Nasci
uma ovelhinha muito especial. Todas as ovelhas são especiais para o Bom Pastor.
É que esta é a minha história. Então, muito espertinha, logo que finquei os pés
no chão, admirei os verdes pastos e pensei: que mundo mais lindo! É meu. E era
mesmo, Deus nos deu infinitas graças e belezas neste mundo: a terra para morar,
a lua para admirar, as flores para nos alegrar, a água para regar, os frutos da
terra para nos alimentar. Mas não nos deu este mundo para sermos seduzidos e
consumidos por ele.
Logo
descobri ovelhas que pastavam do outro lado da cerca. Gente, a grama parecia
muito mais verde do que a nossa. Sei que nosso Pastor era bom e nossos prados eram
verdejantes, porém não posso precisar se era o brilho daquela grama vizinha que
a fazia tão atraente e convidativa. Não pensei duas vezes, forcei a cerca até
que me vi do outro lado. Foi quando o Bom Pastor me puxou, me aplicou uns
corretivos com seu cajado. Doeu. Eu não desisti, tornei a passar para o outro
lado. Outra vez apanhei. Finalmente aprendi que a grama do vizinho só parece
mais verde. Não é. E comi tantas ervas daninhas, algumas até venenosas. Poderia
ter morrido. O Bom Pastor me salvou, me curou e me bateu com seu cajado.
Bendito seja para sempre seu cajado!
E eu
era tão travessa, tão forte e ao mesmo tempo tão frágil que acontecia de ficar
virada com minhas pernas pro ar sem conseguir me por de pé. A respiração ficava
difícil, quase morria sem ar. Ele contava as ovelhas, via que faltava uma,
advinha quem? E vinha, me desvirava e o ar chegava límpido em meus pulmões.
Perdi a conta de quantas vezes fiquei virada e o Bom Pastor voltava até me
encontrar e me desvirar.
E
quando eu fiquei infestada de enxames de insetos, de moscas varejeiras,
moscas-do- berne? Que tortura! Cheguei a ver outras ovelhas desesperadas
baterem as cabeças contra as árvores para se libertarem do ataque! Por milagre,
sempre fomos salvas pelo Bom Pastor que nos banhava em óleo de linhaça, sulfa e
alcatrão, aplicando de forma suave o tal preparado principalmente em nossos
focinhos, nos inundando de alívio. Como nós, ovelhas, somos indefesas e felizes
de nós que nos deixamos conduzir pelo Bom Pastor. As ovelhas do aprisco vizinho
foram quase todas dizimadas porque seu pastor era indolente e não cuidava de suas
ovelhas.
De
outra vez, em minhas andanças pelas colinas deste mundo, caí de boa altura e
fiquei presa num pedacinho de rocha num desfiladeiro sem fim. Simplesmente eu não
podia dar um passo que cairia num vale tenebroso. Seria o fim. Senti medo.
Intimamente chamei pelo Bom Pastor. Demorou um pouco, tive que sofrer suas
demoras, e até que enfim Ele veio. Desceu seu cajado e encaixou direitinho
minha cabeça no gancho torto que se forma na ponta. Ele me tirou do vale
tenebroso e me levou para o alto. Ele nunca desistiu de mim. Bendito seja para
sempre meu Bom Pastor.
Envelheci.
Amadureci. Compreendi com meu limitado conhecimento humano que em nossas vidas
seremos sempre sujeitos aos perigos, aos sofrimentos, à dor, às perdas, só que
o Bom Pastor segue sempre junto de nós, está sempre presente nos verões
infestados de moscas que nos atormentam e nos outonos quando descansamos nas
sombras ao lado de fontes de águas puras. Ainda contemplo o mundo de prados e
campinas, ainda sou fascinada por ele, mas agora mantenho meus olhos fixos no meu
Pastor. Ele é o meu Senhor. Amém para sempre.
Fiz
este relato me baseando no livro “Nada me faltará”, presenteado por uma querida
amiga. O autor deste livro, Phillip Keller, criado na África Oriental, foi
durante oito anos um criador de ovelhas. Portanto, ele escreveu este livro como
alguém que conheceu pessoalmente todas as fases da vida de uma ovelha. Mais
tarde, como pastor leigo de uma igreja comunitária, ele ensinou as verdades
reveladas pelo salmo 23 ao seu “rebanho” de pessoas, com real conhecimento de
causa, estando apto a discorrer sobre as ressonâncias existentes entre a vida
de ovelhas conduzidas por um bom pastor e a vida cotidiana dos homens com Deus.
As
ovelhas são os animais mais indefesos que existem. Exigem atenções especiais e
cuidados meticulosos quase como os bebês. Um Bom Pastor vive para suas ovelhas.
O autor do livro comprovou ao viver vinte e quatro horas por dia cuidando de
seu rebanho. Não é por acaso que Jesus nos chamava de pequenino rebanho. O bom
Bom Pastor dá a vida por suas ovelhas.
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