sexta-feira, 20 de março de 2020

HOMEM, NATUREZA E VÍRUS




            Hoje ficamos aqui confabulando sobre o avanço da humanidade e em contrapartida, seu retrocesso. Se por um lado a Idade Média passou por tantas tragédias de pestes sem ter hospitais, nem recursos de higiene, nem medicamentos adequados, por outro lado, hoje em dia assistimos aos mesmos horrores, apesar do avanço dos laboratórios, dos modernos aparelhos hospitalares e apetrechos para aliviar o sofrimento das pessoas. Nem em nosso século XXI, nem na Europa dos dias de hoje este sofrimento pôde ser evitado.
            Não sabemos nem saberemos a verdade absoluta sobre a origem deste Corona vírus. Falaram em morcegos, faz sentido, mas não sabemos de fato. Falaram muito sobre os laboratórios. Os mesmos laboratórios que trabalham arduamente, diligentemente para encontrar vacinas, antídotos, podem criar acidentalmente ou propositadamente novos vírus que acabarão por destruir a humanidade. Há vários casos de virologistas que acabam se infectando e morrendo. Infelizmente, estamos à mercê dessas novas experiências de grandes laboratórios e não há o que possamos fazer. Estamos à mercê dos laboratórios, desde vírus mortais como o Corona até medicamentos que tomamos devidamente receitados e assinados para nós, inocentes cobaias.
            Por outro viés, a natureza é fantástica e tem a cura para grande parte das doenças, mas se não é respeitada, pode ser tornar arma contra o próprio homem. No início da década de 90, houve o caso do vírus “Sabiá”. Um homem de trinta e dois anos, operador de máquina de grãos de café no interior paulista, desmatou certa área da floresta e teve contato com um vírus que o levou à morte e também a uma pesquisadora que esteve no local para colher dados. Há vírus que vêm de animais das florestas ou do solo, de plantas, enfim, viver é muito perigoso, há que se tomar cuidado.  
            O Corona vírus não é bonzinho não, como apresentado inicialmente. Falavam de uma “espécie de gripe” que provavelmente atingiria só grupos de risco. Aos poucos fomos descobrindo que é um vírus terrível que pega qualquer um, jovem, idoso, até crianças. Fazemos tudo como manda o figurino, mas a insegurança e o medo são enormes.  
            O homem teima em brincar de Deus. Falam até de pedras trazidas da lua, de coisas estranhas à Terra. Filmes e livros tratam do assunto, e literalmente, a realidade acaba imitando a arte. É impressionante, fala a verdade! Empurram o mar, fazendo construções e erguendo cidades, derrubam florestas, mexem com animais perigosos. Este é o homem que destrói o planeta e deixa toda a humanidade ferida e doente. 
            Oxalá possamos aprender um pouco, se não pelo amor, que seja pela dor.   
            Bem, fico com São Paulo que nos diz: “Tudo nos é permitido, mas nem tudo nos convém.”
      

POR UM TRIZ




Por um triz eu escapei de nascer num táxi
Às nove da noite de um dia de maio
Também por um triz
Escapei de ser atropelada por um bonde
No país da rainha Beatriz
Por um triz eu teria sido uma atriz
Bem que eu quis, bem que eu quis
A vida está sempre por um triz
A gente é que não percebe
Vai vivendo na corda bamba 
Por um triz fiz o que fiz
Ou não fiz porque não quis
A gente traz sempre uma saudade
Uma dor e uma cicatriz
Mas tá bom
Não me arrependo
Logrei ser feliz.





PRESENTE EM FLOR




Eis que subo feliz e faceira
Feliz por inteira
Sem saber a razão
Coisas do coração.

Como se fosse um encontro marcado
Subo direto, passo apressado
Alguém teria me contado
Da boa nova
De um nascimento de uma delicada orquídea
Há tanto tempo sem flor.
Eis que a vejo, um amor!
Florinhas amarelas, chuva de ouro, um estouro!

Eu me quedo muda, surpresa
Em completa devoção
Uma flor há tempo escondida
Enfim se mostra exibida
Em sua doce simplicidade, que bondade!
É tão linda, tão formosa, gloriosa!
Sinto-me grata
Ganhei meu dia
Sorrio, cheia de alegria
Ah meu Deus!
A vida é tão bonita, tão bendita
Obrigada Senhor
Pelo teu amor
Hoje presente em forma de flor. 

CONSERVADORA



Finalmente comprei um PC novo. Que alegria! Poxa, eu merecia! Uma escritora que vive com seu notebook debaixo do braço pra lá e pra cá o tempo todo, usando uma espécie jurássica da era terciária daquelas? Não era possível. Criei coragem e comprei. Tudo bem. Só que não é uma nem duas vezes que meu marido me flagra lá na bancada da cozinha digitando no notebook velho. Minha filha, diz ele, quando você vai criar coragem e digitar no novo? Eu me defendo, vou aos poucos, um pouquinho em cada dia.
A verdade é que sou uma conservadora assumida. Uma parte protetora de mim sempre quer tornar tudo seguro e certo como se a vida fosse segura e certa. Ledo engano, santa ingenuidade. Como simplesmente abandonar meu PC antigo? Eu me sentia tão bem com ele, fiel companheiro de crônicas e poemas que adorei fazer. Tenho dificuldade com a tecnologia, muitas pessoas idosas também têm. O PC antigo era mais macio, eu já sabia onde estava tudo na minha bagunça familiar. O novo é tão estranho, não é a minha casa, mas sei que aos poucos eu me adapto, a gente se adapta com tudo nesta vida.
Há alguns anos meu marido me presenteou com uma smart TV. É lógico que eu adorei, pois ia poder ter a Netflix e outras modernidades. Mas quando me vi com aquele controle remoto diferente, com uma TV toda diferente, tive vontade de chorar. Que bobagem, logo eu me adaptei, é claro.
Sou avessa à mudança, eu sei. Ensaio para mudar os móveis de lugar e acabo desistindo. Quando minha ajudante vem quinzenalmente, certamente eu tenho que colocar as coisas de tal modo como estavam. Ela já sabe, mas algumas coisinhas eu ajeito daqui e dali como pra me certificar de que estão do meu agrado. Até o paninho da pia eu tenho um jeito especial. Um pouco de TOC, sem dúvida.
Relaxar é o remédio, abraçar as mudanças. Mas essas mudanças bobinhas são migalhas perante as mudanças repentinas na vida, perda de alguém, doenças, decepções, ou seja, coisas que não temos o controle. O jeito é o senso de humor, é conversar com a gente mesma, coisa que faço desde o BB, quando também conversava com as fichinhas do arquivo do Seu Joaquim que me ensinou o serviço. Quando estou aprendendo alguma coisa, eu digo baixinho: isso Misa, muito bem! Parabéns!
Como dizia Guimarães Rosa: “num cunvém fazer escândalos de início, é só aos poucos que o escuro que fica claro.” Aos poucos vou me acostumando com os aparelhos novos e com novas mudanças. A vida é mudança.
Meu marido é bem melhor do que eu em tecnologia e em muita coisa mais. Mas para uma coisa ele foi resistente: usar o whatsapp. Só agora há menos de mês que ele encarou. Mas não olha diariamente, os filhos mandam mensagens e ele não vê. Qual não foi minha surpresa outro dia enquanto ele estava na rua quando li sua mensagem: tira o feijão do congelador. Não pude deixar de sorrir.
P.S.    Ainda não estou tomada de amores pelo PC novo, mas, enfim, o estranho vai se tornando familiar. É da vida.








segunda-feira, 9 de março de 2020

MEU MODELO DE MULHER


MEU MODELO DE MULHER
Misa Ferreira

Queria ser como tu Maria
Que nada falava e tudo dizia
Meu modelo preferido e mais querido
De grande Mulher
Com tua simplicidade
Teu silêncio e humildade.
Ó Bem Aventurada! Mãe amada
Me ensina a ser serena, pequena
Diante dos mistérios da vida
Me ensina a não querer compreender
Nem usar a razão
Deixar falar alto o coração
Fica comigo Maria
Me mostra Jesus
Que me guie Sua Luz
Doce Mãe Santíssima
Humilde Virgem Sacratíssima.




AS MULHERES DE NEANDERTHAL




Nesse oito de março já passado foi comemorado o Dia Internacional da Mulher. Embora todo dia seja nosso dia, vá lá. Vamos entrar no clima e deixar rolar.
E não é que estou justamente lendo de novo “A Jangada de Pedra” do fantástico Saramago e dou com um parágrafo muito interessante. Joaquim Sassa, José Anaiço e Pedro Orce em suas andanças no “Dois Cavalos”, seguiam naquela jangada de pedra que andava à deriva, já despregada da Europa. Perto de Sevilha, encontram-se com Maria Dolores. Surge o assunto de que havia sido descoberto o europeu mais antigo de que se tinha registro. Na verdade, havia só seu crânio, com idade entre um milhão e trezentos mil e um milhão e quatrocentos mil anos. “E há a certeza de que se trata de um homem?”, perguntou Joaquim Sassa, ao que Maria Dolores respondeu:
            - “Quando se encontram vestígios humanos antigos, são sempre de homens, o Homem de Cro-Magnon, o Homem de Neanderthal, o Homem de Steinheim, o Homem de Swanscombe, o Homem de Pequim, o Homem de Heidelberg, o Homem de Java, naquele tempo ainda não havia mulheres ...”
            - Você é irônica, Maria Dolores!
            - “Não, sou antropóloga de formação e feminista por irritação”.
            Não é segredo que a dominação machista vem desde que o mundo é mundo. Os homens das cavernas pensavam que as mulheres tinham poderes sobrenaturais porque elas podiam procriar e eles não. Um dia descobriram que sem seu sêmen os bebês não seriam feitos e então fizeram o diabo a quatro, arrastaram suas mulheres pelos cabelos e deram início a milênios de dominação machista. 
            Eu não sou feminista, sou feminina ao extremo, porém, tendo em vista este absurdo de só homem disso e homem daquilo, estou com Maria Dolores, agora eu me considero pelo menos uma feminista por irritação. Só não me peçam para participar de protestos daqueles em que as mulheres tiram os soutiens e os queimam em plena praça pública. Minha idade já não permite essa ousadia. Meu soutien eu não tiro nem com ordem de prisão. Se ainda estivéssemos na década de oitenta, até noventa, eu me habilitaria, mas agora, na na nim na não.
            Brincadeiras à parte, parabéns para nós mulheres, desde as mulheres de Neanderthal até às de hoje. As conquistas têm sido espantosas, mas ainda falta muito.