sexta-feira, 18 de agosto de 2017

A GENTE COMO A GENTE É



            Há pouco tempo recebemos a visita da neta de meu marido, uma moça encantadora. De uma beleza estonteante, não há nada nela que não seja bonito. O rosto lindo, os cabelos longos, o corpo harmonioso, enfim, de uma beleza absolutamente perfeita. Aí eu confabulo com minha irmã: como a juventude é bela! E ela não é bonita apenas fisicamente, não, é muito mais do que isso. É uma pessoa despojada, sem vaidades nem gestos ensaiados, nem preocupações com sua imagem, é modesta, simples assim. Ela realmente é uma pessoa adoravelmente do jeito que eu queria ter sido em sua idade e ainda queria ser. Não falo da beleza física, já sou uma respeitável senhora, mas falo do seu jeito de ser. Delicada, calada, falando pouco, ouvindo muito, sorrindo, calma, serena, uma graça.
            Mas não sou assim, não fui assim. Sempre fui estabanada, sempre falei muito, além da conta. Sou daquelas que se estiver no elevador subindo meus dez andares, neste curto espaço de tempo sou capaz de contar uma história de fazer rir ou chorar. Isso deve significar que não sou tímida, embora eu sempre acreditasse que sim. Eu achava que eu apenas fingia não ser tímida. Tímida o quê? Sou nada! É só dar corda, às vezes nem precisa. Eu já vou falando nem que seja “será que chove?”, “quente né gente?”.
            Ainda ouço a voz de minha mãe pedindo para eu falar menos e mais baixo, ainda ouço as reprimendas das professoras. Ainda me vejo gritando nas brincadeiras de rua. É lógico que também a adolescência dos anos 60 matou muito de minha espontaneidade. Bateu aquele sentimento de inferioridade, de ser ridícula, de jamais dançar porque ouvi que não dançava no ritmo e outras milhares de coisas que vão podando a gente, matando a alma e tirando o sorriso da cara. Mas depois dos 40 recuperei peseta por peseta tudo o que me foi roubado, todos os campos devastados pelos gafanhotos. Acordei de sonos milenares tipo assim Bela Adormecida querendo tirar o atraso do sorriso assassinado e da fala aprisionada. Melancólica eu? Nem chorando!
            Não adianta querer ter sido ou ser como a Sarinha. Não é assim que funciona. Não fui assim, não sou assim. Nasci ansiosa pela vida, não tenho calma nem paciência pra ser serena. Sou uma pessoa alegre, mas também fico triste. Convenhamos: ótimo, ótimo, ninguém está. Duvido. Tem sempre um danado de um espinho na carne da gente. Um dia está tudo maravilhoso, outro, nem tanto, e outro, péssimo. É impressionante como a vida vai de boa pra ruim e vice-versa. Mas minha natureza é alegre mesmo nas tristezas. Tenho que falar, não posso me calar nem fingir ser o que não sou. O bonito da vida é que somos todos diferentes, ú n i c o s, isso ninguém pode negar. Cada um vem com uma forma e uma dádiva. Cumpre viver bem. A gente tem que ser como a gente é da melhor maneira possível.    

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