Nunca
fui do lar. Explico. Nunca fui prendada, de saber fazer isso ou aquilo, de
saber costurar, bordar, bem, bordar já é demais, é coisa do passado, quando
nossas mães nos mandavam aprender bordado com Dona Lalá ou Lili porque moça que
não soubesse bordar não estava pronta pra casar. Minha mãe nunca nos mandou pra
Dona Lalá ou Lili, mas minha tia mandava suas filhas e elas sempre foram donas
de casa maravilhosas, excetuando a última, minha prima maluca que nem sabe
cozinhar quanto mais bordar, conseguiu ser pior do que eu. Mas como diziam os
antigos, ela pinta e borda.
Quando
meu marido me conheceu já sacou direto que eu era nula nessas questões. E anos
mais tarde quando eu o questionei, passou-se assim nosso diálogo: mas antes, fazendo
um parênteses, deixando claro que eu sempre fiquei constrangida em registrar
isso numa crônica. Adiei, adiei, mas finalmente registro, vamos lá, foi assim:
- Beeem,
você nunca ligou que eu não soubesse cozinhar, né?
E
ele:
-
Não, cozinhar eu dou conta, gosto muito, mas o que faço questão é de comer.
Pronto,
falei.
Não que eu não participe da cozinha.
Participo sim. Dou palpite, põe isso, põe aquilo, abrimos vinho sempre, nos
esbarramos como dizia Adelia Prado: “É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram”. Às vezes saio correndo para anotar
alguma coisa que ele falou, meu marido é uma fonte pura de crônicas. De novo,
como dizia Adelia Prado: “somos noivo e noiva.”
Então, ele sempre foi ótimo, e tudo
ou o pouco que sei, aprendi com ele. Minha mãe queixava-se de mim, dizia assim:
ah Maria Luiza, ah Maria Luiza, a Agueda e a Raquel sempre quiseram aprender a
costurar na máquina, mas você, você sempre passou direto, nem um pingo de
curiosidade. É verdade. Costurar, então? Fala a verdade, nerusca de
pitibiribas. As primas são verdadeiras artistas em tudo. Minha enteada também.
Boa em qualquer coisa. Quer uma mesa enfeitada de Natal, em dois tempos estava
tudo lá, maravilhoso! E depois lá vinha uma taboa com damascos e nozes jogadas
displicentemente ao lado de um Camembert! Parecia uma pintura! Coisa de louco!
E quando costurou um vestido que me deu de aniversário: um mimo de um tubinho
azul- marinho que amo!
E a ideia de escrever hoje sobre
cozinha e prazer foi porque almoçamos omelete e macarronada simples assim com
vinho branco em plena quinta. Lembramos de quando nos conhecemos e do meu medo
de que ele não gostasse de mim por eu não saber cozinhar, pois até já ouvi que
há homens que se casam porque a mulher é uma boa cozinheira. Não, meu marido
não é assim. Um amor é mesmo feito de pequenas grandes coisas, do dia a dia
simples e significativamente grandioso. E durante o almoço ele aproveitou para
me avisar: antes que você me chame:
- Mooottaaaa,
que que isso aqui na geladeira? Pode jogar fora?
- É
pé de porco e costelinha com uma salmorazinha que fiz. Não mexe não!
Bem, repito aqui algo que já disse
em outras crônicas: faço sofrivelmente um arroz com feijão e ovo, mas bordo delicadamente
com as palavras o que nunca consegui com as rendas e linhas, afinal com alguma
coisa eu tinha que lidar. Bancária medíocre que fui, tive o prazer de ouvir de
meu sobrinho que me conhece tão bem: tia Misa, você tem alma de artista! Valeu
pela vida toda! Às vezes acho que tenho sim. Palavra de honra, como dizia a
mamãe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário