ARMADURAS
Misa
Ferreira
Fuçando aqui na minha papelada achei
uma frase do Oscar Wilde que gostei muito quando li. Acontece que é tanta coisa
que a gente lê, tanto livro, tanta informação que a gente se esquece, sem
contar que com a idade vamos nos esquecendo de nomes e de tudo com mais rapidez
e facilidade. Aí a gente começa a dizer assim: ah, aquele ator, ah meu Deus,
como é que é mesmo o nome dele? Ah aquele que fez aquele filme com aquela
atriz, ah meu Deus, aquele filme, como que é mesmo o nome?
Bem, vamos à frase do Oscar Wilde:
“quando somos felizes, somos sempre bons, mas quando somos bons, nem sempre
somos felizes.” Legal né? Verdadeiro. É fácil ser bom quando se é feliz. A
felicidade, mesmo frágil, passageira, facilita nossa bondade. Mas quando a
felicidade faz as malas e parte, quando o céu escurece e as nuvens despejam
aquele aguaceiro, ficamos pessimistas, tristes, desanimados e ficamos tão
envolvidos com nossa dor ou nossa tristeza que nos esquecemos de ser bons.
Vamos dizer de outra forma, acariciamos nossa dor e nem percebemos a dor dos
outros.
E quando passamos por algo triste,
por alguma perda ou mesmo quando alguém pisa em nossa honra, vamos fechando as
portas. E vamos nos encerrando em nossas armaduras porque elas aparentemente nos
protegem dos ferimentos. E nos armamos até os dentes para que tudo fique
devidamente guardado. Não queremos ser feridos, é lógico, quem quereria? Mas
gente, a armadura é uma armadilha porque se não enfrentamos o dragão olhando
nos olhos, ele nos destrói, a armadura é um ledo engano. Olhar o dragão nos
olhos eu até olho, já deixar que ele me olhe nos meus, isso não. Se ele fizer
isso, vai perceber minha fraqueza. E isso eu não mostro. Não entrego o ouro pro
bandido. Sorrio enquanto digito.
Recebo uns artigos em meu email e
outro dia li algo muito pertinente à armadura: “Nós nos sentimos como
impostores porque, de fato, somos. Sabemos que somos falhos e sabemos que é
perigoso mostrar às pessoas tudo sobre nós, assim, nós escondemos algumas
partes de nós.”(Dan Pedersen). Com a armadura temos a ilusão de nos protegermos.
Bom, eu sou transparente, mas nem
tanto, há partes obscuras de mim que não mostro, nem sei se as conheço bem. Por
outro lado, tenho tentado melhorar, tenho tentado me desarmar, até já tiro a
armadura para dormir. Quando estou feliz, minhas asas se aprontam para voar, mas
quando chegam as nuvens pesadas, aí o mundo acaba, desaba, é a hora de deixar a
armadura no modo ligado, é a hora perigosa, a hora em que estamos fragilizados.
Mas,
bobagem, bom mesmo é dar a cara à tapa, é andar de cara lavada, de ser uma só
na tristeza e na alegria e tentar ligar a bondade no modo ativo.
Recebi de uma amiga um livro muito
bom que recomendo aqui: O Cavaleiro Preso na Armadura de Robert Fisher. Este
livro me inspirou a escrever sobre nossas armaduras e suas armadilhas.
P.S.
Quando nascemos recebemos entre outros bens, a ousadia e a coragem, mas aí
vieram os dragões e as tiraram de nós, deixando o medo. Cumpre resgatar o que é
nosso. Enfrente o dragão. Sem armadura.
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