Tive a oportunidade de ler um texto
muito bonito de uma escritora coreana em que em determinado momento ela conta
que quando foi para a universidade nos Estados Unidos, seus pais a acompanharam
como bons pais que eram. Lá eles foram com ela até o alojamento dos estudantes
onde ela iria morar com mais duas colegas. As duas colegas não foram
acolhedoras, o que a moça logo percebeu e também seus pais. Quando eles foram
se despedir da filha, viram como ela estava destroçada. Era uma nova fase de
sua vida e já começava com duas colegas de quarto que não eram nada amáveis.
Então sua mãe foi firme e lhe deu conselho: “você sabe que pode transformar
qualquer coisa em ouro” (“you can transform anything into gold”). A filha nunca
se esqueceu, enfrentou a situação da melhor maneira que pôde e outras situações
que viriam no futuro.
Bem, isso não é inédito, a gente
sabe que pode fazer das tripas o coração para enfrentar qualquer coisa. Só que
a frase me pegou de jeito, talvez porque o longo texto já chegava num ponto em
que eu emocionada, recebi aquelas palavras como um presente. A mãe coreana deu
um conselho à filha que ela nunca mais se esqueceu. Fiquei pensando nos
conselhos que a gente já recebeu na vida.
Lembrei-me
da indecisão de minha irmã quando terminou o Curso Normal, percebendo que não
queria ser professora, e não sabendo nada sobre o que poderia ser. Afinal, fazer
o famoso Curso Normal e seguir a carreira de professora era o usual para as moças.
Uma vizinha muito bondosa deu à minha irmã não propriamente um conselho, mas
uma sugestão de trabalhar num banco. E não é que logo depois o Banco do Brasil
abriu pela primeira vez em sua história um concurso em que mulheres puderam
participar? Minha irmã fez e foi aprovada. Ser bancária não era exatamente uma
vocação, mas melhor que o magistério que não lhe agradava. E depois eu segui
seus passos. Ainda não sabia que minha vocação era escrever, mas isto é outra
estória. O conselho de nossa vizinha foi bom. Na época era um bom emprego.
Bons
conselhos direcionam, iluminam, transformam e salvam vidas. Fiquei pensando em
algum conselho de minha mãe. A princípio só me lembrei de coisas práticas como:
“você deve sair da mesa sentindo que até poderia comer mais, mas não deve”.
Mas
minha mãe fez uma coisa preciosa por mim. Até então eu era já adulta, ainda em
sua casa e não obstante toda a educação religiosa e demonstrações de seu grande
amor por Deus, eu não conhecia este amor. Ela me deu um livro que já não me
lembro o título. Foi a primeira vez que me senti tocada por Deus como Pai, as
lágrimas brotaram de meus olhos e eu tive que fechar a porta do quarto para que
ninguém visse, mas Deus já havia entrado e fez morada em meu coração.
Obviamente que no correr da vida, eu me afastei, me aproximei, me afastei de
novo, sempre mundana e sempre sedenta. Aquela atitude de minha mãe e aquele
livro também não foram exatamente um conselho, foram muito mais do que isso,
foi uma semente plantada, ainda que o solo fosse tão ruim.
Benditos
conselhos de mães tão sábias!
Nenhum comentário:
Postar um comentário