sexta-feira, 31 de agosto de 2018

FURTO DE FLORES

  
Hoje, lendo a crônica de Carlos Drummond de Andrade “Furto de flor”, fui inspirada a parodiar o grande poeta e cronista, escrevendo não sobre o furto de uma flor, mas de muitas flores. A autora dos furtos foi ninguém mais, ninguém menos do que minha mãe. Eterna apaixonada por plantas e flores, minha mãe nos criou em casas rodeadas de imagens religiosas, muito verde e muitas flores. Sem dinheiro para vasos chiques, ela conservava seus antúrios, costelas de Adão, palmeirinhas e outras espécies em latas grandes, daquelas de óleo Ya-Yá e Violeta. As flores, então, eram seu mimo. Em sua última casa havia um corredor externo comprido com um bosque de plantas dos dois lados que dificultava nossa passagem. Meu pai ficava irritado, pois sempre saía picado por algum espinho de roseira. Minha mãe a- ma- va rosas. Ao fundo do quintal, ficava uma área com canteiros largos onde ela plantou uma espirradeira maravilhosa que oferecia prodigamente suas flores cor de rosa e um pé de hibisco igualmente maravilhoso. Ao lado do muro tinha uma arvore de romãs que deu muitos frutos e beleza por muito tempo.    
Bem, não foi uma vez nem duas que minha mãe chegava à casa com um galhinho de alguma planta, de uma flor e já ia lá fora tratar de plantar. Quando estávamos de carro, ela dizia, “para aqui, para aqui”, e eu, assustada, parava, ela descia, colocava o braço para dentro de alguma grade e apanhava uma flor com 99,9% de chance de brotar. Ela plantava de tal modo, mexia a terra de um jeito todo seu e a flor gostava e pegava. Eu falava, “mãe, alguém vai ver e vai xingar, é melhor chamar alguém da casa e pedir, pelo amor de Deus, mãe!”. Mesma coisa que nada. Apanhava do jardim da praça, de todo lugar que queria, enfim, minha mãe era “a mulher que roubava flores”.  
Certa vez eu estava no salão e o cabeleireiro, moço muito bonzinho e educado que conhecia minha mãe, disse: Misa, sua mãe está bem? Na verdade, ela já não estava bem, começava a apresentar alguns sinais de demência, mas ainda tinha toda a autonomia e nós não tínhamos nenhuma voz ativa com ela. O moço, que morava na rua do rio, contou que ele estava cortando um cabelo quando viu minha mãe chegar até à margem do rio, aí olhou, olhou, depois desceu como quem vai entrar no rio. Ele ficou muito preocupado, saiu do salão e foi até lá. Mas quando se aproximava da margem, eis que surge minha mãe subindo a encosta carregada de plantas até o pescoço. Ela ficou meio sem graça, sorriu pra ele e foi embora pra casa. Eu expliquei, brincando, que minha mãe era uma cleptomaníaca de flores, sempre havia sido, mas que no momento ela realmente já não estava bem. Onde já se viu? Descer para dentro do rio para apanhar plantas! Que perigo!
Faz oito anos que ela agora colhe flores no Céu. Aposto que ficou maravilhada com as flores de lá, dizem que ninguém acredita a beleza que é o Jardim Celestial. Minha amiga escritora, de intuições mágicas, de vez em quando tem sonhos vívidos e já sonhou com lugares encantados com flores multicores que nunca viu em sua vida. Já vejo minha mãe dizendo: que beleza! Que beleza! Tenho certeza de que não foi questionada no tribunal celeste sobre o furto das mudas e flores. Afinal, quem furta flores, planta um jardim. Assim ela fez.  
Quem já não roubou uma rosa?
   


sexta-feira, 24 de agosto de 2018

ALMA DE ARTISTA



Nunca fui do lar. Explico. Nunca fui prendada, de saber fazer isso ou aquilo, de saber costurar, bordar, bem, bordar já é demais, é coisa do passado, quando nossas mães nos mandavam aprender bordado com Dona Lalá ou Lili porque moça que não soubesse bordar não estava pronta pra casar. Minha mãe nunca nos mandou pra Dona Lalá ou Lili, mas minha tia mandava suas filhas e elas sempre foram donas de casa maravilhosas, excetuando a última, minha prima maluca que nem sabe cozinhar quanto mais bordar, conseguiu ser pior do que eu. Mas como diziam os antigos, ela pinta e borda.
Quando meu marido me conheceu já sacou direto que eu era nula nessas questões. E anos mais tarde quando eu o questionei, passou-se assim nosso diálogo: mas antes, fazendo um parênteses, deixando claro que eu sempre fiquei constrangida em registrar isso numa crônica. Adiei, adiei, mas finalmente registro, vamos lá, foi assim:
- Beeem, você nunca ligou que eu não soubesse cozinhar, né?
E ele:
- Não, cozinhar eu dou conta, gosto muito, mas o que faço questão é de comer.
Pronto, falei.
            Não que eu não participe da cozinha. Participo sim. Dou palpite, põe isso, põe aquilo, abrimos vinho sempre, nos esbarramos como dizia Adelia Prado: “É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha, de vez em quando os cotovelos se esbarram”. Às vezes saio correndo para anotar alguma coisa que ele falou, meu marido é uma fonte pura de crônicas. De novo, como dizia Adelia Prado: “somos noivo e noiva.”
            Então, ele sempre foi ótimo, e tudo ou o pouco que sei, aprendi com ele. Minha mãe queixava-se de mim, dizia assim: ah Maria Luiza, ah Maria Luiza, a Agueda e a Raquel sempre quiseram aprender a costurar na máquina, mas você, você sempre passou direto, nem um pingo de curiosidade. É verdade. Costurar, então? Fala a verdade, nerusca de pitibiribas. As primas são verdadeiras artistas em tudo. Minha enteada também. Boa em qualquer coisa. Quer uma mesa enfeitada de Natal, em dois tempos estava tudo lá, maravilhoso! E depois lá vinha uma taboa com damascos e nozes jogadas displicentemente ao lado de um Camembert! Parecia uma pintura! Coisa de louco! E quando costurou um vestido que me deu de aniversário: um mimo de um tubinho azul- marinho que amo!
            E a ideia de escrever hoje sobre cozinha e prazer foi porque almoçamos omelete e macarronada simples assim com vinho branco em plena quinta. Lembramos de quando nos conhecemos e do meu medo de que ele não gostasse de mim por eu não saber cozinhar, pois até já ouvi que há homens que se casam porque a mulher é uma boa cozinheira. Não, meu marido não é assim. Um amor é mesmo feito de pequenas grandes coisas, do dia a dia simples e significativamente grandioso. E durante o almoço ele aproveitou para me avisar: antes que você me chame:
- Mooottaaaa, que que isso aqui na geladeira? Pode jogar fora?
- É pé de porco e costelinha com uma salmorazinha que fiz. Não mexe não!
            Bem, repito aqui algo que já disse em outras crônicas: faço sofrivelmente um arroz com feijão e ovo, mas bordo delicadamente com as palavras o que nunca consegui com as rendas e linhas, afinal com alguma coisa eu tinha que lidar. Bancária medíocre que fui, tive o prazer de ouvir de meu sobrinho que me conhece tão bem: tia Misa, você tem alma de artista! Valeu pela vida toda! Às vezes acho que tenho sim. Palavra de honra, como dizia a mamãe.

       
             
      

domingo, 19 de agosto de 2018

COMO FOI O SEU DIA?


            Normalmente à noite usamos perguntar: como foi o seu dia? Bem, na maioria das vezes eu digo que nada de mais, o usual, nada impactante, nada que merecesse uma atenção especial. No entanto, não será preciso que nosso dia contenha uma história de peso, algo como “recebi um prêmio” ou “meu neto nasceu” para ser um dia memorável. Se formos pensar, veremos que muitas histórias acontecem em mil palavras no dia a dia, milhares de pensamentos que nos visitam a todo instante, ainda que não tenhamos saído de casa. Hoje em determinado momento me peguei pensando em um fato da infância quando minha colega teve hepatite e já estando melhor era levada de carro pelo pai ao colégio. Quando o carro parava, eu a observava saindo com cuidado e também observava o carinho do pai para com ela. Como desejei ter hepatite! Mas meu pai nunca teve carro! E eu tive hepatite, só que trinta anos depois e aí era eu que olhava por meu pai com carinho.
Como sempre uma coisa puxa outra, deste fato lembrei-me de meu pai e meus pensamentos se voltaram para ele. Lembrei-me de um fato já acontecido depois de sua morte. Eu estava em Belo Horizonte e subia uma ladeira que vai dar na Savassi. Olhei do outro lado da avenida e me pareceu por um instante que era meu pai descendo, era o jeitinho dele. Parecia tanto que resolvi voltar para olhar melhor, porém com o trânsito e com tantas pessoas que subiam e desciam, eu o perdi. Na verdade eu já o havia perdido, ainda estava de luto e o luto provoca essa angústia da ausência, a sensação de ter visto a pessoa querida. Esta não foi a única vez que “vi meu pai” depois de sua morte. Eu e minha mãe passeávamos de carro, como ela gostava desses passeios, e de repente, ela me disse: olha, é seu pai! E era muito parecido sim, subindo de costas pra nós a rua da igreja. Também “vi minha mãe” depois de sua morte, num vidro espelhado de uma clínica. Depois descobri que a imagem era a minha, eu já tinha passado daquele ponto em que as filhas se quiserem saber como serão no futuro, basta olhar para suas mães.   
Mudando de meu pai para um livro que estou lendo, hoje também li um pouco da “Americanah” da autora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie e como gosto desta escritora, de suas expressões tão profundas, de seu jeito de narrar. Adorei duas falas entre tantas outras da narradora ou da autora, uma vez que o narrador nada mais é do que o próprio autor, falas que transcrevo aqui: “E sua alegria se tornava inquieta batendo as asas dentro dela, como quem busca uma chance de sair voando.” Que lindo! Em outra passagem, “Às vezes, quando estavam conversando, ocorria a Ifemelu que tia Uji deliberadamente deixara parte de si para trás, uma parte essencial, num lugar distante e esquecido.” Fiquei pensando em minha alegria que sempre bate asas, e também me perguntei qual parte essencial de minha vida eu deixei para trás em um algum lugar distante e esquecido. Por isso os bons livros são tão amigos, porque fazem a gente pensar e refletir.  
E hoje até sinos batendo eu ouvi de um relógio de parede de mais de cem anos. Foi na casa da Lúcia, e eu fiquei tão encantada pelo som diferente de todos os outros relógios que já tinha ouvido. Parecia ser o som de sinos de uma capela tão antiga como o próprio mundo. Perguntei à Lúcia se eram os sinos da igreja da Vila Vicentina e ela me apontou o relógio acima de nós, na parede, testemunha das vidas que se passaram naquela casa. Fiquei pensando em todas as histórias que já teriam acontecido com aquelas pessoas, ascendentes de épocas antigas. Quais teriam sido suas alegrias e suas aflições como é próprio de todas as famílias.
O pensamento é rápido como uma flecha, mas as emoções que dele decorrem são tão intensas como uma viagem supersônica ao redor do universo. Às vezes nos atingem com violência tal como se vivêssemos de tudo em um momento só.   
Não, não preciso de uma notícia bombástica maravilhosa para dizer que meu dia foi glorioso. Carregamos um mundo de histórias dentro da gente. Então, respondendo à pergunta de meu marido, eu posso dizer: Meu dia foi fantástico, não poderia ter sido mais rico! As riquezas são tão relativas!
             
           

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

QUEM SOU EU



            Sempre fiquei muito impressionada com filmes e livros que tratam de casos de pessoas que perderam a memória temporariamente ou para sempre devido a traumas por acidentes ou mesmo traumas emocionais. Também não podemos nos esquecer das pessoas acometidas por Mal de Alzheimer ou de qualquer outra demência que cause a perda de memória, de identidade, de referência. Não temos a mínima ideia de como pode sofrer uma pessoa que não sabe mais nada de si, de seu passado. Perder a própria história deve ser a mais angustiante das experiências. Eu própria passei por isso em poucos minutos quando fui operada com anestesia geral. Quando acordei na sala de recuperação, eu não sabia onde estava, não sabia o que havia acontecido, sequer me lembrava de quem eu era, uma sensação de terror, como estar perdida na própria casa. Só recuperei minha memória quando era conduzida ao quarto. Deitada de costas na maca, fui vendo passar as lâmpadas acesas do teto, aí saquei, eu me lembrei de quando tinha sido levada para a sala de cirurgia - fui operada! Abençoada descoberta que reconduziu os vagões descarrilhados às trilhas do meu eu avariado pela anestesia.     
Minha mãe ficou demente nos últimos anos de sua vida, mas ela nunca apresentou aqueles sinais de ausência que os pacientes de Alzheimer apresentam, embora os médicos insistam em dizer que no final todas as demências se misturam. Não sei. Ela nos conheceu e nos chamava pelo nome até quase o fim. Houve uma área em seu cérebro que ficou danificada e afetou sua relação com lugares, espaços. Saíamos de casa para passear e quando voltávamos ela dizia: esta casa é igualzinha à outra! Ela não reconhecia a própria casa e também sempre queria ir embora, mas era esperta, nada lhe escapava. Certa vez a cuidadora me contou que foi “sondá-la” com bastante cuidado para ver se ela ainda dormia e minha mãe, já acordada, disse em alto e bom tom com toda a propriedade: É a Zezé que está aqui, pode entrar. Ela sabia com toda a certeza que era a Zezé do Tote, que nasceu em Conceição das Pedras, morou em Cristina, em Caxambu, que se casou com o Tote, teve seis filhos, morou em Pedralva, e amava a Deus mais do que tudo. Sua memória ainda era prodigiosa. Ela era dona de sua história.
Como é significativa a história de cada pessoa. Não conseguimos separar quem fomos do quem somos. Certamente que o conjunto de pensamentos, ideias, comportamentos e crenças vêm do que nos foi passado. Romper com esses laços atávicos é algo brutal. No entanto sabemos que muitas vezes o que era bom para nossos pais, não o é para nós. Como é salutar a gente construir o próprio caminho, tomar posse da luz que nossas mães nos deram quando nascemos, pois foi para isso mesmo que elas nos deram à luz. E como é triste quando uma pessoa perde a sua luz, não conseguindo mais se lembrar nem do próprio nome, transitando no aterrorizante labirinto do esquecimento.
Meu marido me disse certa vez: feche os olhos, esqueça seu nome, por um instante se esqueça de sua história e referências, pergunte para você, sem medo: Quem sou eu? De onde vim? Fechei os olhos, mas abri. Não tive coragem de prosseguir naquela experiência bizarra e talvez perigosa. Tive medo, confesso. Tive medo de um possível deslocamento do que me era familiar, no caso, a imagem de mim mesma, para a ordem do estranho. Sabe-se lá o que existe por detrás do meu eu. Quero com certeza me lembrar de que sou a Misa, segunda filha da Zezé do Tote, nascida aqui em Itajubá, que morou em Pedralva e que o dia mais triste de minha vida continua sendo aquele dia em que tivemos que nos mudar de lá. Sou a Misa, ex-bancária, escritora de repente depois dos quase 50, começando com pequenas crônicas que pediam para vir à luz. Isso mesmo, a segunda filha da Zezé do Tote.     

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

O COMETA ESPLENDOROSO


O chamado cometa planeta C/2017 S3 PANSTARRS poderá ser visto a olho nu agora em agosto próximo, talvez 15 ou 16. Este planeta foi descoberto em 23 de setembro de 2017 pelo telescópio PANSTARRS, no Havaí. A missão deste telescópio é detectar asteroides próximos da Terra que possam significar ameaça para nosso planeta. Dizem que este cometa parece ser uma verdadeira explosão de brilho que deverá fazer uma aproximação máxima com o Sol, mais do que o planeta Mercúrio. O astrônomo amador austríaco Michael Jäger registrou a viagem do cometa que tem uma atmosfera de 260.000 km de diâmetro, quase o dobro do diâmetro do planeta Júpiter. Ele vem se aproximando do Sol rapidamente e ninguém sabe o que poderá acontecer. Existe uma chance de esse planeta ser visto a olho nu, porém mais na região norte e nordeste ou talvez ninguém veja nada se tudo explodir.
Bom, mas e daí? Gente, pode ser o fim, sim senhor. Afinal, é um planeta que nunca saiu da casa dele, lá na fria e longínqua Nuvem de Oort, uma comunidade repleta de cometas. De repente ele resolve fazer um giro pelo nosso Sistema Solar, e vem que vem, à toda. Se for para destruir nossa velha e querida Terra, que seja. Prefiro assim do que pelas bombas com explosões nucleares tão ameaçadoras.
Pode ser que sua passagem tão rente ao sol faça apenas algumas mudanças na Terra, suposições poéticas da cronista que escreve este texto porque não tenho nem terei nenhum conhecimento ou embasamento geológico, físico, astronômico ou de qualquer área deste tipo. Mas suponhamos que depois de um intenso clarão, o Brasil seja dividido em dois ou três, que Minas se desprenda do Brasil e que finalmente tenha seu mar e vá sem rumo ao sabor das ondas do Atlântico, parodiando Saramago em  “A jangada de pedra”. Talvez o Irã vá parar nas portas da Casa Branca ou a Síria no coração da Europa.
Mas de repente este cometa pode ser apenas um planeta pacífico e lindo de morrer que cansado da vida monótona da Nuvem de Oort, queira dar uma volta e se mostrar magnificamente pra nós explodindo em brilhos nunca vistos por aqui. Que lindo!
Não posso falar nessas aparições de cometas que me emociono com a história de meu avô, pai de minha mãe, um homem simples da roça que nem cheguei a conhecer. Minha mãe dizia que se ele tivesse podido estudar, teria sido cientista e astrônomo porque ele tinha fascinação pelo céu. Vivia olhando as estrelas, sabia os nomes e gostava de ler a respeito. Pessoalmente, acho que ele estava mais para um poeta. Então, em maio de 1910, o cometa Halley foi visto absolutamente em toda a sua majestade. Meu avô que sabia de tudo, que lia jornal e ouvia rádio, dirigiu-se para o alto de um monte e lá ficou na hora marcada de olho no céu, sozinhinho, ao entardecer. Depois que a bola cheia de brilho e fogo passou girando perfeitamente visível a olho nu, palavras dele, meu avô voltou para casa pisando no ar, mais fascinado que Moisés quando recebeu as Tábuas da Lei. Parecia até que o cometa tinha borrifado vapor d’água que brilhava na cauda bem direto no rosto dele, tamanho o brilho que trazia na cara ao falar sobre o cometa.
E não é que eu, lendo “A duração do dia” de Adelia Prado, dou com uma frase que ela colocou para ilustrar dois poemas seus que falam da Via Láctea e de Esplendores: “Um resplandor na mata igual um dia” (Velha mulher falando de quando viu o cometa de Halley). Tal como meu avô, esta mulher ficou estupefata ao ver a tal bola cheia de brilho e fogo. Eram pessoas simples do campo, mas de olho no céu de onde vêm e veem coisas incríveis.
Pois que venha C/2017 S3 PANSTARRS. Seja bem-vindo! Mas que venha cheio e brilho e de paz que por aqui estamos precisando disso demais da conta. Também venha nos saciar com sua rara beleza e espantosos resplendores porque este universo é bonito demais para caber em nossa vida tão pequena com sonhos tão grandes. Mas que seria legal Minas sair pelo mar afora, ah isso seria!