sexta-feira, 13 de julho de 2018

OS MENINOS DA CAVERNA


            Assim como todo o mundo eu me emocionei muito com o salvamento dos meninos da Tailândia. Da mesma forma me emocionei com a tenacidade dos sobreviventes dos Andes e dos mineiros do Chile. Para sempre vou guardar na memória a imagem da pequena cápsula que transportou os mineiros chilenos da caverna para o mundo. Recebeu o nome de Fênix, aludindo à lendária ave que ao atear-se fogo para renascer das cinzas, preserva a esperança no mundo, esperança que nunca deverá morrer.
            Infelizmente, nem sempre tudo acaba bem. Muitos mineiros chineses já morreram soterrados e refugiados morrem afogados tentando escapar da violência ou morrem à míngua, excluídos pelos ditos civilizados. Mas não é por isso que não vamos nos alegrar com o incrível salvamento dos garotos e do técnico do já famoso time “Javalis selvagens”.  Vamos nos exultar! Quando assisti à fragilidade dos meninos tailandeses e do esforço universal para salvá-los, lágrimas me vieram aos olhos. Minha esperança na humanidade esteve em alta.
            Este salvamento só foi possível pela solidariedade, uma união de esforços de todas as pessoas, desde tailandeses até uma infinidade de estrangeiros que se dispuseram a ajudar para que os meninos fossem salvos. Os mergulhadores foram os grandes heróis que emocionaram o mundo, a começar pelo mergulhador tailandês que perdeu sua vida pelos outros. O médico australiano Richard Harris foi o último membro da equipe de resgate a deixar a caverna. Além de médico e mergulhador, é fotógrafo subaquático, tendo já participado de inúmeros resgates. Ao tempo em que deixava a caverna, já com todos os meninos salvos, ele recebia a notícia da morte de seu pai. Urgia salvar os garotos, e Harris não hesitou. Assim também cada um dos mergulhadores, dos médicos, dos habitantes locais, cada um deles tem uma história para contar.
            Tudo foi difícil, arriscado, tudo parecia impossível, até que fosse feito, como dizia Nelson Mandela. Esta união de mergulhadores estrangeiros com o objetivo único de salvar pessoas ultrapassou as barreiras dos países, mostrando que a Terra é a pátria de todos nós, nosso único lar, que todos estamos no mesmo barco. Como seria louvável se todas as crianças, se toda a gente necessitada de libertação fosse salva das cavernas do preconceito, da exclusão, da fome, da indiferença. Aqui nós só ficamos na oração, na torcida, no pensamento positivo para que tudo desse certo. Mas aqui mesmo, onde quer que estejamos há crianças precisando ser libertadas. Cada pessoa sempre pode fazer alguma coisa para salvar alguém.
            A solidariedade é a única saída para a indiferença. Que todos possamos deixar a Caverna para percebermos que o mundo fervilha aqui fora à nossa volta. Só assim poderemos nos reformular     e resgatar nossos valores e recuperar nossos sentidos. Nossa identidade já formada será nossa de fato ou de outros que nos legaram? Sair da Caverna implica uma profunda reflexão, um despojamento total, um novo olhar bem diferente daquele que nos aprisionava ao que é apenas aparente, às sombras. Sair da Caverna da escuridão implica aprender a ver mais, a perceber mais o outro. Implica acolher uma bondade universal, ainda que extremamente dolorosa. Só assim aprenderemos a existir autenticamente neste mundo caótico e belo que nos rodeia e no qual estamos irremediavelmente ou felizmente inseridos.  
                       


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