Esta frase, “seja mais forte que suas desculpas”, está escrita e pintada na parede da Academia onde tenho ido praticar exercícios para fortalecer os músculos. De cara isso me chamou a atenção porque minhas desculpas são inexoravelmente mais fortes do que eu. Fiz o que pude para evitar esses exercícios, mesmo sabendo de sua importância, é claro. Arranjei todo tipo de desculpas para os médicos, para os outros e para mim mesma. Mas tive que capitular, ou ficaria me entupindo de torsilax e dorflex para todo o sempre. Ah isso eu também não queria.
Era
necessário que eu tomasse uma decisão pra valer e cultivasse uma determinação,
pois sem determinação não vamos chegar a lugar nenhum em coisa alguma. Tudo
bem, vamos lá. Mas não é fácil. Significa acrescentar um componente novo na
vida habitual. É uma mudança. É uma vida nova. Lembrei-me de uma frase que li
no conto “O galo”, de Paulo Mendes Campos: “inaugurar uma vida nova é muito
difícil”. É vencer a si próprio. É batalha!
Até
que enfim tomei a decisão e fui para os exercícios. Suportei todos os
obstáculos, tanto os físicos como os emocionais e dificuldades sociais. Não
conhecia ninguém, eu me apresentei e fingi que eu não era tímida. As mulheres
gentis me acolheram, mas todo início é difícil, há que enfrentar. Grandes
coisas, como a gente costumava dizer! Em dois tempos eu já aprendia onde pegar
os pesinhos, caneleiras, barras e outros trecos para os exercícios. Em dois
tempos eu já não me sentia tão estranha no ninho. A gente pode tudo ou quase
tudo. Basta uma decisão, uma determinação.
Vou lá
três vezes por semana, subo me arrastando por seis andares e enfrento. É
necessário. Enfrento dificuldades sim, como a coordenação dos movimentos.
Sempre evitei aulas de dança sincronizada porque invariavelmente vou para o
lado oposto ao da turma e sinto vergonha. Mas a gente tem que vencer essas
bobices, não ligar, pronto. Que é que tem a gente ser descoordenada? ninguém é
perfeito. O importante é ir. E olhe que em poucos dias minha dor arrefeceu.
Os
exercícios são pesados, pelo menos para mim, embora as meninas e mulheres de
terceira ou melhor idade sempre me digam que também tiveram que se acostumar. Vamos
ver. Meus ossos, músculos, tendões e ligamentos estão doloridos, revoltados por
terem sido provocados, acordados de um sono milenar.
Ainda
não perdi a mania de olhar o relógio da parede para saber se falta pouco para
acabar. Mas quando toca a música do filme “Flashdance” da década de 80, eu
viajo, nem sinto tanta dificuldade. Simplesmente me sinto a própria moça
protagonista do filme e sonho que estou realizando aqueles malabarismos
próprios de um corpo jovem. É incrível como a música faz milagres! Na mente e na
alma eu posso tudo! Sou uma bailarina e ginasta perfeita!
Comprovei
com os exercícios que tenho sim um lado diferente, como todo mundo tem. Um lado
é mais fácil ou difícil do que o outro, definitivamente. Também comprovei que o
segredo da vida é um eterno adaptar-se, Yeats que o diga: “O segredo da
sobrevivência é abraçar a mudança e se adaptar”. Também digo que é incrível
como a adaptação chega para nós de maneira natural e inevitável em todas as
circunstâncias da vida. Lógico que a gente se debate e sofre, mas a gente se
adapta.
Por
fim, faço mais uma observação: quem sabe se ao vencer a si mesmo fazendo
exercícios físicos, ou seja, melhorando o corpo e suas engrenagens, de repente,
nos vejamos mais aptos para vencer os vícios espirituais, como a preguiça, o
fastio, o desânimo. Somos seres complexos, compostos de corpo, alma, mente,
espírito. Eles estão ligados até que a vida termine. Melhorando o corpo, ou
seja, a parte palpável, a que pode ser vista e sentida com suas dificuldades e
dores, talvez possamos também melhorar a mente e o espírito.
De
qualquer forma, é necessário um gesto, um passo, uma decisão e depois uma
determinação. Ninguém pode fazer isso por nós. Acordar um corpo adormecido é
difícil tal como inaugurar uma vida nova, mas é possível, ainda que seja com
suor e lágrimas. E sempre é.
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