domingo, 21 de agosto de 2016

LÁGRIMAS OLÍMPICAS, LÁGRIMAS DE TODOS NÓS




            Eu estava assistindo à entrevista com as jogadoras de vôlei Ágatha e Bárbara logo após terem perdido para as alemãs. Ao falar com o repórter, Bárbara de repente parou alguns instantes com a voz embargada porque sobreveio um choro emocionado. Lágrimas saíram profusas e em seguida ela concluiu com palavras de agradecimento à toda a equipe e à torcida maravilhosa. Eu também fiquei emocionada ao assistir à fala de Bárbara e de Ágatha, ambas ainda suadas e cansadas pela luta ferrenha que haviam travado no jogo de vôlei de praia. E me peguei pensando no mistério das lágrimas que sempre comparecem para lavar nossa alma. Aliás, a função das lágrimas, além daquela fisiológica de lubrificar os olhos, é de nos a ajudar a liberar as emoções conturbadas, sejam de tristeza ou de alegria.
            Para mim, as lágrimas sempre pareceram morar mais na alma do que numa mera bolsinha física perto dos olhos. É no fundo da alma que ficam adormecidas até que nossas emoções sejam abaladas, aí se aprontam e vêm calorosas. Nunca vou me esquecer das copiosas lágrimas que derramei quando nos mudamos de Pedralva. Na época isto representou para mim uma perda inigualável. Naquela delicada travessia de minha infância para a adolescência, lembro-me de ter me espantado com a quantidade de lágrimas que cabiam dentro de mim. Na verdade, eu pensava que um dique havia se rompido em minhas entranhas formando um rio caudaloso de lágrimas e que em breve eu morreria afogada em minhas amargas lágrimas. Infelizmente naquela época não se usava este cuidado que hoje se tem com crianças e adolescentes e esta foi uma luta só minha, que eu venci aos trancos e barrancos. Não guardo mais nenhuma mágoa de ter sido ignorada em minha dor, pelo contrário, a maturidade me fez enxergar os sentimentos de tristeza de meus pais, tão solitários quanto eu. Mas isso é outra história.    
            E há as lágrimas de alegria, de euforia, como as de Rafaela Silva, as de Poliana Okimoto, que conseguia falar e chorar ao mesmo tempo, pura emoção! Nunca vi nada mais bonito do que lágrimas e sorrisos ao mesmo tempo! E que melhor lugar para encontrar pessoas derramando lágrimas do que no palco de uma Olimpíada? Todos com nervos à flor da pele! Imaginem só: se quando cantamos o Hino Nacional nosso coração bate mais forte, imagine um atleta com a medalha pendurada no peito olhando emocionado para a bandeira que tremula ao vento? Fala a verdade! Realmente, haja coração!     
            Há momentos em que estamos no limite da emoção, sabemos que as lágrimas  não vão tardar, mas não queremos chorar, ou talvez mais provável que não queiramos que nos vejam chorando, então tratamos de trancar os dentes e fechar os lábios. Nenhuma palavra deve ser proferida porque se tentarmos falar, seremos traídos pelas lágrimas que assomam incontidas, e aí ou falamos ou choramos porque parece impossível lidar com as duas coisas ao mesmo tempo.
 Minha mãe era dura, não chorava quase nunca, pelo menos nos momentos mais frágeis de sua vida ela ficou firme. Mas bastava um filme qualquer da sessão da tarde com uma cena triste para ela engolir em seco e fungar, tentando disfarçar com a mão no rosto. Somos humanos. Afinal, já dizia Shakespeare: “Quem tem lágrimas, prepare-se para derramá-las.” Ou seja, quem está vivo, quem é humano, quem tem sentimentos já nasce com seu arsenal infindável de lágrimas, e certamente vai precisar muito derramá-las durante sua vida. A vida não é, pois, um vale de lágrimas?Então, que venham e nos lavem a alma!



               

Nenhum comentário:

Postar um comentário