domingo, 27 de maio de 2018

AINDA CABELOS



            E o assunto de cabelos nunca se esgota. As mulheres gostam tanto de cabelos quanto de sapatos. E minha paixão por cabelos começou bem cedo quando minha mãe que era quem decidia tudo, decidiu que teríamos cabelos bem curtinhos, franja curta e cabelos curtos. Lógico que eu queria ter os cabelos compridos. Devo ter implorado para ela e por alguma razão que desconheço ela concordou, que fosse lá por um tempo para que eu tivesse o gostinho. Pois quando meus cabelos estavam compridos, ma ra vi lho sos, minha mãe decidiu que eu teria que cortá-los. Obedientes que éramos, lá fomos eu e minha irmã para a casa da prima Leda que cortava nossos cabelos. Lembro-me direitinho como se fosse hoje. Voltamos pra casa e fomos direto para o andar de cima. Eu corri e me postei de frente a um móvel que tinha o espelho grande da mamãe na parede. E quando me vi no espelho de casa, me senti nua, crua e esfolada, meus olhos transbordaram, lágrimas copiosas foram derramadas e eu me senti amargurada, a mais infeliz das criaturas.
            Era época dos famosos penteados, dos coques altos na cabeça para brilhar nos bailes. A mesma prima que cortava nossos cabelos fazia penteados fantásticos na mulherada. Os coques tinham que ficar imexíveis, paralisados no alto da cabeça, então as moças entendidas colocavam até um bombril inteiro dentro do coque que seria depois regado com muito laquê. Era possível dançar um twist bem barulhento, girando o corpo freneticamente sem que um fio de cabelo se mexesse. 
            Logo depois, lá pelos fins de 60 chegou a famosa moda da touca! Alguma mente brilhante inventou um modo de girar os cabelos pela cabeça afora, colocando milhares de grampos. Depois de algum tempo, “virávamos a touca”, ou seja, girávamos os cabelos presos por grampos para o outro lado. O efeito era miraculoso! Cabelos crespos se tornavam lisos e cabelos lisos rebeldes se tornavam macios e certinhos. Podemos dividir a era dos cabelos femininos como A.T e D.T, ou seja, antes da touca e depois da touca. Logo fomos aprendendo a fazer a própria touca. Minha irmã e eu treinamos fazendo uma na cabeça da outra. A diferença era estrondosa, quase como uma escova progressiva.
            Não é que hoje na praça, fomos comer pastéis e tomar chope quando uma amiga chegou. E contou uma história interessante de cabelos. Contou ela que namorou três anos e meio, noivou seis meses e depois se casou. Como ela tinha os cabelos crespos longos, logo aprendeu a fazer a touca, e fazia com tanta maestria que seus cabelos ficavam lisos escorridos. E ela se acostumou tanto a fazer a touca diariamente que o marido levou um susto imenso ao flagrá-la de cabelão crespo um belo dia em que ele chegou mais cedo do trabalho. Foi quando ela se de conta de que o marido ainda não conhecia seus cabelos naturalmente crespos. Outra amiga presente à reunião comentou que era caso até para anulação de casamento!
            Mais tarde pelos anos 80 fazíamos “permanente”. Isso era comigo mesmo! Adorava ter os cabelos bem crespos. E depois amei copiar o look da pantera Farah Fawcett com aquele volume nos cabelos e aquelas ombreiras de jogador de futebol americano!
            Como todas as mulheres, passei por muita moda de cabelos. Sempre mudei. Faz parte de minha natureza inquieta. Há algum tempo capitulei. Decidi deixar meus cabelos brancos. Aderi. Adorei. Mas confesso que de vez em quando ainda sonho com aqueles longos cabelos desejados na infância. Bobagem. O que foi negado sempre retorna de outra maneira. É só deixar o coração aquecido.
            Ai Ai gente. Confesso que vivi. 
           
           
             

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