sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

A HORA BENFAZEJA DA TARDE (Feliz aniversário!)



A HORA BENFAZEJA DA TARDE

            Gosto quando entro em casa pela tardinha e não pretendo mais sair. Respiro profundamente aliviada ao fechar a porta. Ao contrário de “Ana”, a personagem de Clarice Lispector no conto “Amor”, não temo a hora perigosa da tarde. Talvez porque eu já esteja mais velha e minha mãe dizia que com a maturidade as questões vão se resolvendo naturalmente. Talvez porque eu goste mais desta hora quando o dia ameaça ir embora para dar lugar à noite e eu sinceramente sou mais da penumbra, das sombras, das cores do crepúsculo e dos sussurros da noite. Ou talvez simplesmente porque “Deus me deu um amor no tempo da madureza ... pois que tenho um amor.”, como dizia Carlos Drummond.
            E o que é um amor? É alguém que veio ao meu encontro ou eu que fui ao seu encalço ou vice-versa e passamos a caminhar lado a lado. Não somos almas gêmeas, muito pelo contrário, somos almas infinitamente diferentes. Com ele aprendi a amar as diferenças. Eu padeço de TOC, ele de TOQUES de carinho, de amor, de magia, de abraços, de amassos e enlaços. Eu não sei cozinhar, ele é meu CHEF, não CHEFE, e sim aquele alquimista que transforma os alimentos em comidas maravilhosas.
            O que é um amor? Aquele cara que está em casa e quando eu chego eu digo: Beemm, cheguei. E eu sei que ele está lá em cima e que vai me acenar da escada. E se ele não faz isso eu subo e percebo que a casa é nada sem a sua presença. Aquele cara que quando eu me queixo de dor de cabeça, ele finge que vai tirar a dor, apertando um ponto no meio da minha testa e outro na coluna porque (ele me explica) ambos convergem para o meridiano tântrico que faz expandir a força em direção ascendente até o 7º Chakra, localizado no topo da cabeça.
            O que é um amor? Para mim é aquilo que chega pra gente “sempre mais do que vem nos milagres”. Agora consigo entender melhor este verso de Cecília Meireles.
            Contudo, só tive mesmo a certeza de que era de fato o amor de minha vida quando há muito saboreamos um café com pão assistindo ao por do sol em certa hora benfazeja da tarde. Senti uma felicidade que pulsava tão forte no meu peito que pensei que estava morrendo do coração. Nunca a vida me pareceu tão simples, tão certa, tão plena, tão perfeita! Fechei os olhos para reter aquele momento mágico e guardar no recanto mais secreto de minha alma. Era o meu amor que entrou em minha vida, ousado e gentil, alimentando minha devastada carência, minha alma e corpo sequiosos de amor. Só me lembro que tive uma imensa vontade de chorar de ternura. Entendi que isso devia ser o que dizem ser o tal do amor.   
            E quando chega certa hora benfazeja da tarde, eu me quedo, encantada, e assisto aos últimos raios do sol que se põe e ao milagre do dia que se torna noite sem que a gente nunca perceba e me sinto despudoradamente feliz, pois que tenho um amor.

 

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