sexta-feira, 3 de junho de 2022

SOBRE PRÍNCIPES, SAPOS, BRUXAS E CURA

 

Há treze anos atrás, numa aula de Literatura/Psicanálise, a professora perguntou: alguém poderia me dar uma definição de Psicanálise? Ninguém falou nada. Bem, eu que já havia aprendido a ser ousada, respondi: vou passar para vocês a definição de Rubem Alves, que  é lindamente significativa, “se tal advérbio vai bem com tal adjetivo”, frase de Machado de Assis no livro “Memorial de Aires” que tomo emprestado aqui para meu texto.

Mas antes preciso contextualizar essa definição de Rubem Alves porque a origem de tudo é muito importante. Fiz quase dez anos de Psicanálise que virou e revirou minha vida. Eu já escrevia uma coisinha aqui, outra coisinha ali, pois daí por diante escrevi muito mais e continuo escrevendo. Óbvio que considero a Psicanálise uma sofrida e bela viagem que todos deveriam fazer. Então, lá bem no início de todo o processo, meu psicanalista queria saber o que eu estava lendo. Eu? Nada há muitos anos. Lia sim e muito contas de luz e água que recebia no caixa. Porém, fui salva pelos livros que li na adolescência, alguns clássicos como “O homem que ri” de Victor Hugo e “O retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde. Nunca me esqueci. Bem, meu psicanalista me emprestou um livro de crônicas de Rubem Alves: “O Retorno E Terno”. Eu li como uma responsabilidade tal que até decorei as crônicas. Uma delas calou fundo: “Sobre Príncipes e Sapos”.

Rubem Alves dá uma linda definição de Psicanálise, contando uma história. Mais ou menos assim: Um príncipe cantava maravilhosamente bem e encantava todos que ouviam. Uma bruxa muito má (bruxas existem sim) queria cantar como ele e sentiu tanta inveja que lançou sobre o príncipe um feitiço terrível. Ela o transformou num sapo e ele, pobrezinho, teve que ir morar com outros sapos e rãs. Ele era um sapo igualzinho aos outros, menos numa coisa: ele continuava a cantar lindamente, mas os outros sapos não gostaram daquilo porque eles só sabiam coaxar e determinaram – quem mora com rãs e sapos têm que coaxar como rãs e sapos. O príncipe foi obrigado a silenciar e aprender a coaxar. E com o passar do tempo, ele se esqueceu dos cantos e sua voz apenas coaxava. Na verdade, ele não se esqueceu não. Quando dormia ele sonhava com a antiga melodia que estava escondida e proibida dentro dele. Mas quando acordava, tudo não passava de um sonho confuso. Agora, vejam que linda a definição de Psicanálise segundo Rubem Alves: “Psicanálise é uma luta para quebrar o feitiço da palavra má que nos fez adormecer e esquecer a melodia bela”. É o reconstituir de uma canção que só nos chega em fragmentos desconexos.

E ele cita Fernando Pessoa: “... E a melodia que não havia, se agora a lembro, faz-me chorar”. Rubem Alves ainda diz: “Será isso? Em nós mora um outro? ...” Agora sou eu que digo: em mim moram muitas outras, é uma loucura só. Mas gente, são outras numa só. Louca eu? Sim, poeta e louca.

Conclusão: parei de coaxar, apropriei-me de meu canto tão belo enquanto encanto! Por isso a Psicanálise é importante sim porque cada alma vem com uma melodia belíssima, só que desafortunadamente esta melodia é logo esquecida e sufocada pelo impacto das palavras más com que somos massacrados dia após dia. Não sei o seu caso, mas quanto a mim, mandei a bruxa de volta pra floresta.             

NOSSOS LUTOS


A escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adiche é realmente uma escritora fantástica. Certa vez uma prima compartilhou comigo que desejava ficar lendo apenas os clássicos porque não teria erro. Não é incomum a gente começar a ler livros atuais e parar. Na época concordei com ela, mas há autores e livros muitos muito bons na atualidade, e Chimamanda é excepcional. Já li “Americanah”, um “best seller”, e agora leio “Notas sobre o luto”, que me comove imensamente porque me faz lembrar como nunca da morte de meu pai e de forma contundente. Reflito como nossa vida sempre é e será uma coleção de frases e atitudes de nossos pais. Volta e meia estamos falando: “como dizia o papai” ou “como dizia a mamãe”.

Chimamanda perdeu seu pai em junho de 2020 durante a pandemia de Covid-19 que mantinha a família distante, e ela derrama sua imensa dor em “Notas sobre o Luto”. Lembrei-me da Lia Luft em “O lado fatal” e da Joan Didion em “O ano do pensamento mágico”, duas autoras que de modo diferente abordaram a questão da perda e do luto. Mas Chimamanda vai fundo, toca o meu coração de um jeito especial, sinto suas palavras sendo escritas para mim. Perdi meu pai há dezoito anos, ano em que me casei. Sempre me lembro do dia seguinte ao velório e sepultamento, quando uma conhecida percebeu minhas olheiras e olhos inchados. Ela me perguntou se algo havia acontecido e eu disse: Meu pai morreu e eu vou me casar daqui a poucos meses, informação totalmente descabida e desnecessária, que jorrou de minhas entranhas sem que eu pudesse controlar, talvez como uma espécie de compensação pela perda. Isso apenas me mostrou como ficamos frágeis e descontrolados quando morre alguém que amamos. Não importa o quanto a gente possa parecer que está calma e controlada, simplesmente não estamos. Estamos fragilizados, vulneráveis. O luto é isso.

Assim como Chimamanda, eu tinha muita certeza de que meu pai chegaria aos noventa anos e muito mais. Mas lá se foi ele embora com oitenta e quatro. Um homem bom, decente, honrado e extremamente puro. Como nós o amávamos!        

Os lutos são diferentes como as pessoas são diferentes e também os relacionamentos. Eu amava meu pai do jeito que ele era, nunca desejei que ele fosse diferente. Nunca seus defeitos ou suas fragilidades foram empecilho para o amor entre nós. Me vêm à mente cenas e palavras trocadas antes e depois de sua morte. Me vem a lembrança de minha irmã inconsolável à mesa da casa de meus pais, dizendo e repetindo: a melhor pessoa de todos nós, a melhor pessoa de nossas vidas foi embora, nunca mais! Nunca mais. Este estar junto logo após o sepultamento é muito importante porque ali, naquele momento, vamos compartilhando afetos, consolos, entre lágrimas e frases entrecortadas, entre risos tristes quando alguém se lembra de algum fato engraçado sobre a pessoa. Enfim, a gente ri e a gente chora junto. O luto é isso. Ele pode durar muito ou pouco, vai se reconfigurando até que fica uma lembrança terna, mas as lágrimas sempre vêm nos visitar.   

Eu sempre me pego pensando nele quando repito algum gesto seu. Explico, meu pai era ansioso, sempre querendo cumprir tudo de uma vez. Também sou assim. E quando cumpro alguma tarefa, aí digo para mim, isso Misa, muito bem, agora é só descansar, está tudo certo. Aí a outra de mim me alerta: Não, Misa, não está tudo certo. A vida é incerta, a vida é um mar de incertezas. É bela, é preciosa, mas é incerta e inexata. Hoje estamos aqui, todos estão bem. Amanhã? Não sabemos, ninguém sabe. Portanto, por hoje, se suas costas estão doendo, vai deitar. Deixa a limpeza para outro dia, para depois.

A inexatidão da vida e a incerteza regem o mundo e permeiam nossas vidas, mas eu falo isso sem pessimismo, nem tristeza, nem morbidez. Falo com naturalidade, pensando sempre no amor de Deus e na paz de Jesus. Vivemos de lembranças, vivemos de ternura. Outro dia eu me lembrei de quando vi daqui de minha janela meu pai ainda muito bem, já idoso, mas firme, caminhando ao longe. Nunca aceitou usar tênis nem roupas esportivas, mas fazia sua caminhada. Eu fechei os olhos e abri de novo, esperando vê-lo como naquele dia, de bonezinho.

Minha irmã também me contou um sonho que teve com ele. Foi em Pedralva, na primeira casa onde moramos. Meu pai descia a rua da casa do Chinho vindo de lá de cima. Minha irmã ficou esperando para encontrá-lo, pois o natural seria que ele se dirigisse para nossa casa. Surpresa, ela viu que ele desceu reto, sem sequer olhar para ela ou para sua própria casa. Ela entendeu que ele não morava mais nas casas terrenas, nem mesmo em sonhos.  

FELIZ ANIVERSÁRIO

 FELIZ ANIVERSÁRIO!

Misa Ferreira

 

Sempre fiquei encantada com os aniversários. Este fascínio vem desde menina e procuro conservar este encantamento. Não ganhávamos festas, mas sempre teve um presentinho e um abraço de mãe e pai. Eu acordava e me lembrava de que era o aniversário: pronto, era o que bastava pra me dar toda ao dia, feliz como uma princesa ou como uma criança tem o direito de ser. Quando a gente é criança tem a mordomia de não precisar lutar para ser feliz, temos aqueles que fazem das tripas o coração ajeitando a vida daqui e dali para preservar nossa felicidade. Contudo, eu sei que tem crianças que sofrem, desde o mínimo sofrimento até atrocidades inimagináveis. Eu sei.

Bom, mas como estava dizendo, era o dia mais importante da minha vida. E segui pela minha vida afora sem perder o encantamento, também já disse isso. É claro que houve aniversários tristes, pois há dias de tristezas e luto e a tristeza nunca tarda para fazer sua ronda. Uma conhecida amiga perdeu seu pai num acidente no dia de seu aniversário. Nunca vou me esquecer de quando meu pai estava internado e muito doente. Era meu aniversário e meu celular tocava a todo instante com minhas primas sem jeito de me cumprimentar, porém querendo me consolar. Eu não podia articular uma palavra que fosse porque temia desabar num choro que não ia acabar nunca mais. Sim, há dias alegres e dias tristes para todas as pessoas, pois Deus faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos. E também derrama tristeza sobre os dias comuns e dias de aniversário.

Houve muitos aniversários alegres, isso houve sim, verdade seja dita e justiça seja feita. Quando minhas amigas e eu fizemos cinquenta anos, demos uma big festa, com bolo, velinhas e ponche. Fizemos uma festa badalada, enfeitamos meu espaço na cobertura, colocamos mesinhas e cadeiras, bebemos e dançamos. Dançamos de tudo, houve até hully gully, quando uma amiga encabeçava a dança e todas seguiam. Só risadaria. Uma amiga de minhas amigas fez até versinhos de cordel:

A história que vou narrar

Em versinhos de cordel

É de três grandes amigas

Tânia, Misa e Izabel

A Bel nasceu em abril

Tânia e Misa, um barato!

Em maio e no mesmo dia

São do mesmo decanato

E por aí vai. Foi uma festa memorável! Um dia de aniversário inesquecível! Pretendemos fazer outra para o próximo ano. Estão todos convidados!

Mas eis que não faz muito tempo ouvi uma palestra do querido e saudoso Dom Henrique Soares em que ele pergunta se sabemos qual é o dia mais importante de nossa vida. Bem, muitas pessoas responderam e eu também que era o dia de nosso nascimento. Ele então explicou que era o dia de nosso batismo, o dia em que fomos inseridos na família de Deus! O dia em que deixamos de ser criaturinhas para sermos filhinhos de Deus e de fato o somos! Amanhã precisamente, 17 de maio, será meu aniversário de batismo! O dia mais importante de minha vida, que pretendo comemorar com muita alegria!

Ofereço este texto para minha amiga Kao que faz aniversário hoje. Ficamos amigas por conta da crônica “Nos tempos do Redingote”. Ela em Portugal recebeu e leu meu texto, localizou-me facilmente e nos tornamos amigas. Somos almas gêmeas, Kao costuma dizer e eu também. Nascemos até no mesmo mês, com poucos dias de diferença. Feliz Aniversário Kao! 

SUMÉRIOS E ET DE VARGINHA

  

            Volta e meia eu e meu marido estamos falando de alienígenas, de existência de Deus, fatos da Bíblia e outros babados. Eu sou cristã católica, ele diz que não é nada, e está sempre buscando nos livros e documentários da vida as provas de que está certo. Não é a primeira vez que ele vem com um papo de que os Sumérios sabiam de coisas que até Deus duvidava. É fato. Os sumérios da antiga Mesopotâmia que depois veio a ser o Iraque, há mais de 4.000 anos antes de Cristo, deixaram documentados conhecimentos incrivelmente extraordinários para sua época remota. Quantas vezes ouvi nas aulas de História da Irmã das Graças: “sumérios e assírios na Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates”. Esses povos já sabiam que a Terra era redonda, tinham rede de água potável, conhecimentos astronômicos que fazem a Nasa babar de inveja. Supõe-se pelos documentários que os sumérios tenham recebido tais conhecimentos de algum povo alienígena evoluído. Aliás, entre os documentos deixados por eles, tal fato é relatado.

            Aí rola nosso papo. Eu digo a ele:

- Esses alienígenas são muito estranhos mesmo. Sabedores de tudo, vêm, fazem visitas esporádicas aos humanos, repassam conhecimentos preciosos, depois desistem deles, deixam os pobres dos sumérios ao Deus-dará, eles são conquistados pelos povos vizinhos, os caldeus, sei lá, e todo o conhecimento fica perdido.

- Perdido nada. Abraão que era caldeu apoderou-se de tudo. E quem falou que são visitas esporádicas? E o ET de Varginha, como é que fica?

- kkkkkk, é verdade. O ET de Varginha, nosso ETezinho mineiro. E os milhares de casos comprovados de que os alienígenas vieram e vêm à Terra a todo instante? E aquele caso do deserto de Nevada nos Estados Unidos? Até a Rita Lee viu inúmeros discos voadores. Ela diz em sua autobiografia que o primeiro disco voador a gente nunca esquece. 

- Mas até os alienígenas evoluídos têm lá suas fraquezas. Se foi verdade mesmo, deram a maior bobeira lá no deserto de Nevada, aquele caso lá na década de 40. Dois seres extraterrestres se esborracharam no deserto sabe-se lá por que. Teriam bebido? Mal sabiam pilotar a nave! O fato é que foram aprisionados pelo exército americano que deve ter feito tudo que é experiência com os coitados dos pés à cabeça. Nunca mais se soube deles. E o boboquinha do ET de Varginha? Diz o povo de lá que o ET era horrorosinho de feio e ainda ficou acuado em um muro, tremendo de medo das meninas que não paravam de gritar. Este já ficou prisioneiro dos militares brasileiros mesmo. Pobrezinho!

- Parece que o ET de Varginha foi despejado da nave porque não acharam nenhum vestígio dela. Talvez fosse um dissidente, um traidor de seu povo que queria se livrar dele. Um ET reencarnado daqueles que ensinaram os sumérios tantos conhecimentos.

            E por aí vai. Sobre a Arca de Noé, meu marido se diverte com a história. Diz que Abraão que veio da Caldeia, ficou sabendo dos segredos e conhecimentos dos sumérios, o povo queridinho dos alienígenas. E que Abraão contou a história do dilúvio plagiando uma história de uma grande inundação ocorrida na Caldeia, ou Mesopotâmia ou Iraque hoje. Ele me pergunta:

- Você acha que Noé poderia recolher espécies de cada ser vivo do planeta? Como? Animais, insetos, etc. e as plantas, também? Sementes e mais sementes de tudo? Dizem que até macacos e antas brasileiras quando souberam da Arca, correram pra lá pra serem salvos!

- Meu filho, tudo é possível. “Tudo é possível ao que crê!”

            E assim vamos, entre ETs, Abraão, discos voadores e muito vinho.   

 

COMPETIÇÃO E COMPETIDORES

 

O homem é um ser competitivo, disso não tenho a menor dúvida, a competição está nas entranhas do ser humano. As pessoas competem entre si em todas as áreas, principalmente na econômica, riqueza, bens materiais, também no sucesso pessoal, vantagens sociais. A famosa “grama do vizinho” que é sempre mais verde do que a nossa! Um amigo costumava dizer assim: é complicado, a gente vai, trabalha e economiza e consegue comprar um carrinho novo e fica feliz da vida! Acontece que o vizinho aparece com um carrão importado lindão! E aí? A gente fica pensativo, não é?

Se a pessoa não tem uma boa dose de nobreza e de generosidade, ela vai sofrer por essas coisas. Aquela máxima de ser grato por tudo ainda é a melhor maneira de viver, isso faz a alma crescer.

Bem, sou uma contadora de casos, então vamos aos casos: Já faz tempo isso, encontrei com uma conhecida que há muito tempo não via. Conversa vai, conversa vem, ela me contou de uma viagem que havia feito percorrendo muitos lugares da Europa, contando detalhes de cada lugar. Relatou também uma peregrinação que fez a Jerusalém e outros lugares sagrados e tal e tal. E ela falava como se fosse o único ser vivente que tivesse viajado. Eu ouvia tudo pacientemente com vontade de interromper, mas fiquei firme. Até que ela perguntou assim: você não tem vontade de viajar? Aí entrei: eu viajo, não tanto mais agora, mas já viajei. Aí ela: mas Jerusalém você não conhece. Encerrei o papo dizendo: por um acaso conheço sim.

Eu poderia ter me calado, mas sou humana, cheia de defeitos, é sim, sou sim. Aí foi que caí de boca na competição, agora era uma questão de honra. Perguntei a ela: e Bruges, você conhece?

- Não!

- Não? Perguntei sentindo em minha própria voz um tonzinho ou um tonzão de vitória, um gostinho de prazer, ao que acrescentei: você não sabe o que está perdendo! Precisa ir lá, é um espetáculo. Depois me arrependi. Que bobeira! Que pobreza! Fiquei pensando em como Nossa Senhora reagiria, sempre penso nisso. Ela ficaria em silêncio, deixaria a pessoa pensar que era a única a conhecer os lugares. Grandes coisas, como costumávamos dizer antigamente. Oh meu Deus, já estou velha, quando vou aprender essas coisas tão preciosas!

Enfim, a concorrência é uma coisa tão cruel que pode chegar a um nível inacreditável. Explico: eu e minha irmã voltando da Canção Nova demos carona para duas senhoras. Logo percebemos que as duas estavam meio emburradas uma com a outra. Foi quando começou o assunto de doença. Uma delas contou para nós que tinha uma hérnia de estômago ou de esôfago imeeensa, fazendo questão de dar ênfase ao “imensa”. A outra caiu na desgraça de dizer que também tinha e que a dela também era grande. A primeira não gostou e disse que a sua hérnia era muito maior que a da outra, que podia provar por exame e que o médico até havia lhe dito que nunca em tempo algum tinha visto uma hérnia tão irrepreensivelmente gigantesca. Falando daquela maneira, tão orgulhosa e com aquela retórica exemplar ao esmiuçar os detalhes sórdidos de sua hérnia, confesso que faltou pouco para ficarmos com vontade de ter uma hérnia tão top como a dela. Fala a verdade!  

Fez-me lembrar de quando eu era criança e morria de vontade de quebrar o braço para ir de gesso à escola! Faz sentido. Mas gente, agora não somos mais crianças. São Paulo diz: “Quando eu era criança falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Desde que me tornei adulto, eliminei as coisas de criança” (1 Coríntios, 13, 11)

Enfim, “busquemos as coisas do alto” (Colossenses, 3, 1)