sábado, 30 de novembro de 2019

SÃO FRANCISCO DO SUL A NOVA YORK




Meu marido me conta sempre sobre sua meninice e juventude em São Francisco do Sul (SC). Eu adoro ouvir suas histórias sobre os navios que lá aportavam, vindos da Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos. Os soldados americanos davam caixinhas de fósforos para a meninada, tudo escrito em inglês. Menino pobre como era, qualquer coisa dessas era um tesouro. Hoje São Francisco do Sul é um balneário de luxo, nossa meta de viagem qualquer dia por aí. Mas o assunto que quero mesmo falar é sobre como eram as coisas no passado e são agora.
O dia mais feliz para ele era o domingo pela ida ao cinema. Os filmes eram a suprema felicidade não só para ele como para a pequena população da cidade. Lá ele assistiu a muitos filmes americanos de mocinhos e bandidos. Torcendo feito um louco para os mocinhos, vibrava quando os bandidos eram então massacrados. Não sobrava um. Tudo certo até que um dia, diante de um espelho de uma barbearia ele descobriu que fisicamente ele estava muito mais para bandido do que para mocinho. Os bandidos eram os mexicanos, morenos, tez escura e os mocinhos eram os americanos loiros de olhos azuis. E em todos os filmes os americanos venciam. Quando ele enfim se identificou com os mexicanos, não torcia mais para os mocinhos loirinhos. Estava crescendo, aprendendo a pensar.
Mas ainda não cheguei onde quero chegar. Às vezes sou duramente criticada por ser prolixa, mas o preâmbulo é importante para compreender o contexto. Bem, o assunto da semana para todos era sobre o filme assistido. Na escola, nas brincadeiras. Mesmo os adultos passavam vários dias discutindo sobre o filme que havia passado. Passavam também os filmes bons, famosos. Enfim, o cinema era o ponto alto. Todos sabiam os nomes dos atores, ninguém ficava assim, ah aquele ator, daquele filme, como é que é o nome mesmo? Por que? Porque era apenas um filme por semana que viria a ser o tema das conversas dos habitantes. Havia tempo de sobra.
E hoje? É claro que com a modernidade, primeiro com os antigos aparelhos de vídeos cassetes, depois com a internet que colocou o mundo à disposição de todos os habitantes do planeta, temos milhares de filmes a qualquer dia, a qualquer hora. Nem sempre são bons, há dias que varro a TV e não encontro nada que preste, nem na Netflix, nem nos Telecines e HBOs  da vida. E quando topamos com os bons filmes, ficamos discutindo um ou outro apenas durante alguns minutos de algum dia. Nosso estoque de informações está sempre lotado, não há como pensar muito tempo sobre um enredo que tenha nos emocionado. Lá vem outro para nos distrair.
Existe sempre aquela pergunta para qualquer pessoa famosa ou não: livro, preferido, filme preferido, uma frase. No item filme preferido, fico com “Um sonho de liberdade”, não sou só eu, já sei que muitas pessoas também. Tá aí um filme que me emocionou muito mesmo. A tenacidade do espírito do Andy (Tim Robbins), a amizade do Ellis (Morgan Freeman), a delicadeza do velho Brooks ao cuidar do passarinho na gaiola, sua impossibilidade de conviver com a liberdade por ter passado a vida na prisão, quantos simbólicos, quantas metáforas, quanta sensibilidade. Ouvi que o produtor ficou anos sem produzir nada por não conseguir se refazer do impacto da beleza daquele filme.
Há filmes e filmes. Os de antigamente eram bons, alguns ótimos, os épicos, os filmes de guerra, mas em matéria de ação, ficção, os atuais são imbatíveis, seja pelos efeitos especiais só agora possíveis, seja pela trama inteligente. Assisti novamente Bonequinha de luxo há pouco tempo. Foi meu tesouro dos anos 60, no entanto agora achei de uma ingenuidade ímpar. Mas para a época era nosso sonho. Tenho vívida em minha mente a última cena do filme em que a Audrey Hepburn tem seu gatinho no colo debaixo de uma chuva sendo abraçada e beijada pelo George Peppard.
Hoje viajei bastante, desde São Francisco do Sul até Nova York dos anos 60. Agora se alguém pensa que tenho esses nomes de atores todos na memória, ledo engano. Olhei tudo no Google. Só guardo o Tim Robbins e o imortal Morgan Freeman. 
Mais um filme dos últimos tempos, que nem todo mundo gostou, mas eu amei: Her. Que sensibilidade! E as cartas que o Theodore (Joaquim Phoenix) escrevia. Nossa! Fala a verdade! Chega né gente?                      

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