quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

CARTA PARA PAPAI NOEL



Papai Noel, há muito tempo que não peço nada ao senhor. Tanto tempo que minha última cartinha devia ter um pedido de uma boneca da Estrela! E ganhei! Porém sei que não foi o senhor que trouxe. Sempre foi minha mãe. Eu já sabia e sei que você não existia como não existe, mas de repente, tudo pode ser, não é? Envolvida pelo clima mágico do Natal, quem sabe você existe sim ou passou a existir, sei lá.
Então tenho alguns pedidos: o senhor sabe, a vida passou, tudo mudou. Já não sou mais aquela menina que queria a boneca da Estrela, maravilhosa por sinal! Reconheço que era. Bochechuda, cabelos loiros de um loiro inigualável, olhos azuis claros. Também tenho olhos azuis, mas são escuros, assim como o mar ao entardecer. E eu amo olhos azuis claros, ninguém está contente com o que tem. Este é o mal da humanidade. A boneca tinha uma bolsinha pequenina e quando abri me deparei com uma escova de cabelo e batom, que lindo foi aquilo! Agora, a boneca da Estrela já era, as meninas pedem celulares de última geração, top de linha. Também não quero isso. Meus pedidos são modestos:
- Quero um panetone recheado de churros. Pra variar, Papai Noel, saí, comprei dois panetones pra duas pessoas que gosto muito. Comprar três, já era uma exorbitância. O senhor acredita que já é o segundo Natal que quero muuuito um panetone recheado de churros que compro para os outros e não tenho coragem de comprar pra mim? Pois hoje decidi que compraria, fui toda destemida à loja e o senhor acredita que acabou? Acabou. Não tem mais. Como sempre fico só na vontade. Mas para dizer a verdade, senti até um alívio. Papai Noel, deve ter alguma coisa errada comigo! Ou é muita falta de dinheiro ou muita falta de autoestima, ou os dois. Fala a verdade!
Também quero umas duas caixas de champanhe, da boa, nacional mesmo porque sou uma pessoa que prestigia o que é nosso, por exemplo, uma Salton brut ou demi-seco, ou uma Terra Nova, já tá mordebão. Mas não quero “Chuva de Prata” ou de ouro. Sou enjoada. Meu marido andou comprando aí umas garrafas de champanhe pra mim, desconfio que não passam de três! Escondeu o embrulho, mas já vi onde está, só que não abri, isso não faço, não é do meu feitio.
Ele disse que não preciso de nada, que já tenho tudo, por exemplo, um marido como ele, (como é convencido!) É verdade que é pessoa finíssima, acredito que é um príncipe, sem castelo nem carruagem, mas dos bons, da linhagem de Davi, um príncipe por dentro, entende? O tal do tesouro interior. Eu sei, é riqueza que não se vê, mas se vive e se prova dela. Também ele me disse que o pouco com Deus já é muito. É sim. 
Então Papai Noel, continuo querendo mais. “Quero mais, bem mais do que vem nos milagres”, como dizia Cecília Meireles. Quero que o Céu exista de verdade, com ruas de ouro e quero encontrar nossos cães lá, todos eles, já me disseram que eles irão para o Céu. Quero minha família muito unida, quero um perdão que pedi e nunca recebi, quero muitos risos mesmo misturados com lágrimas, quero muitos sonhos porque a vida é pequena e meus sonhos são muito grandes. Acima de tudo quero ser uma pessoa melhor. Infinitamente melhor.
Pode ser? Obrigada!
Feliz Natal Papai Noel!
Não se esqueça do panetone recheado com churros e das garrafas de champanhe da boa!
   

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