quinta-feira, 26 de maio de 2016

Festa de descasamento ?

                                                                       




            A carreira de promoter, coisa dos tempos modernos, pode incluir atualmente mais uma criatividade no ramo: festa de descasamento. A novidade veio de fora e parece que “está pegando” aqui no Brasil já há alguns anos, para a alegria dos promoters que assim podem alargar seu leque de atuação. A princípio, a idéia de fazer uma festa ao descasar-se pode parecer estranha e até inconsequente, porém urge explorar todos os ângulos da questão antes de tomar qualquer partido, esclarecendo que, partido aqui se refere à posição de contra ou a favor da festa de descasamento e não aquele partido de “bom partido” ou da pessoa casadoura, alvo dos longos suspiros apaixonados.
Nitzsche, o incomparável filósofo, além de outras tantas questões, abordou também a do casamento. Dizia ele que toda pessoa, ao pensar sobre a possibilidade de se casar deveria se perguntar se seria capaz de conversar com prazer com tal pessoa até sua velhice. O problema é que quando se faz essa pergunta, o casamento ainda não se realizou e evidentemente todos acham que seriam capazes de conversar eternamente com prazer com o (a) amado (a). E o negócio é o depois, o dia a dia, pois “no início, tudo são flores”, sabiamente repetia meu pai. Além disso, Nietzsche não se casou e disse isso numa época em que o descasamento era impensável e muito menos uma comemoração de tal evento.     
Casamento é coisa séria e festa de casamento, a deduzir pelo que quase sempre demonstra a euforia dos noivos, parece ser mais séria ainda do que a prática da união. A cerimônia e a festa! Ah, sim! Aquela parafernália que tem que ser planejada com pelo menos um ano de antecedência. A lista de convidados, os convites, o lugar onde será a cerimônia, o bolo com os noivinhos em cima, os docinhos, as lembrancinhas, o vestido de noiva, meu Deus, o vestido de noiva! com cauda ou sem, o banho de noiva, a maquiagem, o terno tipo “smoking”, o carro que leva a noiva, daminhas e pajens, as alianças na cestinha ricamente ornada com fitas de seda, os promoters entrando e saindo apressadamente da igreja, aquele nervosismo gostoso, as lágrimas de emoção, os convidados olhando para trás para ver a noiva fazendo sua entrada triunfal e teatral, a fila interminável de padrinhos e madrinhas e depois da cerimônia, o baile, aquele baile! E abre a carteira porque tudo custa muito caro!
 Aí, vem a lua de mel e, finalmente, o real da vida de casados, empreendimento que nem sempre acaba bem, ao contrário da festa planejada pelos promoters com todos os requintes possíveis e impossíveis de perfeição. No começo, os cônjuges se estranham um pouco, depois se estranham mais ainda, os gênios se revelam e se rebelam. Quando a relação começa a degringolar, não há promoter que resolva, só mesmo os consortes que pensavam estar preparados. Bom, preparado, preparado, ninguém está porque num casamento tudo é possível e nessa vida, não há garantias de nada. 
Há os que persistem, que conseguem, que contornam, que se perdoam e mesmo que se toleram. Mas também há os que são mais práticos, aqueles que ao invés de se lamentarem, arrastando-se numa relação impossível, enfrentam com coragem a possibilidade de recomeçar a vida. E há os mais afoitos, que encaram a vida como uma eterna festa e tudo é motivo para festejar, até uma separação. Então vem a outra festa, a do descasamento. Os mesmos promoters são contratados para o sucesso do evento que fazem “bombar”. Li em uma reportagem que fabricam até lembrancinhas como chaveirinhos, balões e bonequinhos de bolo de descasamento e a festa serve como pretexto para conhecer um novo amor. Como diz o povo: pode?

Afinal, casamento não tem receita para dar certo, é tão difícil que até dizem ser loteria. Mas uma coisa é certa: a festa de casamento quase sempre é uma ilusão e a festa de descasamento ... não digo que sim, nem digo que não, pode ser uma cruel, mas real libertação. Nunca saberemos se Nietzsche não se casou porque foi rejeitado pela Lou-Andreas Salomé (uma ensaísta e psicanalista que fascinou o filósofo) ou se, ao contrário de louco como se julgava, talvez tenha sido mais lúcido do que todos nós. 

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