sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

O ENCANTO DAS PEQUENAS COISAS



Por que será que as pequenas coisas sempre se revelam maiores do que as grandes? Isso me vem à mente sempre que, desanimada, me esquivo de lavar a louça do café como se fosse a cozinha lotada de louça suja do Palácio de Buckingham depois de um grande jantar para Chefes de Estado. E quando aqui em casa temos mais pessoas para um almoço e eu me deparo com o caos total de panelas e pratos, não quero que ninguém me ajude. Sou tomada por uma energia inexplicável, boto a mão na massa e logo tudo está organizado e limpinho. Mas o café da manhã? Fala a verdade, duas xícaras e pires, alguns pratinhos, copos, uma frigideira, algumas colheres, garfos e facas, farelos de pão, nossa! Quero chorar de preguiça!
Adoro essas contradições da vida.
Bem, é verdade que também tenho preguiça de arrumar a cozinha depois do almoço. Tenho que confessar que sou preguiçosa sim. Assumo. Contudo, já adotei um método muito eficaz para que toda a arrumação passe num piscar de olhos e exponho aqui meu segredo. Eu canto. Minha hora de lavar os pratos, panelas e tirar a gordura do  chão e do fogão é a hora de cantar e de oferecer. Isso de oferecer foi minha irmã que me lembrou, mas é verdade sim, coisa dos antigos que ensinavam: “oferece ... oferece a Deus qualquer mínimo sacrifício que seja”. Acho até pecado chamar de sacrifício arrumar a cozinha. Então, eu canto muito aquela música assim: “Hoje é tempo de louvar a Deus, em nós agora habita seu Espírito, então é só cantar e a Cristo exaltar e sua glória encherá este lugar, Glória a Deus, Glóoooria a Deeeeuus” ... Ou então simplesmente canto: “Cordeiro de Deus ...” Procuro imitar a voz belíssima de minha mãe ao cantar, sem êxito, evidentemente, mas canto.
Voltemos ao que eu disse sobre “qualquer mínimo sacrifício”. São as pequenas coisas, como dizia Santa Teresinha. Não são as grandes coisas e grandes atos que nos salvarão ou que nos farão felizes. São as pequenas, tão pequenas que ninguém nota e isso agrada a Deus.
Olhando por outro viés, temos que admitir que são as pequenas coisas que tanto destroem um casamento como o salvam. Não precisa ser uma traição, que para mim é coisa grave, mas os pequenos maus humores e maus odores. As coisas graves geralmente são mais facilmente perdoadas, já as pequenas vão se acumulando sorrateiramente e minando o relacionamento. Aquela mania que vai irritando, aquela cadeira sempre fora do lugar, a famosa pasta de dentes aberta. Por outro lado, as pequenas coisas também podem ser preciosas para o casamento. Quando eu disse, “bem, não vou mais ficar aqui depois do almoço conversando até você dormir porque a cozinha me espera”, ele me disse: “fica mais um tantinho porque são essas pequenas e pouquinhas coisas que fazem o amor.” Fiquei. Como não?
E por fim, não nos esqueçamos: os melhores perfumes vêm nos pequenos frascos.          

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