sábado, 4 de setembro de 2021

ATOS FALHOS

 

Nunca mais me esqueci de quando eu fazia especialização em Literatura, e a professora de Literatura e Psicanálise estava explicando o que seria ato falho e deu seu exemplo. Ela quando era jovem, em tempos idos, havia sido convidada pela família de seu namorado ou noivo, acho que noivo, para ir à praia com eles. Ela tratou de comprar um maiô bonito e decente e foi que foi. Lá o namorado também estava em traje de banho e se divertiram muito. Quando voltou para casa, a mãe e as irmãs, super curiosas, bombardearam a moça com mil perguntas. E aí perguntaram, maliciosamente, como estava o noivo em seu “calção”, ao que ela respondeu sem titubear: ele é muito pintudo! Na verdade, ela pretendia dizer “pintoso”, adjetivo de antigamente, seria “boa pinta”, mas saiu pintudo, um curioso trocadilho pelo qual teve que aguentar a vida inteira a caçoada da família.

Saiu “pintudo” e não pintoso porque ela, de fato, não tirou os olhos do traje de banho do belo rapaz, para não dizer outra coisa, ou dizendo de outra maneira, o “pintudo” era o que estava em sua mente inconsciente, pois em sã consciência ela jamais diria o termo. Isso foi um ato falho, ou seja, algo que não pode ser dito por determinada razão, acaba sendo dito de outra forma.    

Um exemplo clássico de ato falho é chamar o parceiro pelo nome do ex, coisa embaraçosa,  muito comum, mas que pode acarretar sérias consequências. Muitas vezes, não é nada de sério, não é que você ainda esteja apaixonado pelo ex, não necessariamente, se você conviveu um bom tempo com outra pessoa, é natural que seu inconsciente ainda abrigue e vá abrigar traços e laços afetivos. Certa vez, nos primeiros anos de nosso casamento, meu marido teve um pesadelo e gritou o nome de sua primeira mulher, já falecida. Achei natural, um ato mecânico, afinal ele viveu muito mais anos com ela do que comigo.   

Nossa vida é carregada de atos falhos, às vezes gostaríamos de dizer determinada coisa que não dizemos, e em certo momento, o inconsciente nos trai e acabamos por dizer. Enfim, não sofrer por isso, quem nunca cometeu um ato falho que atire a primeira pedra.

Ato falho pode ser resumido da seguinte maneira: cuidado com aquilo que está na sua cabeça porque a tendência é falar justamente isso. Aqui o inconsciente é que manda, não está no nosso controle. Como o ato falho é um ato involuntário, às vezes conseguimos pisar no freio, às vezes não. Paciência, tomara que nossos foras não sejam graves. Larga mão.   

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