quinta-feira, 31 de outubro de 2019

CONSELHOS



            Tive a oportunidade de ler um texto muito bonito de uma escritora coreana em que em determinado momento ela conta que quando foi para a universidade nos Estados Unidos, seus pais a acompanharam como bons pais que eram. Lá eles foram com ela até o alojamento dos estudantes onde ela iria morar com mais duas colegas. As duas colegas não foram acolhedoras, o que a moça logo percebeu e também seus pais. Quando eles foram se despedir da filha, viram como ela estava destroçada. Era uma nova fase de sua vida e já começava com duas colegas de quarto que não eram nada amáveis. Então sua mãe foi firme e lhe deu conselho: “você sabe que pode transformar qualquer coisa em ouro” (“you can transform anything into gold”). A filha nunca se esqueceu, enfrentou a situação da melhor maneira que pôde e outras situações que viriam no futuro. 
            Bem, isso não é inédito, a gente sabe que pode fazer das tripas o coração para enfrentar qualquer coisa. Só que a frase me pegou de jeito, talvez porque o longo texto já chegava num ponto em que eu emocionada, recebi aquelas palavras como um presente. A mãe coreana deu um conselho à filha que ela nunca mais se esqueceu. Fiquei pensando nos conselhos que a gente já recebeu na vida.
Lembrei-me da indecisão de minha irmã quando terminou o Curso Normal, percebendo que não queria ser professora, e não sabendo nada sobre o que poderia ser. Afinal, fazer o famoso Curso Normal e seguir a carreira de professora era o usual para as moças. Uma vizinha muito bondosa deu à minha irmã não propriamente um conselho, mas uma sugestão de trabalhar num banco. E não é que logo depois o Banco do Brasil abriu pela primeira vez em sua história um concurso em que mulheres puderam participar? Minha irmã fez e foi aprovada. Ser bancária não era exatamente uma vocação, mas melhor que o magistério que não lhe agradava. E depois eu segui seus passos. Ainda não sabia que minha vocação era escrever, mas isto é outra estória. O conselho de nossa vizinha foi bom. Na época era um bom emprego.
Bons conselhos direcionam, iluminam, transformam e salvam vidas. Fiquei pensando em algum conselho de minha mãe. A princípio só me lembrei de coisas práticas como: “você deve sair da mesa sentindo que até poderia comer mais, mas não deve”.
Mas minha mãe fez uma coisa preciosa por mim. Até então eu era já adulta, ainda em sua casa e não obstante toda a educação religiosa e demonstrações de seu grande amor por Deus, eu não conhecia este amor. Ela me deu um livro que já não me lembro o título. Foi a primeira vez que me senti tocada por Deus como Pai, as lágrimas brotaram de meus olhos e eu tive que fechar a porta do quarto para que ninguém visse, mas Deus já havia entrado e fez morada em meu coração. Obviamente que no correr da vida, eu me afastei, me aproximei, me afastei de novo, sempre mundana e sempre sedenta. Aquela atitude de minha mãe e aquele livro também não foram exatamente um conselho, foram muito mais do que isso, foi uma semente plantada, ainda que o solo fosse tão ruim.
Benditos conselhos de mães tão sábias!  
   



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