As expressões são francesas e de
Blaise Pascal, um gênio da matemática, inventor da máquina de calcular,
filósofo, e mais um tanto de coisas que só os gênios são capazes. De Pascal eu
só conhecia a frase “o coração tem razões que a própria razão desconhece”, mas
o “espírito de geometria” e o “espírito de gentileza” me conquistaram. Enfim, o
que seria isso? Como o próprio nome diz, espírito de geometria seria a razão
matemática, a razão exata, a de elementos invariantes, já o espírito de finura
ou de gentileza representa a razão cordial, a lógica de coração, de acordo com
Pascal. E o coração, este realmente tem razões que a própria razão não considera,
o coração é um estranho para a razão.
Colocando as coisas de outra maneira
poderíamos dizer que: espírito de gentileza é o perdão e o espírito de
geometria é a dureza de coração. O medicamento no hospital é o espírito de
geometria, e a visita de quem ora pelos doentes é o espírito de gentileza. Espírito
de geometria é o professor que não considera uma possibilidade diferente na
resposta do aluno, e o espírito de gentileza é o professor que resgata um aluno
perdido. Espírito de gentileza é a compreensão e espírito de geometria é o
julgamento. Espírito de gentileza é a compaixão e espírito de geometria é a
indiferença. Espírito de gentileza é a solidariedade e o espírito de geometria
é o egocentrismo. A ciência seria a geometria e a espiritualidade a gentileza.
Pascal dizia que essa contradição
era necessária para a nossa vida, e que mesmo ambas as razões, a exata,
calculada e a razão do coração são imprescindíveis. Elas se combateram, depois
marcharam juntas, e hoje se convergem na diversidade. Não é que o espírito de
geometria seja mau, ele é um lado objetivo que também faz falta, é necessário,
porém a humanidade dos dias atuais nunca precisou tanto do espírito de
gentileza. Hoje, mais do que nunca, urge o espírito de gentileza neste mundo
caótico em que estamos inseridos. No contexto atual dos atentados na França,
ouvi algumas opiniões de cientistas de relações internacionais. A maioria diz
que a guerra iminente é corretíssima, que não há possibilidade de diálogo com
terroristas, entretanto um dos cientistas políticos acredita na possibilidade
de negociação porque senão a guerra nunca terminará, será uma bola de neve
sangrenta. A possibilidade de negociação e diálogo seria o espírito de
gentileza, o que nunca vai ocorrer.
Bem, para ilustrar de forma prática:
no filme “O carteiro e o poeta”, tem uma cena em que o poeta, ateu convicto,
entra em uma igreja para se preparar para o batizado de seu afilhado, filho do
carteiro. Mesmo sendo ateu, o poeta demonstra um comovente espírito de
gentileza ao se ajoelhar e se persignar em respeito ao rito que assim
ensina.
Outro exemplo: conheci por acaso
aqui em Itajubá, Elika Takimoto, ganhadora do Prêmio Saraiva. Convidada para o
lançamento de seu livro "Minha Vida é um Blog Aberto", que, aliás, é o nome de seu Blog, cheguei lá meio constrangida porque estava sozinha. A
escritora veio ao meu encontro e durante todo o tempo fez-me sentir como se eu
fosse a dona da festa. Percebi logo que ela era possuidora de um sensibilíssimo
“esprit de finesse”.
E
para finalizar, numa noite dessas atrás, ao telefonar para minha prima, já de
noite, flagrei-a no caminho da casa de uma vizinha do bairro, no campo.
Disse-me ela que estava levando uma cordinha mais comprida para o cãozinho
doente que precisava ficar preso e ela ficara condoída ao ver que o bichinho
pouco podia se movimentar pela cordinha pequena no pescoço. Uma pessoa que se
presta a deixar o conforto de sua casa para dar mais alívio para um cãozinho
doente é outro exemplo brilhante do espírito de gentileza.
Bom,
gente, não sei se isso se aprende ou se é próprio da pessoa. Para mim é
qualidade, é virtude natural. Se forçado, deixa de ser virtude, percebem? É
como a humildade, quem pensa que é humilde, já não o é. Isto é um tesouro que
Deus talvez conceda a quem não pede honrarias nem dinheiro, mas apenas a
condição de poder chegar mais perto Dele para ser uma pessoa melhor.
Gostei da finesse
ResponderExcluirEu também, João da Cruz! Eu também!
Excluir