domingo, 19 de julho de 2020

BRINCAR NA LUA




E se sem explicação
O mundo parasse
A Terra despencasse
E eu caísse no Japão
Sem passagem de avião?
E a Lua tão pertinho chegasse
Que iluminasse
A escuridão de nosso coração!
E num gesto cordial
Ela nos convidasse
Pra brincar de esconde-esconde
Em seu quintal
E se talvez aparecesse por lá
O Jesus menino querendo brincar com a gente
Todo mundo criança, todo mundo contente
E lá pelas tantas, Maria se punha a chamar:
Menino, tá na hora de estudar!
A gente também voltava pra Terra
Mas não via a hora de ir pra Lua brincar
E quando minha mãe perguntasse:
O que tem na Lua?
Eu diria com alegria: a Lua mãe?
A Lua tem quintal
É genial!




sexta-feira, 17 de julho de 2020

MARTHA ROCHA - A efemeridade da vida


MARTHA ROCHA
A efemeridade da vida

Fui ler sobre a vida da lindíssima Martha Rocha, primeira Miss Brasil em 1954. Nunca me esqueci de minha mãe contando sobre ela, de como havia perdido o posto de Miss Universo por ter duas polegadas a mais no quadril. Só agora li que isto é lenda, foi inventado por um jornalista brasileiro da época para consolar o orgulho brasileiro ferido. A própria Martha dizia não se lembrar de ninguém tirando suas medidas.
Li também o artigo do colunista do UOL Reinaldo Polito (Como conheci Martha Rocha), uma história verdadeira e pitoresca. Conheceram-se por volta de 1985 em uma viagem de avião e ele ficou emocionado com a beleza da moça, na época já com seus cinquenta e alguma coisa, mas estonteantemente bela. Ele acabou mencionando que teria seu primeiro livro lançado por aqueles dias e prometeu enviar a ela o primeiro exemplar autografado, ao que ela agradeceu gentilmente. Não é que trinta anos depois, ele garimpando em sebos, surpreso, encontrou o livro autografado que enviara à Martha Rocha. Não se importou, compreendeu que todos nós, vez por outra, temos que nos desvencilhar de tantos livros que acumulamos.
Bom, mas o que quero falar é sobre a efemeridade da vida. Sei que todo mundo sabe, inclusive eu, que a vida passa e passa velozmente e acaba, mas só percebemos isso mais tarde. Nossa vida tem muitos acontecimentos, fatos e feitos e pouquíssimas décadas. Enquanto jovem eu sabia disso, porém eu não sentia dessa maneira, pelo contrário, sentia que a vida se oferecia generosamente a mim e isso tinha algo de eterno, como diz Adélia Prado: “o jovem se sente eterno”. Deus sabe o que faz. Deixa a gente viver a  ilusão de ser eterno até que tenhamos idade para saber e sentir que a vida não é eterna, aliás, muito breve.
Assisti na Netflix um documentário sobre a vida e sucesso de Mike Jordan, considerado o melhor jogador de basquete de todos os tempos. Este atleta incrível praticamente levitava e não perdia um só lance. Hoje, com quase sessenta anos ele recorda, emocionado, os episódios mais marcantes de sua carreira e sua vida. Não tem mais a magreza dos tempos de moço, seus olhos um pouco embaçados não escondem que o tempo passou. Não vi fotos de Martha Rocha idosa e não queria ver, não vem ao caso, não interessa.
Fico pensativa diante da vida que passa, segundo minha irmã, já passou. Não foi uma nem duas vezes que ouvi a frase dita por uma tia: você chega lá. Todos chegamos, todos chegaremos, a menos que a morte apareça mais cedo. Mesmo os famosos, os reis e rainhas, filósofos, escritores, músicos, estadistas, todos ficam velhos, perdem o brilho da pele, dos olhos. Não há como deter o efeito devastador do tempo seja no corpo, às vezes de forma cruel na mente. Não importa.
É preciso pedir a Deus que nos ensine a contar nossos dias e que dê sabedoria ao nosso coração. Assim, todos passarão, mas nós passarinhos, aludindo ao que disse, adoravelmente, Mário Quintana.   


A GRAÇA DA TORNEIRA




Sou mal-humorada. Também nem tanto, é que sou perfeccionista e quando as coisas não saem do jeito que quero, armo um burro, um burrinho. Mas logo saro. Fico feliz com grandes alegrias e com as pequenas também, por exemplo, conseguir um carro zero ou se não, um brinquinho bonitinho, que me cai bem. Esta sou eu. Enfim, vamos à torneira.
Nosso apartamento é antigo, desses que se a gente vai mexer em uma coisa, tem que mexer em outra, um reparo puxa outro, no final, pra ficar bom mesmo tinha que derrubar e fazer tudo novo. Também nem tanto, hoje estou mais para oitenta do que pra oito e quem escreve histórias sempre terá que aumentar um pouco, bordar aqui e pintar ali para conseguir prender o leitor. Então, vamos lá, meu marido teve que trocar a torneira de um lavatório. Aí me perguntou: que tipo de torneira você quer? Eu respondi: nem a caríssima, nem a baratíssima, a intermediária. E ele: mas e a anatomia? Ah, você escolhe. Ok.
A torneira nova ficou feia em dois tempos. Funcionava, tudo bem, mas uma feiura, pegou uma cor esverdeada e por mais que eu limpasse, não ficava limpinha. Odiei. Não sei em que bacia das almas ele comprou esta torneira. Evidentemente que foi a mais barata. Fiquei quieta. Já tenho fama de reclamadora, então, larguei mão. Mas confesso que toda vez que olhava para a bendita torneira, tinha vontade de encher a cabeça do marido. Pior do que uma mulher megera é um homem mal-humorado e isto ele não é. É um amor!
Eis que subo um dia desses e dou com meu marido deitado debaixo da pia, desparafusando algo no chão molhado, e eu pergunto: Bem, o que houve? Vazamento? E ele: estou trocando a torneira que estava muito feia! Não acreditei. Que bom que foi não ter reclamado, ganhei pontos no quesito de mulher encantadora. Ou a torneira estava tão feia que até ele resolveu tomar providências.  
Quando temos que comprar algo para a casa, ele logo diz: prefiro que você vá junto para não haver reclamação. E eu vou. E o que acontece? Fico apaixonada pelo item mais bonito que coincidentemente é o mais caro. E o barato já sabemos que sai caro.   
Bom, a nova torneira é uma graça e ainda não ficou esverdeada, o que é um bom sinal. Não é anatômica, não é a melhor, mas comparada com a marmotice da anterior, tá mordebão como dizia minha amiga Sandra.
Logo que nos casamos, eu já sabia que ele era do tipo de economizar e eu de gastar. Mas como cada um tem sua renda, tudo bem. Com o tempo fomos trocando experiências. Um belo dia quando eu fui lhe dizer que estava aprendendo com ele a economizar, ele se antecipou e me segredou que estava aprendendo comigo a gastar, quer dizer, a se dar mais prazer, a comprar uma mercadoria melhor, um vinho bom, qualquer coisa que fosse. Rimos muito porque foi no mesmo dia e na mesma hora. Naquele momento e em muitos outros percebi que nosso casamento “tinha dado certo”.   
A nova torneira é simples como nossa vida é. A felicidade nunca é sofisticada. Ela é simples.          

HUMILDADE - Quem pensa que tem, já não tem mais




Há tempos que desisti de assistir ao jornal pela TV. Televisão tem que ser para distrair, então eu já vou direto para a Netflix ou Amazon Prime. Mas tem um programa do GNT que não perco: Que seja doce! Logo eu que não sei fazer nem um docinho de leite. Deu oito horas da noite, já estou grudada na tela para assistir à competição geralmente de três candidatos fazendo doces maravilhosos! Primeiramente um dos três é eliminado e por fim vencerá o melhor. Um grupo de três jurados decide quem será o ganhador.
Bem, aprender a fazer doces não aprendi, mas aprendi neste programa que a humildade nunca é demais. Em um episódio, uma das duas concorrentes finais obteve a vantagem de escolher qual bichinho iria usar em seu “cake pop no palito”. A moça escolheu urso panda, acho, e escolheu para a concorrente a zebra. Bom, se ela teve ou não teve a intenção, ficou feio. O rapaz da zebra suava em bicas, sua ajudante e ele trabalharam incansáveis até o último segundo. Torci por eles. A zebrinha ficou lindinha, com carinha de zebra mesmo, uma fofura. O urso panda não parecia urso nem nenhum outro bichinho. Quem ganhou? Quem ganhou? A zebra.
Em outro episódio, a moça sofreu as críticas dos jurados, agradeceu gentilmente e voltou para a sala de espera. Sentou-se ao lado da outra moça que ainda não tinha feito sua apresentação e ficou amuada, dizendo: que pena, seu eu tivesse feito isso ou aquilo, ao que a outra redarguiu: ah não fica triste não, eu deixo você usar minha batedeira. Ela se referia ao prêmio final que sempre é uma batedeira maravilhosa. Pode ter sido apenas uma brincadeira, pode, mas a moça não deveria ter dito isso. Lá foi ela apresentar seu doce, recebeu críticas também, porém eu tinha certeza de que ela ganharia porque seu doce estava divino. Adivinha quem ganhou? Adivinha? A primeira, a que achava que não ia ganhar. Achar, todo mundo pode achar, mas o silêncio é ouro.
Bom, não estou dizendo que a gente não deva ser confiante, pelo contrário, todos devemos ser confiantes e otimistas. Mas falar menos e sorrir mais é melhor. Também não precisamos nos justificar quando recebemos elogios. Assim como: nossa que blusa linda a sua! E lá vou eu: xiii, é tão antiga! Ou quando dizem: que olhos! E eu: já viu minhas pálpebras caídas? Bom, um obrigada é o suficiente para reconhecer a sinceridade do elogio e agradecer. Pronto. Ficar contradizendo o elogio não é humildade. É bobice.
Enfim, a humildade é uma joia rara e preciosa! Poucos a tem de fato. A humildade é o passaporte para o Céu. Santa Teresa de Ávila dizia: “Enquanto estivermos nesta Terra, não há coisa que mais importe do que a humildade – este é o caminho. Ponhamos os olhos em Cristo e em seus santos e aprenderemos a verdadeira humildade.”
Depois dessa lição nada mais a acrescentar.