Estava
vendo ultimamente na Netflix a propaganda do filme “Jane Eyre”, famoso clássico
inglês. Já li na juventude, mas ficou arquivado em minha memória tão
descuidadamente que nem mesmo me lembrava do enredo. O que quero dizer é que
não ficou gravado em meu coração. Meus anseios na época eram outros, era jovem,
sentia ser eterna e tinha esperança de ser feliz um dia, quem sabe. Como agora,
nesses tempos caóticos, lamentavelmente tristes, cruéis e sombrios, preciso
cada vez mais de coisas sensíveis e bonitas, decidi assistir. Sábia decisão, fui
saciada de muita ternura e curada um pouco das dores que têm me feito sofrer
tanto. Como escrevo, vou sempre atrás das palavras, do jogo maravilhoso das
palavras, meu faro persegue a beleza, a sensibilidade, a fineza de espírito, e
assim vou gravando e me apropriando das pérolas que recolho e tomo por minhas,
armas de que me valho para resistir às investidas do mal do aqui e agora.
Vou
compartilhar com vocês algumas passagens que me encantaram, evidentemente com o
devido cuidado para não desfazer a surpresa de quem ainda não assistiu ao
filme. No início da história, quando Jane ainda era uma menina interna em uma
escola, sua amiga Helen, tão sofrida quanto ela lhe conta que seu pai a havia ensinado
a deixar passar a hostilidade porque a vida é muito curta para sermos hostis. Eu
não precisava assistir a este filme para aprender esta lição, claro que não,
claro que todos sabemos que a hostilidade é horrível para quem a recebe e
igualmente para quem é hostil. Foi simplesmente bonito o modo como isso foi
mostrado numa conversa compartilhada entre duas meninas solitárias, desprezadas
e sofridas. Foi o momento captado, os semblantes tristes e cheios de pureza
infantil. Foi a beleza da cena de duas crianças solidárias compartilhando suas
dores.
Também
gravei algo lindo que Edward, já vivamente impressionado com a personalidade da
agora jovem Jane, lhe confidencia: ele diz que ela é uma pessoa diferente, uma
prisioneira vivaz e inquieta que se fosse livre, voaria alto, que seu olhar é
de um tipo curioso de pássaro aprisionado que olha o mundo através das grades de
sua gaiola sonhando com as alturas. Essa comparação foi pra mim a coroação da
beleza suprema que essas falas me trouxeram.
Durante
minha vida, aos poucos, depois que fiquei mais velha eu percebi que o amor é
algo que não se limita apenas a companheirismo, simpatia e atração física, mas
algo bem maior do que isso, um encontro de almas. Quando eu era jovem eu não
tinha essa visão, evidente que não. Eu só queria um príncipe maravilhoso numa
carruagem igualmente maravilhosa. A sabedoria ou um pouco dela vem mais tarde
mesmo, com os anos vividos. Costumamos brincar dizendo: eu queria ser jovem,
porém com a sabedoria que tenho hoje!
Aprendi
que o amor realmente não pode ser apenas suficiente, não, tem que ultrapassar a
suficiência, tem que ser elevado até alcançar este encontro de almas. Dizem que
não existem almas gêmeas, que as pessoas são diferentes. É verdade, ninguém é
igual a ninguém, tampouco as almas. Todavia, acredito sinceramente que este
encontro de almas pode ser construído como tudo na vida pode e deve ser
construído. Isso é o Amor.
São
essas minhas reflexões sobre o filme. Muita coisa fica por conta do meu
exacerbado sentir. Certamente outra pessoa sentirá de maneira diferente,
enxergará de outra forma. Um lindo filme de amor e o livro, muito mais lindo,
com toda a certeza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário