sexta-feira, 28 de julho de 2017

O BOM DE SER BOM



            Dizem que quando alguém pensa que é bom, já não é, assim como quando alguém pensa que é humilde, a humildade já passou direto e correu léguas. Quem de fato almeja ser bom, nunca se julga bom, talvez aí o seja. Então, o princípio do princípio para ser bom deve ser reconhecer que não se é. Tem outra maneira de se verificar a bondade: Oscar Wilde deixou uma frase que nos faz refletir – “Quando somos felizes, somos sempre bons, mas quando somos bons, nem sempre somos felizes”. Faz sentido. Por ocasião das vésperas de meu casamento fui me confessar com um padre muito querido. Quando ele me perguntou os pecados, não conseguia me lembrar de nem um porque estava muito feliz como são muito felizes todas as noivas. Ele então se limitou a me perguntar se eu tinha inimizade com alguém, ao que eu prontamente respondi que não. Na verdade eu não me lembrava de nenhum inimigo, tampouco de nenhuma mágoa. Estava feliz e, portanto, eu era boa, sem sentimentos maus. Inimigos? Não, se os tive, estavam todos perdoados para sempre! O que a felicidade faz, não é?
            Pois é, de fato quando estamos felizes tratamos todos bem, cantamos e agradecemos, é tudo maravilha, somos bons. Mas ai de nós se nossa redoma de felicidade for arrombada. Quando somos atingidos por dardos venenosos vai tudo por água abaixo, inclusive a bondade. Nós nos tornamos amargos e tristes. É difícil ser bom o tempo todo e impossível ser feliz o tempo todo. Ter um bom coração com quem é bom conosco, tudo bem, mas com quem é difícil, haja coração bom!
Há que se considerar também que há coisas que dificilmente combinam com a bondade como o poder e o dinheiro. A mãe da rainha má do seriado “Once upon a time” optou por tirar literalmente seu coração do peito para governar seu reino, uma vez que entendeu que bondade e poder raramente andam lado a lado e uma rainha sem coração estaria mais à vontade para tomar certas decisões com mão de ferro. No entanto, no final da vida da rainha, sua filha trouxe de volta o coração e o colocou no peito da mãe. Antes de morrer, a velha rainha ficou encantada com o pouco que pôde conviver amorosamente com a filha. Em seus braços, ela exclamou: valeu a pena só por este momento de amor! Com o coração no peito, ela percebeu que a vida era muito melhor, ou seja, a bondade a fez feliz!
Por incrível que possa parecer, a bondade é o que é mais invejado no ser humano, ganhando disparado de coisas materiais, da riqueza, do poder e até das honrarias. Há uma passagem bíblica que diz: “invejo-te porque és bom”. E o mais surpreendente é que os que invejam a bondade nem a conhecem, apenas quereriam ser como são os bons, pois há algo precioso neles que os atrai, mas isso é “priceless”, é algo quase mágico, percebido, mas escondido porque é interior.  
Então, meu caro Oscar Wilde, talvez seja possível sim ser bom e ser feliz. Apenas temos que fazer das tripas o coração porque sem ele não dá. Se for para tirar o coração do peito como fez a rainha, que seja para entregar pra Deus curar. Ele nos dará um  coração novinho em folha!
Enfim, o bom de ser bom é justamente ter um direito adquirido de ser feliz, um direito que ninguém pode nos roubar, embora invejem, cobicem, porém em vão, pois a verdadeira felicidade e a verdadeira bondade moram dentro do coração.  
 
           
           

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