quinta-feira, 23 de setembro de 2021

MÃOS ENTRELAÇADAS

 


Assisti a um seriado que para dizer a verdade, não gostei. Porém, como de qualquer coisa, mesmo até de um mal se pode tirar um bem, teve uma cena que me tocou, que me fez refletir. Foi assim: uma mulher angustiada está na beirinha de um precipício. Ela olha como que atraída pelo vazio do abismo. Uma pessoa responsável pelo grupo vem e toca cuidadosamente a mulher que reage com agressividade.

Aí a pessoa diz assim: não vou tocar você, quero apenas ficar de mãos dadas. E a pessoa entrelaça sua mão na mão da mulher. E continua dizendo: mãos dadas e entrelaçadas é mágico, é cuidado, presença, segurança. Ficar de mãos dadas é um ato poderoso, mais forte do que o ato sexual, envolve um mundo de emoções, uma cumplicidade entre dois seres. A mulher se acalma e sai daquele penhasco perigoso. Para salvar alguém às vezes basta um pequeno gesto, feito de compaixão e cuidado.

Bem, imediatamente eu me transportei para o relato de minha amiga que me contou certa vez de sua tia velhinha que, no entardecer da vida se comportava como uma frágil menina, fato que eu, que a conheci bem, sabia que ela era uma menina desde sempre. Sua acompanhante dormia na cama ao lado e a tia acordou assustada, com muito medo. A acompanhante tentou acalmá-la, mas ela continuava apavorada. E aí ela pediu à acompanhante se podia de ficar de mãos dadas com ela. A moça assentiu, ficaram de mãos dadas até que a senhora adormeceu. Lágrimas inundaram meus olhos. 

Como uma cereja traz outra cereja, lembrei de minha mãe que a vida toda não era mulher de carinho. Só os bebezinhos tinham a honra de ocupar seu colo e serem merecedores de muitos carinhos e das mais variadas gracinhas que só as mães e avós sabem fazer com perfeição, usando aquela linguagem própria: “cadê minininho da vó? Cadê meu tisoio?“Cadê meu colação? Cadê? Cadê? Cadê?”. Então, assim que os bebês completavam mais ou menos três meses de idade, cessavam aquelas explosões de carinho. Penso que quando as criancinhas começavam a mostrar ares de independência e vida própria, minha mãe ficava brava. Por que? Ora porque ela sempre foi aquela que detinha o controle, oh mulher forte! Claro que ela achava graça nas crianças e as amava com loucura, apenas queria uma submissão total dos pequenos.

Enfim, depois que minha mãe ficou demente, eu descobri que ela passou a gostar de ficar de mãos entrelaçadas comigo, e eu ia lá duas vezes por dia para me apossar da minha cota de carinho e ternura, deficiente de longa data, digamos assim. Ah eu me esbaldava com aquele carinho de todo dia. E ela gostava, como uma menina. E eu outra.

Mãos entrelaçadas dizem muito, é afeto genuíno que escorre do coração. Não é à toa que quando vamos sair e meu marido põe a mão em meus ombros, eu digo pra ele: prefiro andar de mãos dadas. 

      

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