quinta-feira, 22 de setembro de 2022

INAUGURAR UMA VIDA NOVA (Seja mais forte que suas desculpas)


Esta frase, “seja mais forte que suas desculpas”, está escrita e pintada na parede da Academia onde tenho ido praticar exercícios para fortalecer os músculos. De cara isso me chamou a atenção porque minhas desculpas são inexoravelmente mais fortes do que eu. Fiz o que pude para evitar esses exercícios, mesmo sabendo de sua importância, é claro. Arranjei todo tipo de desculpas para os médicos, para os outros e para mim mesma. Mas tive que capitular, ou ficaria me entupindo de torsilax e dorflex para todo o sempre. Ah isso eu também não queria.

Era necessário que eu tomasse uma decisão pra valer e cultivasse uma determinação, pois sem determinação não vamos chegar a lugar nenhum em coisa alguma. Tudo bem, vamos lá. Mas não é fácil. Significa acrescentar um componente novo na vida habitual. É uma mudança. É uma vida nova. Lembrei-me de uma frase que li no conto “O galo”, de Paulo Mendes Campos: “inaugurar uma vida nova é muito difícil”. É vencer a si próprio. É batalha!

Até que enfim tomei a decisão e fui para os exercícios. Suportei todos os obstáculos, tanto os físicos como os emocionais e dificuldades sociais. Não conhecia ninguém, eu me apresentei e fingi que eu não era tímida. As mulheres gentis me acolheram, mas todo início é difícil, há que enfrentar. Grandes coisas, como a gente costumava dizer! Em dois tempos eu já aprendia onde pegar os pesinhos, caneleiras, barras e outros trecos para os exercícios. Em dois tempos eu já não me sentia tão estranha no ninho. A gente pode tudo ou quase tudo. Basta uma decisão, uma determinação.

Vou lá três vezes por semana, subo me arrastando por seis andares e enfrento. É necessário. Enfrento dificuldades sim, como a coordenação dos movimentos. Sempre evitei aulas de dança sincronizada porque invariavelmente vou para o lado oposto ao da turma e sinto vergonha. Mas a gente tem que vencer essas bobices, não ligar, pronto. Que é que tem a gente ser descoordenada? ninguém é perfeito. O importante é ir. E olhe que em poucos dias minha dor arrefeceu.  

Os exercícios são pesados, pelo menos para mim, embora as meninas e mulheres de terceira ou melhor idade sempre me digam que também tiveram que se acostumar. Vamos ver. Meus ossos, músculos, tendões e ligamentos estão doloridos, revoltados por terem sido provocados, acordados de um sono milenar.

Ainda não perdi a mania de olhar o relógio da parede para saber se falta pouco para acabar. Mas quando toca a música do filme “Flashdance” da década de 80, eu viajo, nem sinto tanta dificuldade. Simplesmente me sinto a própria moça protagonista do filme e sonho que estou realizando aqueles malabarismos próprios de um corpo jovem. É incrível como a música faz milagres! Na mente e na alma eu posso tudo! Sou uma bailarina e ginasta perfeita!

Comprovei com os exercícios que tenho sim um lado diferente, como todo mundo tem. Um lado é mais fácil ou difícil do que o outro, definitivamente. Também comprovei que o segredo da vida é um eterno adaptar-se, Yeats que o diga: “O segredo da sobrevivência é abraçar a mudança e se adaptar”. Também digo que é incrível como a adaptação chega para nós de maneira natural e inevitável em todas as circunstâncias da vida. Lógico que a gente se debate e sofre, mas a gente se adapta.  

Por fim, faço mais uma observação: quem sabe se ao vencer a si mesmo fazendo exercícios físicos, ou seja, melhorando o corpo e suas engrenagens, de repente, nos vejamos mais aptos para vencer os vícios espirituais, como a preguiça, o fastio, o desânimo. Somos seres complexos, compostos de corpo, alma, mente, espírito. Eles estão ligados até que a vida termine. Melhorando o corpo, ou seja, a parte palpável, a que pode ser vista e sentida com suas dificuldades e dores, talvez possamos também melhorar a mente e o espírito.   

De qualquer forma, é necessário um gesto, um passo, uma decisão e depois uma determinação. Ninguém pode fazer isso por nós. Acordar um corpo adormecido é difícil tal como inaugurar uma vida nova, mas é possível, ainda que seja com suor e lágrimas. E sempre é.  

 

  

 

 

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