POEMA
DIFÍCIL
Misa
Ferreira
Eu queria
um belo poema escrever
Uma
simples e triste elegia ou uma ode de ser ou não
ser.
Por
que é que o poeta na ânsia de poetar
Arranca
da alma dileta seu mais profundo pesar?
Meu
poema será outro. Decidido.
Não
quero uma triste elegia nem ode em tom deprimido.
Preparo
meu poema com o lápis imóvel na mão.
Espero
pelo difícil tema. Inútil. Não tenho inspiração.
Abro
livros, procuro – Drummond, Bandeira – Que canseira!
Baudelaire,
Mallarmé, João Cabral – branco geral!
Leio
“O Corvo” – será Poe? Não, não quero falar de dor!
Mas
é lindo! Supremo! Um primor! E ainda fala de amor!
Eureca!
Achei a saída! Poetar é dura lida,
Carece
chamar os poéticos a trabalhar.
Vogais
espertas despertam
Consoantes
preguiçosas espreguiçam
Metros
cambaleantes tropeçam
Ritmos
bêbados soluçam
Pés
perdidos se acham
Filas
de ictos flácidos se esforçam
Cesuras
se assentam
Palavras
prontas se apresentam
Sentidos
e emoções suspiram
E
versos livres se formam.
Todos
a postos dispostos estão.
No
entanto, reluto, reflito, relaxo –
Meu
poema tem que ser do coração.
Vou
compor uma elegia ou uma ode de alegria ou de dor
Mas
tem que ter ironia, amor e
Muito,
muito senso de humor!
Nenhum comentário:
Postar um comentário