Nestes
últimos tempos cada vez mais caóticos e catastróficos, a natureza se ressente e
faz acontecer transtornos e tragédias. As Cataratas de Iguaçu atestam o fato
exibindo um espetáculo dantesco, como nunca dantes visto. Coincidentemente, no
meio de todo este caos da natureza, tivemos uma enchente no décimo andar de meu
prédio. Explico: uma tubulação ou um cano do prédio que passa pelo apartamento
vizinho ao meu, rompeu-se provocando uma avalanche tsunâmica com uma quantidade
inimaginável de água que logo inundou todo o hall do nosso andar. A água chegou
a entrar aqui dentro como nos outros apartamentos. Foi então que nós vizinhos
nos unimos, como acontece em casos de calamidade, com rodos para empurrar a
água pelas escadas, porém os elevadores já estavam atingidos. Foram desligados
e ainda estão inoperantes. Conclusão: subindo e descendo dez andares. A idade
pesa, o corpo reclama, mas em tudo damos graças!
Bom,
mas o quero mesmo falar é do que resultou disso tudo. Hoje, dei mais uma
limpeza na soleira da minha porta e levei o tapetinho de borracha para lavar no
andar de cima. Levei, lavei e pendurei no varal. Vou entrando pela porta de
vidro quando estaco, petrificada: uma barata de proporções avantajadas segue na
minha frente, toda ela à vontade como se estivesse em sua casa. Como assim? Uma
barata nos tempos de hoje? Ainda existem baratas? Aqui não, depois de anos do
extermínio dó último espécime que vi. Com a tecnologia e a modernidade dos
aparatos, produtos de limpeza e tal, não vimos nem vemos mais baratas. Mas lá
estava ela. E era gigantesca.
Sem
ter ninguém a quem recorrer no momento, liguei meu modo selvagem de largada e
pelada na floresta como se topasse com um animal feroz. Virei bicho e parti pra
cima dela com a vassoura na mão. Indispensável dizer que gritos aterradores saíam
de dentro de mim, sem que eu pudesse controlá-los. Os golpes com a vassoura eram
uníssonos com os gritos. Ou seja, matar, eu mato, mas grito. A barata que
andava indolentemente, disparou a mil por hora, tentando se livrar da louca que
a perseguia, afinal, barata viva é sinal de grande perigo.
Agora
chega a parte do terror. Como apareceu a barata? De onde? Tudo limpinho, um céu
azul de morrer às sete horas da manhã! Isso é hora de barata? Deduzo: o
apartamento ao lado está vago há séculos, evidentemente sem limpeza, e aquela
água avassaladora deve ter trazido todos os insetos existentes para fora. A
baratona deve ter se alojado por baixo de meu tapetinho quando procurava
refúgio e lá sentiu-se salva. Em outras palavras, eu subi com a barata nos
braços, não propriamente na minha pele, no tapetinho. A bandida da barata que
sobrevive até às guerras e explosões nucleares, sobreviveu ao tsunami ocorrido
no meu hall. Não posso nem pensar que ela poderia ter passado do tapetinho para
meu corpo, isso é absolutamente repugnante e aterrador, como foi o filme alien
da década de noventa.
A
barata pode até desaparecer, mas o medo sempre ficará. Eu sobrevivi para
contar.
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