Da avó paterna,
assisti apenas à morte, eu ainda tão pequena.
Da materna, um tanto
de vida.
Por exemplo, trazia
seus quintais sempre floridos
Em cada casa alugada
que morou.
Fazia um franguinho
ensopado maravilhoso,
Bife com caldinho e cebolas
E ainda bolachinhas
de nata.
Era amorosa, mas sem
rompantes, sem muita festa.
Às vezes vou rezar
sentada em minha cama
Com meus livros de
oração e me lembro dela
Assim nessa mesma
posição.
Do começo do corredor
eu já a avistava
Com aquele seu perfil
de baronesa
Os cabelos grisalhos
puxados para trás
E presos com dois
pentinhos
Os óculos de aros
fininhos na ponta do nariz
Numa quietude de
santos.
De quando em quando
interrompia a leitura
Para coçar a ferida
na perna.
O livro aberto no
colo seria a Liturgia das Horas?
Não sei. Sei que hoje
aqui eu faço a mesma coisa.
Sorrio agora enquanto
digito este texto poético ou não.
Peço emprestada à
infância sua imagem e
É só fechar os olhos
e a vejo perfeitamente
Lendo suas orações
com o livro no colo.
Naqueles primitivos
tempos
Quando me trazia de
ônibus, ela perguntava:
- Você prefere ir pra
casa de charrete ou de táxi?
E eu, sempre doida
pra andar de carro, respondia:
- Táxi.
E ela, esperta:
- De charrete o
passeio demora mais.
Eu não pestanejava:
- De charrete.
Sorrio novamente.
Lembro-me de menina
ainda entrar por sua casa
Quando ela veio ao
meu encontro sorrindo
Minha avó me amava
O amor sobejava.
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