quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

"OU ISTO OU AQUILO"

 

 

Não posso deixar de esboçar um sorriso quando leio este adorável poema da Cecília Meireles. A vida da gente é uma eterna escolha. Percebo que ao longo do dia fico em dúvida se faço isso ou aquilo, por exemplo, se faço empadão de frango ou de palmito, ou se não faço empadão, se compro mortadela e como com pão, ou ainda se não faço nada e deixo que o marido faça. Fico em dúvida se saio hoje ou deixo para amanhã. Se saio hoje, amanhã descanso, se descanso hoje, saio amanhã. Diz Cecília: “Ou guardo o dinheiro e não compro o doce, ou compro o doce e não guardo o dinheiro”. Vivo sempre nessa eterna incerteza, abro a carteira, fecho a carteira, compro ou não compro. Aí me lembro do ditado: Mais vale um doce do que um tostão no bolso. Compro. E lá se vai o dinheiro.

Diz Cecília: “Ou se tem chuva e não se tem sol, ou se tem sol e não se tem chuva”. Às vezes tem sol com chuva, casamento de viúva, e as cores do arco íris se pintam no céu. Um arco íris é um presente, mais uma linda ideia de Deus! Que bom se pudéssemos estar em dois lugares, como diz a grande poeta, a chuva e o sol comprovam a beleza que explode ao acontecerem juntos.

Às vezes temos que escolher sem saber. Há uma cena de um filme de muitos mil anos passados que jamais me lembrarei qual é, nem título, nem enredo, mas uma cena específica ficou indelevelmente gravada em minha mente, pois é algo significativo: uma linda jovem da Birmânia fugia de sua terra ou talvez de alguém. Estava acompanhada de outra pessoa e fugiam atropeladamente até que deram numa bifurcação. Não sabiam qual caminho escolher. Titubearam. Se fossem para um lado ou para o outro, tudo poderia dar certo ou errado. Importava fugir, e assim, mesmo angustiados, escolheram um dos caminhos sem olhar para trás. Como diz o gato de Alice no País das Maravilhas: “para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve.” Quando tenho que fazer este tipo de escolha, respiro aliviada por não ter que pensar e errar.  

Mas o poema da Cecília é divertido, infantil, habilmente composto para fazer as crianças exercitarem sua sensibilidade, não tem importância se escolhemos mal ou não. São como aquelas escolhas de crianças em que os adultos escolhiam por nós nos induzindo a pensar que as escolhas eram nossas. Faz-me lembrar de quando meninas, viemos de Pedralva para Itajubá, trazidas pela vovó Verônica para passar uns dias com ela. Longe do rigor da mãe e sob o olhar amoroso da avó, já nos dávamos todas ao belo passeio de ônibus ainda em estrada de terra. Quando chegamos aqui em Itajubá, a vovó perguntou:

- E aí meninas, querem ir de taxi para casa ou de charrete?

Nós, ávidas por “passear” de carro, respondemos prontamente:

- De carro

Ao que ela redarguiu:

- Mas de charrete o passeio demora mais.

Não me lembro se titubeamos ou não para responder, mas respondemos:

- Charrete

Certamente de carro a vovó gastaria mais do seu pouco dinheiro. Penso que se tivéssemos insistido no carro ela cederia, como toda avó teria procurado fazer para agradar as netas. Contudo, a ida de charrete para sua casa deve ter sido maravilhosa, semelhante às de carruagens levando princesas para o castelo. Pois era assim que nos sentíamos e sua casa simples para nós era um rico palácio. Bendita infância. Doces escolhas.

E Cecília encerra o poema de maneira magistral: “Mas não consegui entender ainda qual é melhor: se é isto ou aquilo.” Nem eu.      

    

Nenhum comentário:

Postar um comentário