precisamente
neste ponto do relato é que queremos enfatizar aspectos do comportamento
psicótico da mulher: arregalou e revirou os olhos de forma apavorante, depois
fez menção de descer correndo as escadas, mas estancou, trêmula e abobada,
parecia procurar por algo que não encontrou, e em nenhum momento perdeu de
vista nossa amiga. Depois optou por descer, contrariada talvez por saber que
nossa barata pudesse se esconder. Voltou para cima e procurou novamente com os
olhos esbugalhados de terror algo que parecia quem sabe ser a arma de que
precisava. Nada encontrando, desceu correndo outra vez. Esta operação foi
repetida inúmeras vezes até que se deu por vencida. Apagou as luzes, desceu,
deixando nossa companheira viva e feliz. Esta, corajosamente desceu as escadas
para ver o que tinha ocorrido. Percebeu que a mulher trancou-se num quarto não
sem antes colocar vários panos de chão debaixo da porta para impedir que nossa
brava companheira entrasse. No outro quarto dormia o marido, completamente
bêbado tombado com duas garrafas de vinho. Conclusão: nossa barata foi salva
pela bebedeira do marido. Mesmo após insistentes apelos da mulher, parece que o
homem não conseguiu acordar.
Pedimos
o máximo de cuidado. Não se fiem na sorte desta barata incógnita. Você poderá
ser a próxima a morrer e de forma cruel, pois nem sempre o marido estará
bêbado. Depois de estudar exaustivamente os anais de nossa raça e fazer incessantes
investigações no caso das mulheres desvairadas, apontamos alguns itens que
devem ser rigorosamente observados:
-
olhos esbugalhados e tremor indicam alta probabilidade de atos insanos.
-
evitem as loucas que têm maridos, a menos que estes estejam bêbados.
-
gritos histéricos indicam total perda de qualquer atitude controlada. Fujam o
mais rápido possível.
Não
nos responsabilizamos por quaisquer mortes trágicas, antes lamentamos
profundamente. Nunca vamos entender o motivo para tanto pavor.
Atenciosamente,
Blattodea Voadora.
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