sábado, 14 de outubro de 2017

POEMA DIFÍCIL



POEMA DIFÍCIL
Misa Ferreira

Eu queria um belo poema escrever
Uma simples e triste elegia ou uma ode de ser ou não ser.                                              

Por que é que o poeta na ânsia de poetar
Arranca da alma dileta seu mais profundo pesar?

Meu poema será outro. Decidido.
Não quero uma triste elegia nem ode em tom deprimido.

Preparo meu poema com o lápis imóvel na mão.
Espero pelo difícil tema. Inútil. Não tenho inspiração.

Abro livros, procuro – Drummond, Bandeira – Que canseira!
Baudelaire, Mallarmé, João Cabral – branco geral!

Leio “O Corvo” – será Poe? Não, não quero falar de dor!
Mas é lindo! Supremo! Um primor! E ainda fala de amor!

Eureca! Achei a saída! Poetar é dura lida,
Carece chamar os poéticos a trabalhar.

Vogais espertas despertam
Consoantes preguiçosas espreguiçam
Metros cambaleantes tropeçam
Ritmos bêbados soluçam
Pés perdidos se acham
Filas de ictos flácidos se esforçam
Cesuras se assentam
Palavras prontas se apresentam
Sentidos e emoções suspiram
E versos livres se formam.

Todos a postos dispostos estão.
No entanto, reluto, reflito, relaxo –
Meu poema tem que ser do coração.
Vou compor uma elegia ou uma ode de alegria ou de dor
Mas tem que ter ironia, amor e
Muito, muito senso de humor!                                                                    

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