quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

ADORÁVEL COSTUREIRA



Ontem fui à costureira que está fazendo um vestido pra mim. Achei que eu merecia um vestido novo, estampado de flores para usar no Natal. Quase sempre compro roupas prontas, mas de vez em quando opto pelo feito pra mim. E, invariavelmente, expressão que minha mãe costumava usar, toda a vez que estou diante do espelho com a costureira a espetar um alfinete aqui e ali, eu viajo e me lembro da mamãe. Ela foi uma costureira exemplar. Muito chique. Eu poderia escrever um livro inteiro sobre ela, aliás, já escrevi, mas isto é outra história.
Bem, ela era esperta, inteligente, ativa. Eu sei, eu sei, mãe é mãe. Ela contava muitas histórias de sua vida e uma dessas histórias era que em Caxambu havia aprendido a costurar com uma senhora, não vou me lembrar do nome. Então, todos os dias, lá ia minha mãe pra a casa da Dona Lalá, faz de conta. Lá, elas cortavam o pano, costuravam, conversavam e davam conta das encomendas. Esperta como era, logo superou a mestra. Gente, isso é uma dedução minha, é claro, mas tenho certeza de que foi exatamente assim que o fato se passou. Um dia, Dona Lalá ficou fitando com profundo interesse um retalho de alguma peça que lhe caiu às mãos. Por fim exclamou:
- Zezé, olha que coisa linda! Olha que vestido lindo daria se o retalho fosse um pouquinho maior! Já pensou eu indo à missa com uma joia rara dessas?
Minha mãe olhou, olhou, e ao voltar para casa, ela levou o retalho com ela. Não sei como, devido à precariedade de recursos da família, lá tinham uma velha máquina que ainda costurava. Como um matemático debruçado sobre uma equação impossível, minha mãe estudou profundamente as medidas do retalho, tentando fazer um milagre com aquele pedaço do tecido. Idealizou um modelito originalíssimo, e mãos à obra. Cortou, emendou, fez isso e aquilo e a obra de arte aconteceu. Às 4 da manhã, o vestido estava pronto. Ela fez um embrulho e foi no dia seguinte trabalhar na casa de Dona Lalá. Ao chegar, disse:
- Dona Lalá, é pra senhora.
- Ahn? Para mim? O que é?
            Estupefata ela viu o vestido que brotara da eficiência e criatividade de minha mãe. Ficou felicíssima, talvez tenha sido o melhor presente de sua vida. Mais feliz ficou minha mãe artista. Bem cedo ela percebeu que dar é infinitamente mais gostoso do que receber. Assim contava minha mãe. Assim ela fez vestidinhos lindinhos pra mim e minha irmã. Acho que eu não poderia ter escolhido contar algo mais delicado sobre minha mãe com a proximidade do Natal. Com os olhos marejados, eu me lembro da generosidade dela, penso que lá no Céu Dona Lalá foi recebê-la com aquele vestido fantástico.
Feliz Natal! Um pouco cedo, né gente? Mas quando brota uma história, não há quem me faça esperar. Meu Natal já está em curso.

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