Assim como todo o mundo eu me
emocionei muito com o salvamento dos meninos da Tailândia. Da mesma forma me
emocionei com a tenacidade dos sobreviventes dos Andes e dos mineiros do Chile.
Para sempre vou guardar na memória a imagem da pequena cápsula que transportou
os mineiros chilenos da caverna para o mundo. Recebeu o nome de Fênix, aludindo
à lendária ave que ao atear-se fogo para renascer das cinzas, preserva a
esperança no mundo, esperança que nunca deverá morrer.
Infelizmente, nem sempre tudo acaba
bem. Muitos mineiros chineses já morreram soterrados e refugiados morrem
afogados tentando escapar da violência ou morrem à míngua, excluídos pelos
ditos civilizados. Mas não é por isso que não vamos nos alegrar com o incrível
salvamento dos garotos e do técnico do já famoso time “Javalis selvagens”. Vamos nos exultar! Quando assisti à
fragilidade dos meninos tailandeses e do esforço universal para salvá-los,
lágrimas me vieram aos olhos. Minha esperança na humanidade esteve em alta.
Este salvamento só foi possível pela
solidariedade, uma união de esforços de todas as pessoas, desde tailandeses até
uma infinidade de estrangeiros que se dispuseram a ajudar para que os meninos
fossem salvos. Os mergulhadores foram os grandes heróis que emocionaram o mundo,
a começar pelo mergulhador tailandês que perdeu sua vida pelos outros. O médico
australiano Richard Harris foi o último membro da equipe de resgate a deixar a
caverna. Além de médico e mergulhador, é fotógrafo subaquático, tendo já
participado de inúmeros resgates. Ao tempo em que deixava a caverna, já com
todos os meninos salvos, ele recebia a notícia da morte de seu pai. Urgia
salvar os garotos, e Harris não hesitou. Assim também cada um dos mergulhadores,
dos médicos, dos habitantes locais, cada um deles tem uma história para contar.
Tudo foi difícil, arriscado, tudo
parecia impossível, até que fosse feito, como dizia Nelson Mandela. Esta união
de mergulhadores estrangeiros com o objetivo único de salvar pessoas
ultrapassou as barreiras dos países, mostrando que a Terra é a pátria de todos
nós, nosso único lar, que todos estamos no mesmo barco. Como seria louvável se
todas as crianças, se toda a gente necessitada de libertação fosse salva das
cavernas do preconceito, da exclusão, da fome, da indiferença. Aqui nós só
ficamos na oração, na torcida, no pensamento positivo para que tudo desse
certo. Mas aqui mesmo, onde quer que estejamos há crianças precisando ser
libertadas. Cada pessoa sempre pode fazer alguma coisa para salvar alguém.
A solidariedade é a única saída para
a indiferença. Que todos possamos deixar a Caverna para percebermos que o mundo
fervilha aqui fora à nossa volta. Só assim poderemos nos reformular e resgatar nossos valores e recuperar
nossos sentidos. Nossa identidade já formada será nossa de fato ou de outros
que nos legaram? Sair da Caverna implica uma profunda reflexão, um despojamento
total, um novo olhar bem diferente daquele que nos aprisionava ao que é apenas
aparente, às sombras. Sair da Caverna da escuridão implica aprender a ver mais,
a perceber mais o outro. Implica acolher uma bondade universal, ainda que
extremamente dolorosa. Só assim aprenderemos a existir autenticamente neste
mundo caótico e belo que nos rodeia e no qual estamos irremediavelmente ou
felizmente inseridos.
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