Engraçado
o que aconteceu hoje. Eu vou aguentando, aguentando, aguentando o meu cabelo
até que não dá mais. Aí vou pro salão pra cortar, mas não quero mais cortar
muito curto. Então sempre levo uma foto que tenho há anos de um cabelo branco
que eu amo por causa do corte que eu queria igual. Agora finalmente me convenci
de que meu cabelo não é e nunca vai ser igual ao cabelo idealizado. Por que?
Primeiro porque o cabelo da moça da foto é liso, o meu armado. Para complicar,
tenho uns quatro redemoinhos pela cabeça afora e um furacão dentro. Segundo:
que ilusão pensar que a modelo se levantou da cama com aquele cabelo. Imagine!
De jeito nenhum. O cabelo foi todo atrapalhado por mãos de artista, sabe aquele
atrapalhado chique? Então. E terceiro: A moça é a moça e eu sou eu. Cada um é
cada um. São texturas, formas, tons e sei lá mais o quê diferente. Mas o pior
que pode acontecer é a gente querer que além do cabelo, a cara também fique
parecida com a cara da modelo. Aí já é demais!
Bem,
então fui para o salão. Enquanto eu esperava minha vez fiquei observando uma
senhora, senhora assim como eu. Ela estava de costas para mim fazendo pé e mão.
E aconteceu que eu gostei muito do jeito do cabelo dela na parte de trás,
cheinho assim, repicado. Então eu disse para a cabeleireira:
-
Olha, eu estou gostando muito do cabelo dela, apontando para a senhora. Se der
para o meu ficar parecido já tá bom.
Aí
vira a senhora, feliz com o elogio, e diz:
- Olha
só, o meu eu pedi para cortar do jeito do cabelo da Dona Josefa.
E a
cabeleireira complementou:
- E
a Dona Josefa me pediu para fazer o cabelo dela igual ao cabelo da Dona Tininha.
E se não estou enganada, a Dona Tininha elogiou muito seu cabelo um dia em que
você passou aqui em frente.
-
Ahn??? O meu?Como assim?
Só
sei, gente, que cada uma gosta é do cabelo da outra. A grama do vizinho é sempre
mais verde. Cheguei e contei pro meu marido e ele me lembrou de quando tivemos
um sítio. Nossos dois boizinhos ficavam lá comendo o capim do pasto e os bois
do vizinho vinham pra nossa cerca, enfiavam a cara por onde dava para comer do
nosso capim. Fato comprovado por nós com estes olhos que a terra há de comer.
Conclusão:
Tratemos de gostar de nós com cabelos crespos, lisos, finos, armados, com
redemoinhos na cabeça e furações dentro dela. Somos diferentes, seres únicos,
até mesmo os gêmeos idênticos com o mesmo DNA são diferentes, cada um com um
jeito de ser, de expressar alegria ou sofrimento. Cada uma de nós tem um
encanto, às vezes muitos encantos que não nos damos conta. Tive uma amiga que
costumava dizer que se a Miss Universo mais linda do mundo não acreditar que é
linda, pode todo o mundo dizer que ela vai continuar se achando feia. Tudo
depende da gente. Tudo está em nossa mente, coração ou espírito. A gente é o
que está do lado de dentro. O que está por fora é o que aparentemente
aparece.
Há outro ponto a se considerar: com a idade,
além de outras perdas, vamos também perdendo cabelos, é um fato lamentável, mas
é fato. Então pra que ficar querendo isso mais aquilo, namorando a foto de uma
modelo de cabelos brancos que, talvez, quiçá são até pintados de branco e não
originais? Quer saber? A coisa mais bonita do mundo é a gente ser única! Ah,
isto é sim.
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