domingo, 8 de outubro de 2023

MEU TESOURINHO


 

Sempre achei que viagens de ônibus trazem sempre muitas histórias e surpresas. Pois minha irmã me contou uma história que eu até poderia dizer quem foi o protagonista, pessoa pública e conhecida, mas isso não é necessário. Foi o seguinte. O homem comprou uma passagem de ônibus para viajar durante a noite porque seria uma longa viagem de cerca de dez horas. O assento ao seu lado estava vago, o que já era um bom começo, pensou ele, pois poderia viajar com mais conforto. Mas na última hora, entrou uma mulher muito simples com uma criança pequena, de colo. Ele ficou contrariado, pois tinha certeza de que ela se sentaria no banco ao seu lado, uma vez que o ônibus estava praticamente lotado.

Vamos lá, matutou o homem, aposto que não vou conseguir dormir, mas acolheu carinhosamente a mulher e a criança, confirmou para ela o assento olhando sua passagem, ajudou colocando as bolsas no maleiro, enfim, fez o que qualquer pessoa de bem faria e faz. Logo percebeu que a criança devia ter algum problema porque gritava de forma desconexa, era agitada e com coordenação motora um tanto descontrolada. A mãe se mostrava paciente e carinhosa, tentando fazer a criança se acalmar. Cantava baixinho, dava tapinhas nas costas para tentar fazer a criança dormir.

Bem, lá pelas tantas, o homem, já resignado, sabendo que sua noite seria insone, foi solidário com a mulher, dizendo: é difícil né? E para seu espanto, a mulher respondeu: não, não, isso não é nada, nada difícil, ele é o meu tesourinho! E olhou amorosamente para o filho, beijando sua cabecinha. O homem se envergonhou, surpreso com a atitude da mulher, pois normalmente as pessoas se queixam, com razão, estão cansadas, sem esperança e uma criança agitada o tempo todo, é difícil sim manter a serenidade, muitas mães se esgotam. No entanto, aquela mãe estava feliz com seu tesourinho, talvez justamente pelo trabalho que dava. Quanto mais trabalho, mais amor. E acabou que o homem agradeceu a Deus pelo ocorrido. Foi uma lição.

Pois é, mas isso me fez lembrar de algo que a minha mãe contava há muito tempo. Ela estava indo para São Paulo e houve uma confusão de passagens. A mulher com criança no colo ficou sem assento. E uma senhora muito bem vestida tinha um assento vago ao seu lado. Só que ela havia comprado os dois assentos para que ninguém se sentasse com ela, para que ninguém a incomodasse, dizendo de uma forma mais suave, para que ela tivesse mais conforto. E o motorista perguntou se ela não se importaria de ceder um lugar para a passageira, ao que ela respondeu que não ia ceder. Tudo foi resolvido quando outra pessoa cedeu o próprio lugar porque nem todos são individualistas.

Estamos caminhando para um tempo muito difícil, a humanidade parece que perece. Este jogo de palavras não foi proposital, não vou mudar, deixa assim. Precisamos ser mais humanos, mais próximos do próximo. Quem é nosso próximo? É quem está mais próximo fisicamente. Hoje li algo muito bonito postado por uma pessoa amiga. Trata-se do primeiro sinal de civilização numa cultura. Sem dúvida alguma, se queremos ser civilizados temos que aprender a cuidar uns dos outros, gastar tempo com o outro, ajudar os outros nas dificuldades. A Bíblia diz para não desviarmos os olhos do pobre.   

 Sempre irei me lembrar do caso do “tesourinho” com muito carinho! 

Nenhum comentário:

Postar um comentário