Não
posso deixar de esboçar um sorriso quando leio este adorável poema da Cecília
Meireles. A vida da gente é uma eterna escolha. Percebo que ao longo do dia
fico em dúvida se faço isso ou aquilo, por exemplo, se faço empadão de frango
ou de palmito, ou se não faço empadão, se compro mortadela e como com pão, ou
ainda se não faço nada e deixo que o marido faça. Fico em dúvida se saio hoje
ou deixo para amanhã. Se saio hoje, amanhã descanso, se descanso hoje, saio
amanhã. Diz Cecília: “Ou guardo o dinheiro e não compro o doce, ou compro o
doce e não guardo o dinheiro”. Vivo sempre nessa eterna incerteza, abro a
carteira, fecho a carteira, compro ou não compro. Aí me lembro do ditado: Mais
vale um doce do que um tostão no bolso. Compro. E lá se vai o dinheiro.
Diz
Cecília: “Ou se tem chuva e não se tem sol, ou se tem sol e não se tem chuva”.
Às vezes tem sol com chuva, casamento de viúva, e as cores do arco íris se
pintam no céu. Um arco íris é um presente, mais uma linda ideia de Deus! Que
bom se pudéssemos estar em dois lugares, como diz a grande poeta, a chuva e o
sol comprovam a beleza que explode ao acontecerem juntos.
Às
vezes temos que escolher sem saber. Há uma cena de um filme de muitos mil anos
passados que jamais me lembrarei qual é, nem título, nem enredo, mas uma cena
específica ficou indelevelmente gravada em minha mente, pois é algo
significativo: uma linda jovem da Birmânia fugia de sua terra ou talvez de alguém.
Estava acompanhada de outra pessoa e fugiam atropeladamente até que deram numa
bifurcação. Não sabiam qual caminho escolher. Titubearam. Se fossem para um
lado ou para o outro, tudo poderia dar certo ou errado. Importava fugir, e
assim, mesmo angustiados, escolheram um dos caminhos sem olhar para trás. Como
diz o gato de Alice no País das Maravilhas: “para quem não sabe para onde vai,
qualquer caminho serve.” Quando tenho que fazer este tipo de escolha, respiro
aliviada por não ter que pensar e errar.
Mas o
poema da Cecília é divertido, infantil, habilmente composto para fazer as
crianças exercitarem sua sensibilidade, não tem importância se escolhemos mal
ou não. São como aquelas escolhas de crianças em que os adultos escolhiam por
nós nos induzindo a pensar que as escolhas eram nossas. Faz-me lembrar de
quando meninas, viemos de Pedralva para Itajubá, trazidas pela vovó Verônica
para passar uns dias com ela. Longe do rigor da mãe e sob o olhar amoroso da
avó, já nos dávamos todas ao belo passeio de ônibus ainda em estrada de terra.
Quando chegamos aqui em Itajubá, a vovó perguntou:
- E aí
meninas, querem ir de taxi para casa ou de charrete?
Nós,
ávidas por “passear” de carro, respondemos prontamente:
- De
carro
Ao que
ela redarguiu:
- Mas
de charrete o passeio demora mais.
Não me
lembro se titubeamos ou não para responder, mas respondemos:
-
Charrete
Certamente
de carro a vovó gastaria mais do seu pouco dinheiro. Penso que se tivéssemos insistido
no carro ela cederia, como toda avó teria procurado fazer para agradar as
netas. Contudo, a ida de charrete para sua casa deve ter sido maravilhosa,
semelhante às de carruagens levando princesas para o castelo. Pois era assim
que nos sentíamos e sua casa simples para nós era um rico palácio. Bendita
infância. Doces escolhas.
E
Cecília encerra o poema de maneira magistral: “Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.” Nem eu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário