quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

JANE EYRE

 

 

Estava vendo ultimamente na Netflix a propaganda do filme “Jane Eyre”, famoso clássico inglês. Já li na juventude, mas ficou arquivado em minha memória tão descuidadamente que nem mesmo me lembrava do enredo. O que quero dizer é que não ficou gravado em meu coração. Meus anseios na época eram outros, era jovem, sentia ser eterna e tinha esperança de ser feliz um dia, quem sabe. Como agora, nesses tempos caóticos, lamentavelmente tristes, cruéis e sombrios, preciso cada vez mais de coisas sensíveis e bonitas, decidi assistir. Sábia decisão, fui saciada de muita ternura e curada um pouco das dores que têm me feito sofrer tanto. Como escrevo, vou sempre atrás das palavras, do jogo maravilhoso das palavras, meu faro persegue a beleza, a sensibilidade, a fineza de espírito, e assim vou gravando e me apropriando das pérolas que recolho e tomo por minhas, armas de que me valho para resistir às investidas do mal do aqui e agora.

Vou compartilhar com vocês algumas passagens que me encantaram, evidentemente com o devido cuidado para não desfazer a surpresa de quem ainda não assistiu ao filme. No início da história, quando Jane ainda era uma menina interna em uma escola, sua amiga Helen, tão sofrida quanto ela lhe conta que seu pai a havia ensinado a deixar passar a hostilidade porque a vida é muito curta para sermos hostis. Eu não precisava assistir a este filme para aprender esta lição, claro que não, claro que todos sabemos que a hostilidade é horrível para quem a recebe e igualmente para quem é hostil. Foi simplesmente bonito o modo como isso foi mostrado numa conversa compartilhada entre duas meninas solitárias, desprezadas e sofridas. Foi o momento captado, os semblantes tristes e cheios de pureza infantil. Foi a beleza da cena de duas crianças solidárias compartilhando suas dores.

Também gravei algo lindo que Edward, já vivamente impressionado com a personalidade da agora jovem Jane, lhe confidencia: ele diz que ela é uma pessoa diferente, uma prisioneira vivaz e inquieta que se fosse livre, voaria alto, que seu olhar é de um tipo curioso de pássaro aprisionado que olha o mundo através das grades de sua gaiola sonhando com as alturas. Essa comparação foi pra mim a coroação da beleza suprema que essas falas me trouxeram.

Durante minha vida, aos poucos, depois que fiquei mais velha eu percebi que o amor é algo que não se limita apenas a companheirismo, simpatia e atração física, mas algo bem maior do que isso, um encontro de almas. Quando eu era jovem eu não tinha essa visão, evidente que não. Eu só queria um príncipe maravilhoso numa carruagem igualmente maravilhosa. A sabedoria ou um pouco dela vem mais tarde mesmo, com os anos vividos. Costumamos brincar dizendo: eu queria ser jovem, porém com a sabedoria que tenho hoje!  

Aprendi que o amor realmente não pode ser apenas suficiente, não, tem que ultrapassar a suficiência, tem que ser elevado até alcançar este encontro de almas. Dizem que não existem almas gêmeas, que as pessoas são diferentes. É verdade, ninguém é igual a ninguém, tampouco as almas. Todavia, acredito sinceramente que este encontro de almas pode ser construído como tudo na vida pode e deve ser construído. Isso é o Amor.

São essas minhas reflexões sobre o filme. Muita coisa fica por conta do meu exacerbado sentir. Certamente outra pessoa sentirá de maneira diferente, enxergará de outra forma. Um lindo filme de amor e o livro, muito mais lindo, com toda a certeza. 

 

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