quarta-feira, 18 de agosto de 2021

INVERNO PRA LÁ DE FRIO

 INVERNO PRA LÁ DE FRIO

 

Confesso que este inverno foi, digo foi porque acho que o pior já passou, para mim um dos mais cruéis de que tenho lembrança, aqui em Itajubá. Já provei outros piores, mas um especialmente ficou marcado.

Eu, Sandra, Musa e Fernando fizemos uma viagem maravilhosa: Buenos Aires, Bariloche, Lagos Andinos, Puerto Montt, Santiago, Vinha Del Mar, Valparaíso. Isso foi início de 80, tempo pra caramba, quarenta anos mais ou menos. Era minha primeira viagem de avião. Tudo começou com um imenso atraso em São Paulo. O voo deveria ter saído no meio tarde e acabou que saiu às 11 da noite. Em Buenos Aires chegamos a dormir umas duas horas e logo o guia veio nos acordar para a viagem à Bariloche. Curtiríamos Buenos Aires só daí a uma semana.

Bom, vamos lá. Um frio em Bariloche que já sentimos de cara. Tudo bem, eu tinha algumas peças para o frio, na verdade, eu não tinha o que servisse porque não eram roupas suficientemente quentes para o frio que faz lá. Mal nos acomodamos no hotel, o guia veio nos chamar para um passeio no Cerro Catedral. Tudo bem, bora lá gente. Com um pouco de sono, lá fui. Um espetáculo deslumbrante, uma montanha de neve. Nunca tinha visto neve. E falaram por lá que naquele ano, naquele período não tinha neve, que estava fraco, pra mim não.

Eu nunca passei tanto frio em minha vida. Eu estava com uma blusinha de nada, fininha, fininha no meio daquele gelo. O pessoal lá mega agasalhado, e nós podíamos ter sido avisadas para nosso maior conforto. Eu tiritava de frio e não tinha pra onde correr. Devia haver uma cafeteria, um restaurante logo mais abaixo. Mas gente, era minha primeira viagem, eu não ia sair de perto do povo. E o medo de me perder? E o mico? E a timidez? E a bobice? Fazendo de conta que não sentia o frio. Com risco de morrer de frio e fazendo cara de calor. Sei que quando entramos no ônibus para vir para a cidade, eu tive uma sensação maravilhosa, aquela quentura que saía do aquecedor e desejei que aquele calor não passasse nunca mais. Logo tomamos um café, um banho quente gostoso e fomos jantar.

No final da noite houve um “carnaval”, todo mundo dançando, sambando no salão do hotel. Eu com os olhos que se recusavam a ficar abertos, afinal, já estávamos quase 24 horas sem dormir, aquele frio desgraçado e depois banhos quentes, quartos quentes, comida quente, ah, o sono pegou impiedoso. Eu me lembrei que os antigos diziam que criancinha pequena chora quando tem sono porque sentir sono dói, e demorar pra dormir é um desconforto. Pobrezinhos dos bebês! Pobrezinha de mim! O sono fazia tudo doer em mim. Quando entrei no quarto, comecei a chorar que nem um bebê, vesti meu pijama, bati na cama e pensei: se alguém vier acordar a gente, eu não vou, vou ficar o dia inteiro nesta cama deliciosa. Depois daquele turbilhão de emoções físicas e psíquicas, eu merecia.

E dormi até às 10h da manhã. Sem mentira nenhuma, como dizia minha mãe, acho que foi a única vez na vida que acordei essa hora. Bom, acordei e achei a Sandra e a Musa super acordadas, batendo o maior papo. A Musa disse: uai Misa, e o banho que você é sempre a primeira a tomar? Já sei. Você acordou de madrugada, foi tomar banho e voltou pra cama, sem contar pra ninguém. Pegavam no meu pé.

O restante da viagem foi tudo bem. Depois de uma semana em Bariloche, ficamos em Buenos Aires e seguimos para o Chile. Em Puerto Montt saímos para passear por nossa conta e cansados do frio da rua e com fome entramos em um bar/restaurante onde acabamos por escolher pizza. Veio como acompanhamento da pizza um jarro de vinho. Naquela época nenhum de nós bebia. Mas quando a gente está fora, tudo pode acontecer, vale tudo, assim encaramos o vinho. Claro que saímos trocando as pernas. O vinho desceu esquentando e a pizza deliciosa matou nossa fome. Tudo passa. Minha vida é metade ternura, metade saudades.

Sempre tive vontade de voltar a Bariloche. Se ou quando a Pandemia acabar de verdade, eu vou. Por enquanto, só ficaram as saudades congeladas no meu coração! 

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