Sempre
achei que viagens de ônibus trazem sempre muitas histórias e surpresas. Pois
minha irmã me contou uma história que eu até poderia dizer quem foi o
protagonista, pessoa pública e conhecida, mas isso não é necessário. Foi o
seguinte. O homem comprou uma passagem de ônibus para viajar durante a noite
porque seria uma longa viagem de cerca de dez horas. O assento ao seu lado
estava vago, o que já era um bom começo, pensou ele, pois poderia viajar com
mais conforto. Mas na última hora, entrou uma mulher muito simples com uma
criança pequena, de colo. Ele ficou contrariado, pois tinha certeza de que ela
se sentaria no banco ao seu lado, uma vez que o ônibus estava praticamente
lotado.
Vamos
lá, matutou o homem, aposto que não vou conseguir dormir, mas acolheu
carinhosamente a mulher e a criança, confirmou para ela o assento olhando sua
passagem, ajudou colocando as bolsas no maleiro, enfim, fez o que qualquer
pessoa de bem faria e faz. Logo percebeu que a criança devia ter algum problema
porque gritava de forma desconexa, era agitada e com coordenação motora um
tanto descontrolada. A mãe se mostrava paciente e carinhosa, tentando fazer a
criança se acalmar. Cantava baixinho, dava tapinhas nas costas para tentar
fazer a criança dormir.
Bem,
lá pelas tantas, o homem, já resignado, sabendo que sua noite seria insone, foi
solidário com a mulher, dizendo: é difícil né? E para seu espanto, a mulher
respondeu: não, não, isso não é nada, nada difícil, ele é o meu tesourinho! E
olhou amorosamente para o filho, beijando sua cabecinha. O homem se
envergonhou, surpreso com a atitude da mulher, pois normalmente as pessoas se
queixam, com razão, estão cansadas, sem esperança e uma criança agitada o tempo
todo, é difícil sim manter a serenidade, muitas mães se esgotam. No entanto,
aquela mãe estava feliz com seu tesourinho, talvez justamente pelo trabalho que
dava. Quanto mais trabalho, mais amor. E acabou que o homem agradeceu a Deus
pelo ocorrido. Foi uma lição.
Pois
é, mas isso me fez lembrar de algo que a minha mãe contava há muito tempo. Ela
estava indo para São Paulo e houve uma confusão de passagens. A mulher com
criança no colo ficou sem assento. E uma senhora muito bem vestida tinha um
assento vago ao seu lado. Só que ela havia comprado os dois assentos para que
ninguém se sentasse com ela, para que ninguém a incomodasse, dizendo de uma
forma mais suave, para que ela tivesse mais conforto. E o motorista perguntou
se ela não se importaria de ceder um lugar para a passageira, ao que ela
respondeu que não ia ceder. Tudo foi resolvido quando outra pessoa cedeu o
próprio lugar porque nem todos são individualistas.
Estamos
caminhando para um tempo muito difícil, a humanidade parece que perece. Este
jogo de palavras não foi proposital, não vou mudar, deixa assim. Precisamos ser
mais humanos, mais próximos do próximo. Quem é nosso próximo? É quem está mais
próximo fisicamente. Hoje li algo muito bonito postado por uma pessoa amiga.
Trata-se do primeiro sinal de civilização numa cultura. Sem dúvida alguma, se
queremos ser civilizados temos que aprender a cuidar uns dos outros, gastar
tempo com o outro, ajudar os outros nas dificuldades. A Bíblia diz para não
desviarmos os olhos do pobre.
Sempre irei me lembrar do caso do “tesourinho”
com muito carinho!