Pois
é gente, chegou a nova temporada da série Baratas, sempre Baratas! E eu já mergulhei
de cabeça nela. Com o calor que foi surgindo tímido e chegou a níveis
insuportáveis, as baratas apareceram me deixando com os nervos em frangalhos.
Não há como superar este problema. Ouvi dizer que tem um psicólogo em Poços de
Caldas que faz um trabalho tipo hipnose para programar a mente. Estou
seriamente pensando em fazer uma consulta, quem sabe resolvo este problema de
pânico com relação às baratas. Tudo de novo. Mesmo filme.
Vamos
lá, subo toda tranquila para desligar a internet, acendo a luz e tchan tchan
tchan tchan, vejo uma barata avantajada vindo para dentro da salinha. Meu
coração dispara, por alguns momentos entro em choque, tipo paralisada. Mas meu
instinto de sobrevivência é forte, logo acordo deste pesadelo e digo: é
verdade? Aquilo era uma barata? Ah meu Deus, desço correndo, fé em Deus e pé na
tábua, deixo as luzes acesas, internet ligada, quem sem importa diante da
constatação do terror? Desço às carreiras, não vou acordar o Motta, não, hoje
não, coitado, deixa ele dormir. Amanhã a gente começa a colocar SBP em todos os
cantinhos. Não acredito que vou passar por isso de novo.
No
dia seguinte relato para meu marido todos os detalhes sórdidos da noite
anterior. Ele balança a cabeça, desanimado com este meu terror de baratas. Já
nem vem mais com aquele papo: olha seu tamanho e o tamanho da barata! Já
desistiu. Pela tardinha coloco o veneno em todos os lugares. Tudo me assombra,
um barulhinho de nada, uma sombra de qualquer coisa que se transforma numa
barata horrenda. Bato a mão nos cabelos e grito. Estou louca, histérica total.
Acreditem ou não, sonhei com a barata, aquela marrom escura horrorosa andando,
onde? Acordo. Percebo que ainda não amanheceu, é tão cedo! Será que foi sonho
ou ela andava pelo quarto? Quem neste mundo de Deus sonha com baratas? Só eu.
Ao
contar para minha irmã, ela se lembra de um fato de nossa infância ainda em
Pedralva. Era tempo antigo, as baratas reinavam a bel prazer por todos os
cantos. Para matá-las era uma verdadeira luta corpo a corpo. Dormíamos com a
cabeça coberta pelo lençol ouvindo o farfalhar de asas das folgadas. Minha mãe
comprou, ganhou, sei lá, um antigo matador de baratas, um SBP versão década de
60 e foi fazer o teste. Jogou embaixo da escada de madeira que conduzia ao andar
superior. Nem bem espirrou, acabou o veneno. Desapontada, deixou pra lá. No dia
seguinte, ao varrer a sala, eis que encontra dezenas de baratas mortas debaixo
da escada. Encantada, ela diz: o futuro chegou! Embora não tivesse medo das
baratas, era maravilhoso saber que com um borrifar daquele estranho e
maravilhoso fluido, as baratas eram dizimadas!
Bem,
voltando ao presente. Nosso SBP também funcionou, tem funcionado para a
cobertura. Diariamente, encontramos baratas mortas e outras já a morrer. Eu não
cuido deste assunto. Nem varrer consigo, nem jogar no lixo. Nada. Não suporto,
simplesmente. Ontem à noite, quando já me preparava para dormir, ao entrar na
sala, deparo-me com uma horrorosa de uma barata caminhando cambaleante, com
sinais de envenenamento, mas mesmo assim sou invadida pelo pânico, vem o
choque, fico paralisada. Acordo. E trato de ir acordar meu marido. Como foi bom
ter casado! Ele se levanta com cara de quem não sabe onde está, já estou com
seu chinelo na mão para ele ir matar a barata. Ele ainda não se localizou, quer
calçar o outro pé do chinelo, e eu digo: não, vai lá logo, meu filho, ela vai
sumir e eu não durmo enquanto não estiver morta.
A
barata sumiu. Fico arrasada. Dou a volta pela sala, com muito cuidado. Num
acesso de coragem inusitada, acendo a luz e a vejo. Ela, totalmente paralisada
de frente para a quina da parede. Grito: Mottaaaa, aqui! Ele mata, joga no lixo,
vai lavar as mãos, e eu agradeço e digo: você viu? Ela estava meio abobada! Ao que
ele me diz: abobado estou eu. E volta para a cama. Tudo de novo. Quem não tem
medo de baratas?
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