sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

REDEMOINHOS E FURACÕES


Engraçado o que aconteceu hoje. Eu vou aguentando, aguentando, aguentando o meu cabelo até que não dá mais. Aí vou pro salão pra cortar, mas não quero mais cortar muito curto. Então sempre levo uma foto que tenho há anos de um cabelo branco que eu amo por causa do corte que eu queria igual. Agora finalmente me convenci de que meu cabelo não é e nunca vai ser igual ao cabelo idealizado. Por que? Primeiro porque o cabelo da moça da foto é liso, o meu armado. Para complicar, tenho uns quatro redemoinhos pela cabeça afora e um furacão dentro. Segundo: que ilusão pensar que a modelo se levantou da cama com aquele cabelo. Imagine! De jeito nenhum. O cabelo foi todo atrapalhado por mãos de artista, sabe aquele atrapalhado chique? Então. E terceiro: A moça é a moça e eu sou eu. Cada um é cada um. São texturas, formas, tons e sei lá mais o quê diferente. Mas o pior que pode acontecer é a gente querer que além do cabelo, a cara também fique parecida com a cara da modelo. Aí já é demais!
Bem, então fui para o salão. Enquanto eu esperava minha vez fiquei observando uma senhora, senhora assim como eu. Ela estava de costas para mim fazendo pé e mão. E aconteceu que eu gostei muito do jeito do cabelo dela na parte de trás, cheinho assim, repicado. Então eu disse para a cabeleireira:
- Olha, eu estou gostando muito do cabelo dela, apontando para a senhora. Se der para o meu ficar parecido já tá bom.
Aí vira a senhora, feliz com o elogio, e diz:
- Olha só, o meu eu pedi para cortar do jeito do cabelo da Dona Josefa.
E a cabeleireira complementou:
- E a Dona Josefa me pediu para fazer o cabelo dela igual ao cabelo da Dona Tininha. E se não estou enganada, a Dona Tininha elogiou muito seu cabelo um dia em que você passou aqui em frente.
- Ahn??? O meu?Como assim?
Só sei, gente, que cada uma gosta é do cabelo da outra. A grama do vizinho é sempre mais verde. Cheguei e contei pro meu marido e ele me lembrou de quando tivemos um sítio. Nossos dois boizinhos ficavam lá comendo o capim do pasto e os bois do vizinho vinham pra nossa cerca, enfiavam a cara por onde dava para comer do nosso capim. Fato comprovado por nós com estes olhos que a terra há de comer.
Conclusão: Tratemos de gostar de nós com cabelos crespos, lisos, finos, armados, com redemoinhos na cabeça e furações dentro dela. Somos diferentes, seres únicos, até mesmo os gêmeos idênticos com o mesmo DNA são diferentes, cada um com um jeito de ser, de expressar alegria ou sofrimento. Cada uma de nós tem um encanto, às vezes muitos encantos que não nos damos conta. Tive uma amiga que costumava dizer que se a Miss Universo mais linda do mundo não acreditar que é linda, pode todo o mundo dizer que ela vai continuar se achando feia. Tudo depende da gente. Tudo está em nossa mente, coração ou espírito. A gente é o que está do lado de dentro. O que está por fora é o que aparentemente aparece. 
 Há outro ponto a se considerar: com a idade, além de outras perdas, vamos também perdendo cabelos, é um fato lamentável, mas é fato. Então pra que ficar querendo isso mais aquilo, namorando a foto de uma modelo de cabelos brancos que, talvez, quiçá são até pintados de branco e não originais? Quer saber? A coisa mais bonita do mundo é a gente ser única! Ah, isto é sim.
          

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