Ontem
comprei uma bolsa. Não precisava, mas comprei. Ao entrar em casa com o pacote, senti
uma pontinha de arrependimento porque quebrei minha meta de não comprar nada
que não seja absolutamente necessário. Aliás, no momento não se trata de querer
ou não querer, mas de não poder. O orçamento está apertado, eu sei, mas sou
mulher, e por que diabos as bolsas e sapatos exercem tamanho fascínio sobre as
mulheres? Sucumbi, pronto. Amanhã começo meu dia com novas e boas intenções de
conter os gastos desnecessários. Se fosse um livro, eu me sentiria mais
consolada.
Enfim,
li um artigo sobre o livro “Prosperidade sem crescimento”, do britânico Tim
Jackson, lançado no Brasil em novembro de 2013. Em uma entrevista, o autor questionou
o crescimento econômico como sinal de prosperidade, argumentando que
prosperidade engloba muito mais do que comprar, acumular e descartar. Este
crescimento tão almejado principalmente pelos países em desenvolvimento é
calcado no modelo econômico ocidental baseado no famigerado consumismo. Segundo
Jackson, ser próspero não significa poder comprar coisas e mais coisas, mas
estar bem, e enfatiza que algumas vezes a expansão da economia pode enfraquecer
a prosperidade que queremos.
O
escritor também lembrou que em 2050 haverá 9 bilhões de pessoas na Terra, e
este modelo de crescimento econômico que foi considerado símbolo de progresso
do século passado tem contribuído cada vez mais para causar impacto no meio
ambiente. Para reverter este quadro e lutar por uma vida melhor, ele nos
convida para um desafio: fazer o caminho de volta, libertar-se dessa ideia
obsessiva de crescimento econômico, libertar-se da cultura do consumo que nos
foi praticamente imposta, subliminarmente, é verdade, mas foi, assim como uma
dose diária de veneno que somente a longo prazo revela seu nefasto resultado. Esta
cultura do consumo veio ao encontro do egoísmo inerente ao homem, de sua
necessidade de ter e exibir um status perante o grupo. Porém o próprio homem se
tornou um prisioneiro em sua “gaiola de ferro”, expressão usada por Jackson
para a dependência do consumo.
Frases
como “meu sonho de consumo” e “quem não deve não tem” são ditas
despudoradamente e servem como incentivo e desculpa para quem ainda traz certa
culpa ao comprar de forma impulsiva. De repente aprendemos a viver dependentes
de uma porção de coisas que na realidade não nos fazem falta. A cultura do
consumismo também gerou consequentes mudanças em outras áreas como empresas em
que os funcionários se digladiam por uma posição melhor e renda melhor porque é
preciso atender às novas necessidades modernas. Quem não ambiciona crescer na
empresa, não liga para chegar num carrão, ou ser um chefe, não é bem visto pelo
grupo ou então é visto como um fracassado ou um esquisito.
Comprar
foi a grande epidemia da segunda metade do século passado. Mas este fenômeno
trouxe angústia, ansiedade e muita depressão. Faltou um componente básico:
felicidade. E esta felicidade decididamente não está nas coisas que compramos. O
fato é que realmente as pessoas estão saturadas e querem fazer o caminho de
volta. Só que toda libertação custa muito caro, mas este é um preço possível e esta
libertação, necessária. Evidentemente que ter dinheiro é bom, o que não é bom é
viver em função dele e ser participante dessa economia de excessos. A escassez
é saudável, não se trata de privação, mas viver com menos, cultivar outros
prazeres que não comprar.
Jackson
lembra que curiosamente a palavra prosperidade vem do latim “prosperare”: “obter
o que se deseja, ter sucesso”, e o que é melhor - “prosperus”: “afortunado”,
palavra que é formada por “pro”: a favor, mais “spes”: esperança. Portanto, vamos
ser prósperos no sentido da esperança de poder desmantelar essa estratégia de
consumismo desenfreado e construir habilidades mais humanas para todos se
saírem bem na sociedade, fora da ideia de mercado. Afinal, o homem, além de
naturalmente egoísta, é também um altruísta em potencial e sempre capaz de
gestos extraordinariamente altruístas.
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