O
homem é um ser competitivo, disso não tenho a menor dúvida, a competição está
nas entranhas do ser humano. As pessoas competem entre si em todas as áreas,
principalmente na econômica, riqueza, bens materiais, também no sucesso
pessoal, vantagens sociais. A famosa “grama do vizinho” que é sempre mais verde
do que a nossa! Um amigo costumava dizer assim: é complicado, a gente vai,
trabalha e economiza e consegue comprar um carrinho novo e fica feliz da vida!
Acontece que o vizinho aparece com um carrão importado lindão! E aí? A gente
fica pensativo, não é?
Se a
pessoa não tem uma boa dose de nobreza e de generosidade, ela vai sofrer por
essas coisas. Aquela máxima de ser grato por tudo ainda é a melhor maneira de
viver, isso faz a alma crescer.
Bem,
sou uma contadora de casos, então vamos aos casos: Já faz tempo isso, encontrei
com uma conhecida que há muito tempo não via. Conversa vai, conversa vem, ela
me contou de uma viagem que havia feito percorrendo muitos lugares da Europa,
contando detalhes de cada lugar. Relatou também uma peregrinação que fez a Jerusalém
e outros lugares sagrados e tal e tal. E ela falava como se fosse o único ser
vivente que tivesse viajado. Eu ouvia tudo pacientemente com vontade de
interromper, mas fiquei firme. Até que ela perguntou assim: você não tem
vontade de viajar? Aí entrei: eu viajo, não tanto mais agora, mas já viajei. Aí
ela: mas Jerusalém você não conhece. Encerrei o papo dizendo: por um acaso
conheço sim.
Eu
poderia ter me calado, mas sou humana, cheia de defeitos, é sim, sou sim. Aí
foi que caí de boca na competição, agora era uma questão de honra. Perguntei a
ela: e Bruges, você conhece?
- Não!
- Não?
Perguntei sentindo em minha própria voz um tonzinho ou um tonzão de vitória, um
gostinho de prazer, ao que acrescentei: você não sabe o que está perdendo! Precisa
ir lá, é um espetáculo. Depois me arrependi. Que bobeira! Que pobreza! Fiquei
pensando em como Nossa Senhora reagiria, sempre penso nisso. Ela ficaria em
silêncio, deixaria a pessoa pensar que era a única a conhecer os lugares.
Grandes coisas, como costumávamos dizer antigamente. Oh meu Deus, já estou
velha, quando vou aprender essas coisas tão preciosas!
Enfim,
a concorrência é uma coisa tão cruel que pode chegar a um nível inacreditável.
Explico: eu e minha irmã voltando da Canção Nova demos carona para duas
senhoras. Logo percebemos que as duas estavam meio emburradas uma com a outra.
Foi quando começou o assunto de doença. Uma delas contou para nós que tinha uma
hérnia de estômago ou de esôfago imeeensa, fazendo questão de dar ênfase ao
“imensa”. A outra caiu na desgraça de dizer que também tinha e que a dela
também era grande. A primeira não gostou e disse que a sua hérnia era muito
maior que a da outra, que podia provar por exame e que o médico até havia lhe
dito que nunca em tempo algum tinha visto uma hérnia tão irrepreensivelmente gigantesca.
Falando daquela maneira, tão orgulhosa e com aquela retórica exemplar ao
esmiuçar os detalhes sórdidos de sua hérnia, confesso que faltou pouco para
ficarmos com vontade de ter uma hérnia tão top como a dela. Fala a verdade!
Fez-me
lembrar de quando eu era criança e morria de vontade de quebrar o braço para ir
de gesso à escola! Faz sentido. Mas gente, agora não somos mais crianças. São
Paulo diz: “Quando eu era criança falava como criança, pensava como criança,
raciocinava como criança. Desde que me tornei adulto, eliminei as coisas de
criança” (1 Coríntios, 13, 11)
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