Mesmo que os tempos sejam outros, até
onde conheço as mulheres, sei que ainda querem se casar. Quase todas, pois isso
não tem nada a ver com a realização profissional. É da essência feminina, o
conto de fadas que quase todas, repito, gostariam de viver. Casar, isso mesmo,
no civil, de papel passado, e na igreja, principalmente. É verdade que nem
sempre por convicções religiosas e sim pelo conto de fadas mesmo, de entrar
linda na igreja, vestida de noiva, ao som de uma bela música, com buquê de
flores, véus, grinaldas e tudo que uma mulher tem direito. E por que não? É tão
delicado, tão bonito! Bom, já o casamento do dia a dia, aquele sem véu e
grinalda, com tanques de roupa para lavar, gordura na cozinha, isto lá é outra
questão. Mas deixa pra lá, estamos falando de sonhos, champanhe e bolo de
casamento, por enquanto.
Geralmente, as mulheres não se
preocupam muito em se casar enquanto ainda são jovens porque os jovens se
sentem eternos. Um dia, lá no futuro longínquo estão certas de que o príncipe
encantado chegará com sua carruagem e o sonho vai se concretizar. Só que o
tempo vai passando, elas vão se dedicando à profissão, vão curtindo as baladas,
e de repente vem um ligeiro pânico que se apresenta primeiramente como um pequeno
desconforto que tende a aumentar conforme o tempo vai passando. E aí as
exigências vão caindo, pode vir o primo do príncipe mesmo, ou o primo do primo
que ainda está bom. O pior é quando nem primo, nem amigo, nem ninguém aparece.
Acontece. Quando for o caso, existe a internet com seus interessantíssimos
sites de relacionamento. Puro preconceito bobo de quem se nega a aderir. Muita
mulher já conheceu seu príncipe por este caminho, inclusive a articulista que
escreve este artigo.
O grande problema virtual ou real
das mulheres que já dobraram o cabo da boa esperança é querer de fato um
príncipe dos tempos atuais, ou seja, aquele homem superperfeito: já um pouco
passado, tudo bem, mas com cara e corpo de vinte anos a menos, sem barriga,
malhado, com cabelos grisalhos bem tratados. Aquele homem que entenda de
vinhos, que já tenha viajado pelo planeta, que fale pelo menos três línguas,
que seja elegante para se vestir, para falar, para abrir a porta do carro. Um
homem superseguro, que seja bem humorado sempre, todos os dias e em todos os
momentos. Ah! E como é príncipe dos tempos atuais, ele não precisa vir de
carruagem, mas aquele carrão importado cairia super bem. E também que tenha um ótimo
emprego, um excelente salário. Enfim, um homem sem defeitos. Gente, este homem
não existe.
É
claro que estou exagerando para brincar, mas a situação não fica muito distante
disso. Há sempre uma idealização em torno da pessoa que sonhamos ter ao nosso
lado, mas a distância entre o ideal e o real é imensa. Nada como reconhecer que
também não somos princesas etéreas vivendo em inatingíveis torres de marfim. Ao
contrário, somos pessoas reais, com qualidades e defeitos. Só que é preciso ter
lucidez para reconhecer qual é o nosso real e encarar um relacionamento. Quem
sabe o príncipe vem disfarçado de sapo como nas histórias maravilhosas? É
buscar mais conteúdo e essência do que aparência. Nada é garantido, mas é bem
mais seguro.
Isso
me fez lembrar um fato da década de 70. Uma senhora muito simpática, já mais
velha, e casada com um dentista bem conceituado, o Dr.Torquato (faz de conta),
estava em um salão de beleza. Enquanto relaxava com creme no rosto e compressas
nos olhos, se divertia ouvindo as moças conversando nervosamente sobre
possíveis pretendentes. Ela se espantou com o nível de exigência da mulherada.
Era um tal de: “aquele, Deus me livre” ... “aquele outro, nem pensar”. Até que
ela não se aguentou, tirou as compressas e tomou a palavra: “Olha aqui, gente,
assim vocês ficarão sozinhas e bem que merecem. Abaixem o facho e aceitem um
homem de carne e osso. Não queiram um homem pra exibir pra as amigas, mas um
homem que seja um companheiro de verdade e construam sua felicidade. Deixe-me
fazer uma pergunta: alguém aqui se casaria com o Torquato?” Silêncio geral. E
ela, toda orgulhosa, disse: “Não, né? Pois eu casei”.
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