quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Alguém aqui se casaria com o Torquato?




            Mesmo que os tempos sejam outros, até onde conheço as mulheres, sei que ainda querem se casar. Quase todas, pois isso não tem nada a ver com a realização profissional. É da essência feminina, o conto de fadas que quase todas, repito, gostariam de viver. Casar, isso mesmo, no civil, de papel passado, e na igreja, principalmente. É verdade que nem sempre por convicções religiosas e sim pelo conto de fadas mesmo, de entrar linda na igreja, vestida de noiva, ao som de uma bela música, com buquê de flores, véus, grinaldas e tudo que uma mulher tem direito. E por que não? É tão delicado, tão bonito! Bom, já o casamento do dia a dia, aquele sem véu e grinalda, com tanques de roupa para lavar, gordura na cozinha, isto lá é outra questão. Mas deixa pra lá, estamos falando de sonhos, champanhe e bolo de casamento, por enquanto.
            Geralmente, as mulheres não se preocupam muito em se casar enquanto ainda são jovens porque os jovens se sentem eternos. Um dia, lá no futuro longínquo estão certas de que o príncipe encantado chegará com sua carruagem e o sonho vai se concretizar. Só que o tempo vai passando, elas vão se dedicando à profissão, vão curtindo as baladas, e de repente vem um ligeiro pânico que se apresenta primeiramente como um pequeno desconforto que tende a aumentar conforme o tempo vai passando. E aí as exigências vão caindo, pode vir o primo do príncipe mesmo, ou o primo do primo que ainda está bom. O pior é quando nem primo, nem amigo, nem ninguém aparece. Acontece. Quando for o caso, existe a internet com seus interessantíssimos sites de relacionamento. Puro preconceito bobo de quem se nega a aderir. Muita mulher já conheceu seu príncipe por este caminho, inclusive a articulista que escreve este artigo.
            O grande problema virtual ou real das mulheres que já dobraram o cabo da boa esperança é querer de fato um príncipe dos tempos atuais, ou seja, aquele homem superperfeito: já um pouco passado, tudo bem, mas com cara e corpo de vinte anos a menos, sem barriga, malhado, com cabelos grisalhos bem tratados. Aquele homem que entenda de vinhos, que já tenha viajado pelo planeta, que fale pelo menos três línguas, que seja elegante para se vestir, para falar, para abrir a porta do carro. Um homem superseguro, que seja bem humorado sempre, todos os dias e em todos os momentos. Ah! E como é príncipe dos tempos atuais, ele não precisa vir de carruagem, mas aquele carrão importado cairia super bem. E também que tenha um ótimo emprego, um excelente salário. Enfim, um homem sem defeitos. Gente, este homem não existe.
É claro que estou exagerando para brincar, mas a situação não fica muito distante disso. Há sempre uma idealização em torno da pessoa que sonhamos ter ao nosso lado, mas a distância entre o ideal e o real é imensa. Nada como reconhecer que também não somos princesas etéreas vivendo em inatingíveis torres de marfim. Ao contrário, somos pessoas reais, com qualidades e defeitos. Só que é preciso ter lucidez para reconhecer qual é o nosso real e encarar um relacionamento. Quem sabe o príncipe vem disfarçado de sapo como nas histórias maravilhosas? É buscar mais conteúdo e essência do que aparência. Nada é garantido, mas é bem mais seguro.
Isso me fez lembrar um fato da década de 70. Uma senhora muito simpática, já mais velha, e casada com um dentista bem conceituado, o Dr.Torquato (faz de conta), estava em um salão de beleza. Enquanto relaxava com creme no rosto e compressas nos olhos, se divertia ouvindo as moças conversando nervosamente sobre possíveis pretendentes. Ela se espantou com o nível de exigência da mulherada. Era um tal de: “aquele, Deus me livre” ... “aquele outro, nem pensar”. Até que ela não se aguentou, tirou as compressas e tomou a palavra: “Olha aqui, gente, assim vocês ficarão sozinhas e bem que merecem. Abaixem o facho e aceitem um homem de carne e osso. Não queiram um homem pra exibir pra as amigas, mas um homem que seja um companheiro de verdade e construam sua felicidade. Deixe-me fazer uma pergunta: alguém aqui se casaria com o Torquato?” Silêncio geral. E ela, toda orgulhosa, disse: “Não, né? Pois eu casei”.      

             

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